terça-feira, 2 de abril de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

Persistir na lei seca
Traz alento a notícia de que, durante o feriado de Páscoa, houve um número menor de acidentes e de mortes nas rodovias estaduais paulistas em comparação com o mesmo período de 2012. O fenômeno parece confirmar o impacto positivo das novas diretrizes da chamada lei seca.
De quinta-feira a domingo, foram 867 acidentes nas estradas do Estado de São Paulo, 16% a menos do que no ano passado. O total de mortos nessas ocorrências diminuiu quase 50% (22 mortes, agora, contra 42 em 2012), e o de feridos caiu de 569 para 454.
Os números desse feriado não são um caso isolado. No Carnaval também houve redução de mortes (12,9%), de acidentes (41,5%) e de feridos (58,7%) em São Paulo. Além disso, o Estado obteve melhoras nas estatísticas fúnebres do primeiro bimestre deste ano: os acidentes que resultaram em mortes caíram 19% no período.
Embora seja cedo para tirar conclusões definitivas, as informações disponíveis sugerem uma tendência clara de queda nos acidentes de trânsito. É difícil imaginar que a lei seca não seja um dos fatores por trás dessa boa-nova.
Implantada em 2008, a legislação que proíbe a ingestão de álcool pelos motoristas tornou-se mais rigorosa nos últimos meses.
Em dezembro, foi autorizado o uso de qualquer meio de prova para atestar a embriaguez do motorista -testemunhos de policiais e exames clínicos, por exemplo, passaram a ser aceitos (antes só valiam o bafômetro e o exame de sangue). Ao lado dessa medida, o valor da multa subiu de R$ 957,70 para R$ 1.915,40 e, em janeiro, foi reduzida drasticamente a margem de tolerância para ingestão de álcool.
Ressalva feita ao caráter draconiano da lei -dirigir embriagado pode resultar em prisão, quando tal providência deveria ser reservada para acidentes com vítimas-, deve-se apoiar a firmeza na sua aplicação. Especialistas estimam que o álcool esteja envolvido em até metade das mortes no trânsito.
Contudo, de nada adianta endurecer a norma se não houver batidas para flagrar infratores. Não se descarta que os resultados positivos sejam fruto do aumento na fiscalização, e não só do rigor legal. No Carnaval, o número de condutores submetidos ao bafômetro nas rodovias paulistas passou de 2.500, em 2012, para 7.500, neste ano.
Seria lastimável se se repetisse o roteiro de 2008. Nos primeiros meses de vigência da lei seca, diminuíram os acidentes de trânsito. A vigilância, porém, afrouxou pouco tempo depois, e o número de mortes voltou a subir.

    EDITORIAIS
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    Faz de conta
    Aprendizado de matemática piora do meio para o fim do ensino fundamental; país precisa de plano emergencial para formar mais professores
    Quanto mais uma nação se mostra encantada com estatísticas, tanto mais se deve perguntar pela capacidade de seus dirigentes e do público para digeri-las e daí derivar um curso de ação. O Brasil, todos sabem, não é um país dado às contas -e poucas áreas deixam isso tão evidente quanto a educação.
    Não lhe faltam, hoje, avaliações e indicadores a apontar a má qualidade do ensino. Os avanços obtidos -e os há- são incrementais, difíceis de perceber e de valorizar. As más notícias tendem a ganhar mais atenção, como as que vêm do ensino de matemática.
    O buraco negro está no segundo ciclo do ensino fundamental (antigo ginásio). Resultados de 2011 da Prova Brasil -exame bienal realizado pelo governo da União- já haviam indicado algum progresso no primeiro ciclo do ensino fundamental e um desastre no ensino médio (antigo colegial).
    No primeiro caso, 36% dos alunos do quinto ano (final do primeiro ciclo fundamental) demonstravam conhecimentos adequados de matemática, ultrapassando assim a modestíssima meta de 35% fixada pelo movimento Todos pela Educação. No terceiro ano do ensino médio, só 10% dos formandos tinham domínio satisfatório, muito aquém do objetivo (reles 20%).
    Novo levantamento da organização, com base na mesma Prova Brasil, confirma agora algo que já estava implícito na comparação entre níveis de ensino num mesmo ano: à medida que progridem entre os níveis de escolaridade, o desempenho dos alunos piora.
    Na Prova Brasil de 2007, 22% dos estudantes no quinto ano estavam bem em matemática. O mesmo contingente de alunos, ao terminar o nono ano em 2011, tinha só 12% de formandos com aprendizado satisfatório da matéria.
    Em outras cifras, 88% deles chegaram ao nível médio sem competência para fazer contas de percentuais ou para interpretar gráficos -habilidades hoje demandadas até nos postos de trabalho de remuneração mais baixa na indústria, no comércio e no agronegócio.
    São muitas as razões para esse fracasso, mas há certo consenso de que a deficiência maior está no lado docente. Não apenas a formação notoriamente precária dos professores, mas a pura e simples carência deles: só 45% dos mais de 145 mil docentes na disciplina tinham a habilitação necessária (licenciatura em matemática), segundo o Censo Escolar de 2007. Hoje se estima que o deficit da área seja de 65 mil professores.
    Trata-se, já se vê, de uma emergência. Não basta um Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. O Brasil precisa pôr a mesma ênfase na matemática -para não se tornar um país de faz de conta.

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