domingo, 10 de março de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

O limite dos bancos
O governo federal teve algum êxito na campanha de redução das taxas de juros, iniciada em abril do ano passado. Sucesso parcial, pois tal diminuição deveu-se na maior parte à queda da taxa básica, a Selic, providência adotada por um Banco Central em tese autônomo.
Levando em conta o panorama geral dos empréstimos do setor financeiro e a situação econômica, o sucesso é algo mais controverso.
A campanha federal começou com a redução dos juros nos bancos públicos, por orientação do governo Dilma Rousseff. Os privados reagiram apenas timidamente.
Também foi acanhada a concessão de novos empréstimos, devido à persistente inadimplência e ao receio de baixo crescimento. Os bancos privados preferiram manter excesso de dinheiro em caixa e emprestá-lo a curto prazo ao governo, a juros menores que os cobrados da clientela. Devido à queda da Selic, à pressão da concorrência e ao caixa ampliado, viram sua margem de lucro diminuir.
A expansão dos empréstimos no ano passado ficou a cargo das instituições estatais, que responderam por cerca de 75% do aumento do crédito. Tal incremento só foi possível porque o governo federal endividou-se e injetou mais capital nos bancos públicos, como tem feito desde 2008.
Em setembro daquele ano, início da grande crise mundial, a participação estatal no mercado bancário era de 34%. Em janeiro de 2012, de 43%. Neste janeiro, subiu a 48%.
O resultado financeiro dos bancos públicos tem sido bom: lucros maiores, inadimplência baixa. É provável que, sem a expansão do crédito das instituições estatais, o crescimento econômico tivesse sido ainda menor.
Pode-se, no entanto, fazer juízo diverso. Os bancos públicos chegaram ao limite da expansão e da redução de juros; cresceram porque contaram com capital barato oferecido pelo governo, ao custo de endividamento caro para o Tesouro.
O ativismo estatal contribuiu de modo limitado para um crescimento insustentável, pois a inflação cresce, os juros de mercado começaram a subir e tudo indica que a Selic logo será elevada.
O governo Dilma Rousseff imitou uma solução da era Lula, aquela com o objetivo de evitar um colapso econômico em 2008 no Brasil, sob risco de ser engolfado pela crise mundial.
A solução de emergência, porém, não dá conta dos desequilíbrios e das ineficiências estruturais da economia brasileira. O governo venceu uma batalha de pouca importância para a guerra do crescimento duradouro.

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    Torcida e segredos
    Interesse pelo conclave é amplo na sociedade, mas, enquanto imprensa procura dar publicidade, Igreja Católica preserva mistérios
    A eleição de um novo papa tem o poder de excitar, num grau equiparável a poucos outros assuntos, as conhecidas inclinações da imprensa para o incômodo, a impertinência e -a palavra cabe bem nesse contexto- a dessacralização.
    É natural que, em alguns círculos católicos, sejam perturbadoras as especulações em torno dos interesses políticos e materiais envolvidos em qualquer conclave.
    Segundo a doutrina, espera-se que os cardeais recebam o influxo do Espírito Santo no momento da eleição. Quanto aos jornalistas, representando como nunca aquele "mundo desencantado" de que falava o sociólogo Max Weber, está em jogo exercer ao máximo uma das características mais próprias de sua vocação -o ceticismo.
    Uma palavra merece ser dita sobre a questão da irreverência e da agressividade. O conservadorismo de Bento 16 na questão dos costumes sexuais pode ser visto, sem dúvida, como intromissão indevida na intimidade das pessoas.
    Seria fácil dizer que o papa se dirige apenas aos católicos e que sua mensagem não tem por que ser aceita pelos que não lhe devem obediência. É inequívoco, porém, que os ensinamentos da igreja influem no conjunto da sociedade -já bastante propensa, vale lembrar, a atitudes de homofobia, por exemplo.
    Nesse contexto, faz sentido que, num país como o Brasil, todos se envolvam, até com uma atitude de torcida, na sucessão do papa. Religiosos ou não, poucos escapam à influência difusa do catolicismo -como se o sucessor de Bento 16 fosse uma espécie de presidente espiritual do mundo, cujas convicções cada um gostaria de ver mais próximas das suas.
    Se tal atitude parece disseminada, o comportamento da imprensa segue outras vias. A busca de motivações ocultas no interior da igreja tende a ser proporcional à falta de transparência da instituição.
    O relatório encomendado por Bento 16 sobre os Vatileaks não é distribuído na íntegra nem mesmo aos participantes do conclave, que tem início depois de amanhã. Tanto segredo contradiz os esforços das autoridades eclesiásticas para minimizar sua importância.
    Embora não haja motivos para duvidar das explicações dadas pelo papa sobre sua renúncia -cansaço físico e mental-, o fato é que, se existissem outras razões para sua atitude, não seriam diferentes as breves frases que pronunciou.
    O mistério -palavra carregada de conotações positivas no catolicismo- é o oposto do apreço da imprensa pela publicidade e pela transparência, essenciais ao debate e à saúde das instituições. A contradição, ainda que não precise levar ao desrespeito, é indeclinável.

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