quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

CIêNCIA » Polímeros para salvar vidas-Marcos Celestino

Laboratório da Coppe/UFRJ é pioneiro em encapsular nanopartículas com substâncias para combater a esquistossomose e desenvolve pesquisa para tratamento do câncer 

Marcos Celestino
Estado de Minas: 13/02/2013 04:00
Uma planta piloto de polímeros, pioneira na produção de nano e micropartículas que serão de grande utilidade nas áreas médica, farmacêutica e biotecnológica, já está em funcionamento no Brasil. O projeto é conduzido pela Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O laboratório desenvolve pesquisas para tratamento do câncer e um projeto de encapsulamento do praziquantel, medicamento que combate a esquistossomose, doença que acomete 200 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo 8 milhões no Brasil, onde crianças são as principais vítimas.

Orçado em R$ 11 milhões, o projeto tem financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Desenvolvido em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a planta de polímeros poderá produzir o praziquantel para uso pediátrico – esse trabalho tenta resolver a baixa adesão das crianças ao tratamento devido ao sabor amargo do medicamento e também à sua baixa solubilidade. De acordo com o professor José Carlos Pinto, coordenador do laboratório da Coppe/UFRJ, as pesquisas já se encontram em estágio avançado e o praziquantel poderá ir para o mercado em 2015. 

“O projeto está em uma fase avançada. Fizemos testes bem-sucedidos in vivo em animais de pequeno porte e agora entraremos na fase de testes em animais superiores para, posteriormente, começarmos a comprovação da eficácia do tratamento em seres humanos. A previsão é que o medicamento esteja pronto (para comercialização) a partir de 2015”, afirma. 

O vanguardismo brasileiro poderá render frutos para outros países que têm de conviver com a esquistossomose. O fármaco neste novo estágio (uma nanocápsula que se abre somente ao encontrar o local exato de ação, já na corrente sanguínea) poderá ser comercializado para outras nações. “Isto é uma questão de estratégia da Fiocruz/Farmanguinhos (parceira da Coppe no projeto), mas minha resposta seria que sim. Até porque esta é uma doença negligenciada, pois acomete países pobres e pesquisas são geralmente muito caras", destaca.

O professor também comentou sobre o êxito da planta piloto de polímeros e sua importância, por se tratar de um centro de excelência científica e tecnológica. “Este é o primeiro local do Brasil e, arrisco-me a dizer, um dos poucos no mundo que permitem a produção de material nanoencapsulado em grandes quantidades (até 200 kg/dia) e servirá de plataforma para o desenvolvimento de medicamentos e produtos. É um ambiente próprio e adequado para este tipo de atividade”, acrescenta o professor José Carlos. A técnica aplicada no praziquantel é o primeiro projeto do laboratório. Vale lembrar que na escala de unidades um nanômetro equivale a uma milionésima parte de um metro.  

OUTRAS PESQUISAS A planta piloto de polímeros tem outros projetos em andamento, como o que permitirá que protetores solares mais avançados sejam comercializados: nesse caso, as nanopartículas aprisionam o filtro solar encapsulado, fazendo com que ele aja por mais tempo na pele. 

A equipe da Coppe trabalha também no projeto de produzir micropartículas de polímero para tratar câncer por meio da técnica de embolização, que consiste na obstrução proposital de uma veia ou artéria específica por intermédio de agentes embólicos. A patente para essa tecnologia já foi requerida e equipe de pesquisadores vêm obtendo resultados positivos.

Minas produz radiofármacos 
Publicação: 13/02/2013 04:00



Em Minas Gerais, um instituto de destaque na área farmacêutica de vanguarda é o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), localizado no câmpus da universidade federal (UFMG) e que completou 60 anos no ano passado. Ali, um grupo de pesquisadores encontra-se focado na produção do radiofármaco FDG (fludesoxiglicose), na Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos (UPPR). O FDG auxilia na realização de exames de tomografia por emissão de pósitrons, antipartículas dos elétrons. 

Para produzir o FDG, que ajuda a diagnosticar o câncer, doenças cardíacas e até mesmo distúrbios neurológicos, a UPPR precisou de instalações preparadas para pesquisa e desenvolvimento de radiofármacos. Para isso, dispõe de dois sintetizadores de fludesoxiglicose Tracerlab MX, que otimizam a produção. Os frascos-ampola do produto são envasados por intermédio de moderno sistema automatizado. De acordo com Eduardo Valente, tecnologista sênior da Comissão Nacional de Energia Nuclear, os sintetizadores adquiridos em 2006 ainda se equiparam ao que há de melhor no mercado. "Eles eram de última geração quando foram comprados. Hoje existem equipamentos mais modernos, de última geração, mas nem por isso melhores que o Tracerlab MX. Apenas têm características diferentes que aumentam um pouco a velocidade de síntese da FDG e têm maior praticidade de uso”, explica. 

Apesar da importância desse radiofármaco para pacientes em tratamento, Valente admite que a capacidade de produção se encontra muito abaixo do potencial: são 10 doses por dia. “A produção de FDG pela UPPR está, hoje, muito abaixo da sua capacidade porque os centros de medicina nuclear e diagnóstico por imagem de Belo Horizonte não têm um equipamento específico, o tomógrafo tipo PET. Apenas dois locais na capital mineira têm o PET. Essa máquina aceleraria a produção”, acrescenta. 

Outras pesquisas desenvolvidas na UPPR/CDTN envolvem a fluorocolina, que auxilia no diagnóstico do câncer de próstata, por exemplo, e os  radiofármacos com carbono-11. 

“O CDTN está pesquisando métodos de produção da fluorocolina e atualmente desenvolve testes pré-clínicos desse radiofármaco para cumprimento das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É um trabalho que está bastante adiantado. Também pesquismos métodos de produção da fluorotimidina e de radiofármacos marcados com carbono-11, como a metionina e 11 C-Colina”, comenta Valente.

Para as pesquisas com carbono-11 o CDTN adquiriu, por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular (INCT), um sintetizador específico para marcação de compostos com esse radioisótopo, o TracerLab Fx-C Pro. A UPPR é pioneira no Brasil na produção de radiofármacos marcados com carbono-11, que servem especialmente para identificar e tratar o mal de Alzheimer e alguns tipos de câncer.

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