quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Parceiros de Chico Buarque, Francis Hime e Guinga lançam CD juntos

folha de são paulo

CAROS AMIGOS
LUCAS NOBILEENVIADO ESPECIAL AO RIOUma parceria pode levar tempo para sair do papel. Às vezes, quase 40 anos, como é o caso da de Francis Hime, 73, com Guinga, 62, que lançam na próxima segunda-feira o disco "Francis e Guinga" em show no Theatro Net Rio.
O álbum, que reúne temas já gravados e inéditas, será apresentado em São Paulo ainda no primeiro semestre.
Foi no fim de 1975 que os dois se conheceram.
Guinga foi convidado de última hora por seu parceiro Paulo César Pinheiro para gravar violão na valsa "Ai Quem Me Dera", composta por Vinicius de Moraes para o disco "O Canto das Três Raças", de Clara Nunes.
"Eu nunca li cifra. O Francis, que cuidava dos arranjos, me chamou num canto e me passou os acordes. Nós nos encontramos ali, mas eu já conhecia a obra dele de antes", lembra Guinga.
"De antes", entenda-se 1964, quando Hime lançou seu primeiro disco, "Os Seis em Ponto". O álbum traz parceria com Vinicius de Moraes em "Sem Mais Adeus". Foi o atestado de que deveria largar a carreira de engenheiro.
O tempo passou e ambos se estabeleceram como dois dos principais compositores da música popular brasileira.
Hime lançou mais de 20 discos, fez arranjos para nomes consagrados e compôs com Chico Buarque, Ruy Guerra, Paulo César Pinheiro e Edu Lobo, entre outros.
Já Guinga teve como principais parceiros Paulo César Pinheiro e Aldir Blanc. Seus temas foram gravados por gente como Elis Regina, Cauby Peixoto, MPB4, Leila Pinheiro. Compôs, ainda, uma canção com Chico Buarque: "Você, Você".
"Essa música entraria no disco, mas ficou de fora. Precisaríamos de um álbum duplo", conta Hime. "O Chico podia ficar com inveja, achar que eu estava roubando o parceiro dele", brinca Guinga.
EMENDAS
O repertório de "Francis e Guinga" traz interpretações apenas dos dois, sem banda.
Na lista, "Mar de Maracanã" (Guinga e Edu Kneip), "Saudade de Amar" (Francis e Vinicius) e as inéditas "A Ver Navios" (Guinga, Francis e Olivia Hime) e "Doentia" (dos dois com Thiago Amud).
"No 'Bem Amigos', Francis e Olivia tocaram 'Saudade de Amar', que eu não conhecia. Passei a madrugada ouvindo a música", diz Guinga. "'Mar de Maracanã' não ficou atrás. Não tirei a faixa da vitrola", conta Hime.
No restante do álbum é que aparece o diferencial: músicas em dupla, uma de cada compositor, emendadas.
Nessa linha estão os pares "Cambono" (inédita de Guinga com Amud) e "Anoiteceu" (Francis e Vinicius), "Nem Mais um Pio" (Guinga e Sérgio Natureza) e "Passaredo" (Francis e Chico), "A Noiva da Cidade" (Francis e Chico) e "Senhorinha" (Guinga e Paulo César Pinheiro).
Ainda há espaço para "Saci" (Guinga e Pinheiro) e "Parintintim" (Francis e Olivia), "Porto de Araújo" (Guinga e Pinheiro) e "Desacalanto" (Francis e Olivia) e "Noturna" (Guinga e Pinheiro) e "Minha" (Francis e Ruy Guerra).
"As emendas foram feitas pelo Francis. Ele é o rei das introduções. Para mim, a introdução de 'Passaredo' é a mais bonita da música brasileira", diz Guinga.

