sábado, 20 de abril de 2013

POLÊMICA » Conta que não fecha (meia-entrada) - Carolina Braga‏

Projeto de lei que limita concessão de meia-entrada a 40% do total de ingressos tramita em Brasília. Produtores denunciam populismo, mas estudantes querem ampliar a cota 


Carolina Braga

Estado de Minas: 20/04/2013 

A meia-entrada para estudantes e idosos em cinemas, teatros, eventos esportivos e culturais está mais próxima de se tornar lei no Brasil. Na terça-feira, será votado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados o parecer do relator, deputado Vicente Candido (PT-SP), ao Projeto de lei 4.571/08, que regulamenta o benefício. Será a última etapa antes da votação pelos parlamentares no plenário da Casa e da tramitação no Senado.

Há pelo menos 15 anos o assunto é tema de discussões entre classe artística, produtores e estudantes. O texto unifica as regras em todo o Brasil e propõe uma cota limitada em 40% do total de ingressos disponíveis para cada evento. A meia-entrada para os estudantes será concedida mediante a apresentação do modelo único da carteira de identificação estudantil, a ser produzida pela Casa da Moeda do Brasil.

O documento será expedido pela Associação Nacional de Pós-Graduandos, pela União Nacional dos Estudantes (UNE), pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e por entidades estudantis estaduais e municipais legalmente constituídas. “Isso é mais importante do que o percentual da cota. Hoje, qualquer um entra na internet e tira um comprovante”, diz o produtor cultural Guilardo Veloso. Além da carteira unificada, os estudantes também deverão apresentar documento que comprove vínculo com a instituição de ensino.

A concessão de meia-entrada para estudantes existe no Brasil desde a década de 1930, mas o benefício nunca foi instituído por lei federal. A matéria vem sendo regulada por legislações estaduais e municipais. No caso do idoso, o direito à meia-entrada já está garantido pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03). Segundo Guilardo, já existe em Minas Gerais uma recomendação do Procon e do Ministério Público Estadual, de 2007, que limita em 30% a quantidade de meias a serem vendidas. Nesse caso, os produtores daqui deverão se adequar ao novo percentual proposto pela lei federal, estipulado em 40%.

Ativa nas discussões políticas em Brasília, a produtora Tatyana Rubim acompanha há pelo menos quatro anos os caminhos que o projeto percorre no Planalto. Na avaliação dela, ainda que se tenha chegado a um denominador comum para atender tanto a cadeia produtiva como os beneficiários, não deixa de ser uma lei populista. “Não pago meia consulta, meio quilo de feijão. No entanto, tenho que dar 50% de desconto para estudantes que às vezes chegam de carros muito bons e já estão no mercado de trabalho”, afirma. Tatyana Rubim concorda que o ponto positivo da lei é a padronização da carteira de estudante.

Márcia Ribeiro, da Nó de Rosa Produções, considera a cota de 40% uma medida arbitrária do governo. “Entendo como sinal de maturidade um governo que, ao afirmar a necessidade da cultura para estudantes e idosos, retire a tributação dos ingressos. Oferecer o benefício com o chapéu alheio é lamentável”, protesta.

PARA TODOS Para o estudante de ciências sociais da UFMG e diretor de políticas educacionais da UNE Estevão Cruz, a lei avança ao estender o benefício para jovens de todo o país. Já o percentual, na opinião dele, é questionável. “Entendo que a meia é um direito conquistado e deve ser ampliado para toda a juventude. Além de a cota não ser justa, também não é possível fiscalizar ou ter um acompanhamento transparente sobre a quantidade de ingressos vendidos”, alerta.

Estevão está de acordo que a unificação da carteira é ponto a ser comemorado. “ Hoje há uma espécie de mercantilização das carteirinhas, deixou de ser um documento de identificação estudantil e virou comércio. O padrão único é importante para o movimento.”


Enquanto isso... no Senado


Em paralelo à tramitação da regulamentação à meia-entrada na Câmara, o Senado aprovou o projeto de lei que cria o Estatuto da Juventude, também com previsão de restringir a meia-entrada a uma cota de 40%. O texto prevê ainda a ampliação do direito à meia-entrada a jovens pertencentes a famílias de baixa renda, com idade de até 29 anos e renda familiar de até dois salários mínimos, além dos estudantes. O projeto ainda terá de ser reenviado à Câmara para análise.



O que diz o projeto

>> A concessão da meia-entrada é limitada a 40% do total de ingressos disponíveis para cada evento.
>> A meia-entrada para estudantes será concedida mediante a apresentação, pelo estudante, da carteira de identificação estudantil, que terá modelo único em todo o país, emitida pela Casa da Moeda.
>> Já o idoso precisará apenas apresentar documento oficial de identidade.

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