quarta-feira, 17 de abril de 2013

O último romântico

folha de são paulo

Burt Bacharach faz show de duas horas em SP neste sábado; desafio é resumir 56 anos de sucessos
THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"Quando alguém pergunta a Burt Bacharach, 84, qual é sua ocupação, o músico americano diz, simplesmente: "Escrevo canções de amor".
E continua escrevendo.
Está terminando um musical a quatro mãos, com o roqueiro Elvis Costello.
"Não penso em parar", diz Bacharach à Folha, numa entrevista por telefone concedida em um dia de gripe forte, em que interrompe a conversa várias vezes, com tosse.
"Eu estarei bem no Brasil, garanto. Adoro o país", complementa, referindo-se aos dois shows que vai apresenta nesta semana: amanhã, no Rio, e sábado, em São Paulo, com ingressos quase esgotados. Em seguida, mostrando sua disposição, ele segue em turnê pela Europa.
Com uma pequena orquestra e três vocalistas,o músico não conseguirá fugir, mais uma vez, de hits adorados por várias gerações desde 1957. Principalmente por quem ia aos cinemas nas décadas de 1960 e 1970, quando uma trilha sonora assinada por Burt Bacharach valia ouro.
Ele reconhece a força de seus sucessos. "Sinto que não tenho o direito de fazer shows sem algumas canções que as pessoas sempre esperam."
A lista é imensa, mas talvez "Raindrops Keep Fallin' on My Head" e "I Say a Little Prayer" sejam as mais queridas, especialmente entre seus fãs brasileiros.
"Mostro os maiores sucessos, mas faço um show longo [cerca de duas horas] e coloco músicas mais recentes que são minhas favoritas", diz.
Entre elas estão as que gravou com Ron Isley em 2003. Ele diz adorar seu álbum com o cantor do Isley Brothers.
O maestro, cantor e compositor já visitou o Brasil várias vezes. A última foi em 2009. A primeira, no entanto, tem uma história curiosa.
Em 1959, aos 31 anos, ele tocou no Copacabana Palace, no Rio. Na época, ele era diretor musical da turnê da diva alemã Marlene Dietrich.
Sua primeira apresentação no país pode ser conferida no CD "Dietrich in Rio", de 1959, à venda em lojas on-line. Ele fez arranjos, regeu a orquestra e até sentou ao piano em alguns momentos do show.

    Maestro exalta o parceiro e a grande musa
    Burt Bacharach e o letrista Hal David escreveram 31 singles de sucesso gravados pela cantora Dionne Warwick
    Compositor diz que já escreveu canções em congestionamentos e que escuta todos os gêneros, até hip-hop
    DO EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
    Brill Building é um prédio em Nova York que, ao longo das últimas décadas, abrigou escritórios de compositores, gravadoras, agentes e produtores musicais. Foi lá, na década de 1950, que Burt Bacharach conheceu Hal David.
    "Todo mundo tem encontros marcantes, que mudam sua vida para sempre. Eu e Hal tivemos um desses", conta Bacharach, com voz pausada. David (1921-2012) escreveu a letra de dezenas de músicas da dupla.
    Nascido em Kansas City, Missouri, em 1928, e criado em Nova York, Bacharach foi para a Califórnia estudar música. De volta a Manhattan, começou a trabalhar em estúdios e a acompanhar turnês até encontrar David e passar a compor regularmente.
    Bacharach e seu parceiro criaram 48 canções que entraram na lista dos dez singles mais vendidos nos Estados Unidos. De suas mais de 500 composições, 73 figuram entre as 40 mais vendidas, um recorde absoluto.
    É fácil escrever uma canção? "Leva muito tempo e demanda conhecimento técnico, mas a inspiração conta, e chega a você de diferentes maneiras. Já criei linhas melódicas assobiando no meu carro, no meio de um congestionamento demorado."
    Bacharach não concorda quando alguém se refere a ele como um homem que compõe canções para cantoras. "É uma impressão que as pessoas têm por causa de nosso trabalho com Dionne Warwick. Eu e Hal escrevemos mais de 20 músicas que ela lançou com sucesso." Na verdade, Warwick gravou 31 singles com músicas da dupla.
    O primeiro foi "Don't Make Me Over", em 1962. É possível montar um "greatest hits" de Bacharach apenas na voz dela. Entrariam nessa lista, entre outras, "Anyone Who Had a Heart", "(They Long to Be) Close to You", "Walk on By", "(There's) Always Something There to Remind Me" e "I Say a Little Prayer".
    Bacharach elogia as várias cantoras com quem trabalhou, além da musa Dionne, como Dusty Springfield, Karen Carpenter, Anne Murray e Petula Clark. Mas faz questão de lembrar os cantores que gravaram canções suas.
    "Grandes vozes! Tom Jones, Johnny Mathis, Neil Diamond, Ron Isley e, claro, B.J. Thomas", elenca o compositor. Thomas gravou "Raindrops Keep Fallin' on My Head", tema do filme "Butch Cassidy & The Sundance Kid", que deu a Bacharach um de seus três Oscar.
    As trilhas sonoras foram praticamente um feudo de Bacharach. Emplacou sucessos seguidos, de "What's New Pussycat?" (1965), com Tom Jones, a "Arthur" (1981), com Christopher Cross.
    Elvis Costello, seu parceiro mais frequente de composições nos últimos anos, abriu a cabeça de Bacharach para novos gêneros. O maestro diz que escuta discos de hip-hop --trabalhou recentemente com o rapper Dr. Dre.
    Bacharach lança em maio a autobiografia, "Anyone Who Had a Heart", contando inclusive do casamento com a atriz Angie Dickinson nos anos 1960, quando eram um tipo de Brad & Angelina.
    Burt Bacharach no Brasil é chance rara de ver boa parte da história da música pop em uma noite.

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