    Hime faz concertos e ópera; Guinga terá inéditas lançadas
    DO ENVIADO AO RIOSe o projeto de gravar um disco em dupla surgiu sem muito planejamento -Guinga e Francis Hime acertaram os ponteiros dentro de um ônibus no aeroporto-, os trabalhos individuais dos compositores são mais programados.
    Depois do show da próxima segunda, Hime segue com sua mulher, Olivia, para a Europa, onde farão 12 apresentações de "Almamúsica", seu álbum mais recente.
    Além deste espetáculo, não faltam projetos para o pianista. Hime ainda aguarda patrocínio para lançar uma ópera que fez tendo o futebol como enredo, e planeja um show e um disco em homenagem ao centenário de Vinicius de Moraes.
    Nas incursões pela música erudita, ele terá seu "Concerto para Violino e Orquestra" interpretado pela Osesp no fim do ano, com Cláudio Cruz como solista e regência de Isaac Karabtchevsky.
    Finalizou um "Concerto para Harpa e Orquestra", ainda sem prazo de estreia, com Cristina Braga como solista.
    "Também vou escrever um concerto para clarinete e orquestra, para o Cristiano Alves tocar", diz Hime.
    Já Guinga, que em 2012 lançou disco com o Quinteto Villa-Lobos interpretando sua obra, seguirá fazendo shows no Brasil e no exterior, além de ter como principal projeto gravar um álbum só de voz e violão.
    "Preciso gravar um disco sozinho, para a música ir do jeito que foi feita, a palo seco, nua a crua."
    Ele ainda terá um disco com temas inéditos seus em parceria com Paulo César Pinheiro gravados por Mônica Salmaso, com previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano.


      RAIO-X - FRANCIS HIME
      VIDA
      Nasceu em 31.ago.1939, no Rio. Estudou piano desde os seis anos. Formou-se em engenharia, mas abandonou a carreira ao compor com Vinicius de Moraes
      CARREIRA
      Além de parceiro de Vinicius, Chico e Edu Lobo, entre outros, é arranjador e autor de trilhas para filmes, como "A Estrela Sobe" (1974) e "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976)


      RAIO-X - GUINGA
      VIDA
      Carlos Althier de Souza Lemos Escobar nasceu em 10.jun.1950, no Rio. Autodidata do violão, formou-se em odontologia e trabalhou como dentista até os anos 1990
      CARREIRA
      Parceiro de Chico Buarque, Paulo César Pinheiro e Aldir Blanc, teve músicas gravadas por Elis Regina, Cauby Peixoto, MPB4, Leila Pinheiro e Lenine.


      CRÍTICA / MPB
      Disco dá vontade de garimpar suas músicas na voz de outros cantores
      THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"A primeira coisa que pode ser dita sobre o encontro musical de Francis Hime e Guinga é que demorou. Dois compositores com tantas afinidades poderiam ter encarado projeto conjunto há tempos.
      Gravado em atitude despojada, só os dois com suas vozes, o piano de um e o violão do outro, "Francis e Guinga" acaba expondo qualidades e escancarando deslizes.
      Nada a dizer do repertório. Talvez alguns torçam o nariz à ideia de gravar, na maioria das faixas, as canções em pares. Uma de Hime e outra de Guinga, unidas por trechos instrumentais. Às vezes funciona; às vezes, nem tanto.
      Das três inéditas, a que mais instiga é "A Ver Navios", parceria dos dois com letra de Olivia Hime. "Cambono" e "Doentia", as outras novas, são bonitas, mas sem chance de figurar em antologias.
      Há passagens lindas de letra e harmonia aqui e ali. Afinal, as parcerias são superlativas: Chico Buarque, Vinicius, Paulo César Pinheiro...
      Mas tudo fica comprometido pelos vocais. Este mesmo disco, com bons cantores convidados, seria mais agradável. A audição do álbum, a partir da quarta ou quinta música, passa a exigir bastante do ouvinte.
      São compositores que não têm voz para as canções nada simplórias que criam. "Francis e Guinga" dá vontade de garimpar suas belas músicas em CDs de outros intérpretes.

        Nenhum comentário:

        Postar um comentário