terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Denise Chiarato

FOLHA DE SÃO PAULO

O rap do Campo Limpo
SÃO PAULO - "Tem rato na área, mano, corra/ Perdão é coisa rara/ Mesmo estando na sua, não querem saber, então saia/ De uniforme cinza assassinos são os homens (...)/ Saiam da mira dos tiras/ São eles é quem forçam/ São eles quem atiram/ Reze pra sobreviver."
A letra do rap "Click Clack Bang" não é nova, tem ao menos dez anos, mas ganhou seus 15 segundos de fama depois do assassinato do DJ Lah, integrante do Conexão do Morro, em Campo Limpo, na zona sul.
O rapper foi morto na primeira chacina do ano na capital paulista. Ele estava em um bar quando um bando, em três carros, começou a atirar, deixando um saldo de sete homens mortos e outros dois feridos.
Quem o matou e por que são perguntas que a polícia ainda não respondeu. E pode ser que nem responda, já que, das 24 chacinas do ano passado, só uma foi esclarecida -justamente a cometida por PMs.
Assassinatos não são novidade para os moradores do Campo Limpo -o distrito é o terceiro mais violento de São Paulo, com 46 vítimas de homicídios registrados até novembro de 2012 (último dado oficial). Numa região tão violenta, a presença da polícia deveria ser uma exigência de quem mora ali -mas as letras do Conexão do Morro e as queixas dos moradores mostram o contrário.
"Nos bairros ricos, a polícia dá bom-dia, dá boa-tarde; aqui, ela mata", protesta Ferréz, um dos principais escritores da periferia paulistana, no enterro do amigo DJ Lah.
O flagrante de cinco policiais militares matando um suspeito já rendido e desarmado, na mesma rua em que o rapper e outros seis homens foram mortos, só reforça essa versão. Mas ignorar as críticas -mesmo que excessivas- dessa parcela da população não ajuda em nada.
É preciso que a polícia olhe para seu próprio umbigo e reveja sua conduta. O Campo Limpo merece uma polícia mais humana, que saiba diferenciar um criminoso de um cidadão comum.

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