quarta-feira, 17 de abril de 2013

Editoriais Folha de São Paulo

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A ameaça do terror
Apesar das dúvidas quanto à autoria, ainda nebulosa, atentado na maratona de Boston lança alerta para Copa e Olimpíada no Brasil
O atentado que matou três pessoas e deixou mais de 170 feridos em Boston reaviva nos países ocidentais os temores com ações hediondas de terrorismo. Mesmo sem saber quem tenha sido o autor das explosões, tais atos atingem pessoas de maneira aleatória e covarde, espalhando medo e insegurança.
Na ausência de indícios mais claros ou de alguma organização que tenha reivindicado o ataque, as autoridades dos EUA, a começar pelo presidente Barack Obama, têm sido cautelosas em seus primeiros pronunciamentos. Será preciso aguardar as investigações para determinar se o ataque foi urdido por organizações estrangeiras ou domésticas --ou por um indivíduo isolado, como, aliás, já ocorreu.
Trata-se, não obstante, do mais grave atentado em solo norte-americano desde o 11 de Setembro. Naquele dia de 2001, extremistas muçulmanos ligados à Al Qaeda destruíram as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e levaram o então presidente George W. Bush a declarar guerra ao terror.
A partir daquele momento, as ações norte-americanas, embora justificáveis em muitos aspectos, revelaram-se desastrosas em outros, como na invasão do Iraque, sob a alegação de que o ditador Saddam Hussein armazenava artefatos de destruição em massa. "Pacificado", aquele país convive hoje com ataques terroristas em série.
Saddam foi julgado e enforcado em 2006. Em maio de 2011, Obama anunciou a morte de Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, o que suscitou promessas de vingança. Não há nenhum indício, porém, de que o ato em Boston tenha partido de célula internacional de terrorismo.
A escolha da maratona para palco de um atentado reativa a memória de outras ocasiões em que disputas esportivas foram manchadas pela violência.
Em 1972, na Olimpíada de Munique, a delegação de Israel foi alvo de um sangrento ataque da organização terrorista palestina Setembro Negro. Em 1996, nos Jogos de Atlanta, foi a vez de um fanático norte-americano detonar o artefato que matou uma pessoa e feriu outras 111.
Para o Brasil, independentemente das especulações acerca da autoria do ataque, o alerta está lançado. Sede da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, o país precisa redobrar esforços para garantir que essas duas competições transcorram em ambiente seguro.
Natural que o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, se apresse em declarar que o governo toma as providências necessárias. Por mais que o país não seja alvo preferencial de atentados, são eventos que obtêm grande atenção midiática --um dos requisitos para atrair a sordidez do terror.

    EDITORIAIS
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    Contas frouxas
    Se ainda gozava de alguma credibilidade, a política nacional de controle de gastos sofreu um novo abalo com a decisão de afrouxar mais as já cambaleantes metas de superavit primário (saldo de receitas e despesas públicas antes dos dispêndios com juros da dívida).
    A novidade libera o governo federal da obrigação de compensar com recursos próprios o que Estados e municípios deixarem de poupar. A meta para 2014 continua em R$ 167,4 bilhões (3,1% do PIB), mas o Planalto pode agora optar por não compensar os R$ 51 bilhões de saldo que deveriam vir de outros níveis de governo.
    Como também será facultativo deduzir R$ 67 bilhões em investimentos do PAC e em desonerações tributárias, o abatimento pode chegar a R$ 118 bilhões. Ou seja, 70% da meta pode desmanchar-se no ar.
    Na prática, o governo admite fazer um superavit primário inferior a 1% do PIB, mas sem deixar de cumprir o objetivo fixado na lei orçamentária. De afrouxamento em afrouxamento, perde tração na máquina estatal o impulso de austeridade simbolizado pela meta rigorosa, neste ano e no próximo.
    Isso é péssimo, por duas razões principais. A primeira é o nexo claro entre relaxamento fiscal e inflação no Brasil. Quanto maior é o gasto público, maior é a demanda por produtos e serviços. Como a oferta não cresce no mesmo ritmo, o resultado é elevação de preços.
    Em estudo recente, o Banco Central concluiu que nos últimos cinco anos a contenção orçamentária ajudou no controle da inflação só em 2011. Nos outros, o governo federal foi neutro ou jogou contra, adicionando demanda à economia já aquecida e com dificuldades para aumentar o investimento.
    A segunda razão está no equilíbrio das contas do Estado. É enganosa a justificativa do Planalto de que apenas pratica uma política anticíclica (permitir aumento de gastos, temporariamente, para contrabalançar o PIB fraco).
    Há risco de que a anemia econômica se revele persistente, o que já dura três anos. Se a receita de impostos não acompanhar os gastos crescentes, as contas oficiais enfrentarão desequilíbrio estrutural.
    Em outros termos, se de fato o saldo primário ficar em torno de 1% do PIB em 2013 e 2014, é provável que a dívida pública volte a subir --o que seria uma reviravolta no padrão dos últimos dez anos.
    O caminho do afrouxamento, assim, leva a presidente Dilma Rousseff a abandonar a âncora de uma relação dívida/PIB em nível baixo, que ainda autorizava a confiança de que o Brasil não venha a repetir tantos erros do passado.

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