terça-feira, 2 de abril de 2013

Sonhos de felicidade - Anna Veronica Mautner

folha de são paulo

OUTRAS IDEIAS - 
Antes, só deuses e santos viviam no paraíso. Agora, a esperança está no nosso horizonte
como se ensina a esperar? Se não aprendermos a esperar, de que forma viveremos esperançosos de um futuro melhor, mais promissor? Sonhar e ter esperança são ingredientes indispensáveis para um viver equilibrado no tempo presente.
Meus atos e pensamentos são dirigidos para viabilizar o que espero que ocorra. Quando olhamos adiante e não conseguimos discernir nada, como orientaremos as nossas escolhas?
Outro dia ouvi comentarem sobre o Butão, um país pequeno, quase oculto nas sombras do Himalaia, que, em vez de almejar um PIB maior, prefere trabalhar com o índice FIB (Felicidade Interna Bruta). Surpreendi-me. Alegrei-me. Parece muito importante poder sonhar para além da sobrevivência.
A notícia de que a felicidade é um anseio que pode eventualmente ser medido já chegou perto de nós. A Fundação Getúlio Vargas criou um instituto para elaborar uma metodologia capaz de calcular, também aqui, o índice de felicidade da população brasileira.
Em termos de bem-estar, a satisfação das necessidades básicas (teto, alimentação, educação e saúde) é apenas um começo.
É essencial perceber que as necessidades básicas não bastam. É aí que reside uma grande mudança da modernidade.
Já vão longe os tempos em que se dirigia a vida de acordo com normas que prometiam o céu apenas para depois da morte. Agora, quando podemos lidar com índices de felicidade, imaginamos a possibilidade do paraíso na própria Terra.
Ao refletir sobre a pesquisa percebo uma grande transformação: do simples sobreviver dos nossos ancestrais primitivos à transposição da esperança de satisfação e felicidade para aquém da morte.
Na Antiguidade, apenas os deuses e os santos viviam no paraíso. Atualmente, estamos trazendo a esperança para o presente, para aqui e agora, e não apenas na sua forma de fé.
Até aqui, poderá dizer você, leitor, que estou com um ataque de alienação, pois estaria me esquecendo dos milhões de miseráveis mundo afora. Não estou, não.
Mas o fato de podermos nos deter hoje nesse tipo de pensamento aponta para uma luz nova. Felicidade e bem-estar são esperanças que surgem no horizonte.
P.S. Ao acabar de escrever este texto, surgiu na minha caixa de entrada a mensagem: "Pesquisa do Instituto Akatu indica que brasileiro associa felicidade mais a bem-estar do que a posse de bens". O tema está no ar.

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