segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Editoriais FolhaSP

FOLHA DE SÃO PAULO

Problema de saúde
Rede paulistana precisa ser aperfeiçoada para eliminar esperas intoleráveis no agendamento de exames, consultas e cirurgias
Dados obtidos por esta Folha, relativos aos serviços de saúde pública na cidade de São Paulo, detalham a situação de precariedade no atendimento à população.
Os registros mais recentes disponíveis, de outubro de 2012, mostram que havia, naquele mês, 660.840 pedidos de consultas, exames ou cirurgias na fila de espera.
Em alguns itens, a demora, mais do que exasperante, é intolerável, como na tentativa de realizar um eletroneuromiograma, exame para o diagnóstico de problemas nos nervos e músculos. O tempo de espera nesse caso chegava a inacreditáveis 35 meses.
Consultas na área de proctologia podiam levar 548 dias para serem realizadas; uma colonoscopia exigia até 312 dias de espera; e a fila para uma cirurgia do aparelho circulatório estendia-se por 103 dias.
Verdade que nem todos os tópicos tinham dificuldades tão dramáticas. O levantamento constatou que não havia espera em áreas importantes, como oncologia, pediatria, ginecologia e obstetrícia.
Além disso, houve progressos nos últimos cinco anos, quando se registrou crescimento de 600% no número de consultas, de 50,6% no de cirurgias e de 58% no de exames. De um modo geral, porém, o quadro é crítico e inspira cuidados.
É sintomático, quanto a isso, que o atendimento na rede de saúde tenha sido o principal problema apontado pelos paulistanos em pesquisa Datafolha de julho do ano passado -à frente de segurança e transporte.
Especialistas concordam que a demora no agendamento de consultas e exames esbarra em problemas como a carência de profissionais, falta de equipamentos nas áreas mais distantes do centro e ineficiências no agendamento.
Não por acaso, a saúde foi um dos principais temas da campanha eleitoral do prefeito Fernando Haddad (PT). Entre suas promessas, destacava-se a chamada Rede Hora Certa, que prevê a construção de equipamentos nas 31 subprefeituras, em condições de absorver parte da demanda por consultas, exames e cirurgias.
De acordo com o secretário José de Filippi Júnior, a novidade começará a ser implantada no próximo mês, mas ainda terá que se mostrar capaz de dar conta do desafio. A embalagem publicitária não será suficiente. É preciso aperfeiçoar o sistema, para eliminar ineficiências, reduzir filas e permitir a continuidade do tratamento dos que buscam diagnósticos nas diversas unidades municipais.
Por fim, é de lamentar que a prefeitura só tenha fornecido os dados sete meses após o primeiro pedido, quando o jornal decidiu recorrer às prerrogativas asseguradas pela Lei de Acesso à Informação.

EDITORIAIS
editoriais@uol.com.br
Cuba avança, devagar
Ao facilitar, na semana passada, a concessão de passaportes para cidadãos que queiram viajar para o exterior, o regime cubano deu mais um passo na sua tímida liberalização.
A ineficiência crônica do modelo socialista tornou-se patente para o próprio governo, sobretudo após o colapso da União Soviética, que financiava a ilha caribenha até 1991. O ditador Fidel Castro viu-se obrigado a reintroduzir uma incipiente economia de mercado sob forte tutela do Estado.
O ritmo das reformas tornou-se menos lento em 2008, quando a precária condição de saúde de Fidel resultou na transferência de poder ao ministro da Defesa, seu irmão Raúl Castro.
Para fazer frente à bancarrota, o governo passou a estimular pequenos negócios, elevou impostos e cortou funcionários -num país onde o Estado emprega 80% da força de trabalho.
O intento é repetir a proeza dos partidos comunistas da China e do Vietnã, que admitem formas limitadas de capitalismo sem abrir mão da ditadura. Um roteiro arriscado, como mostra o exemplo da própria União Soviética, que sucumbiu a pressões democráticas ao tentar implantá-lo.
O regime agora se sustenta na Venezuela de Hugo Chávez, que subsidia o petróleo consumido em Cuba e emprega 30 mil médicos cubanos. O futuro da ilha depende do amanhã também incerto da autocracia venezuelana.
Não será este, porém, o principal fator a moldá-lo, mas o comportamento da "diáspora cubana" -a próspera comunidade exilada. Enquanto Cuba tem 11,4 milhões de habitantes, 1,2 milhão de cubano-americanos vivem nos Estados Unidos, concentrados na Flórida, a 150 km da ilha.
Com a derrocada da produção do açúcar (outrora principal item na exportação; hoje é o níquel), as remessas dos exilados tornaram-se uma das maiores fontes de receita da economia depauperada. A concessão maciça de passaportes, ao preço de US$ 100 cada, será em grande parte financiada por eles.
Cuba tem recursos turísticos e promissoras reservas de petróleo. Apesar do descalabro econômico e da corrupção endêmica, seu maior ativo é a população, com o quarto índice de desenvolvimento humano na América Latina, depois de Chile, Argentina e Uruguai.
O melhor desfecho na transição seria que as pressões democráticas forçassem o regime a acelerar as reformas em curso e negociar a concessão de eleições livres, única forma de Cuba emergir da obsolescência e do isolamento.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário