sexta-feira, 3 de maio de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

Ciência de menos
MEC prepara programa mais ambicioso para formar professores de matemática e exatas e interromper círculo vicioso da mediocridade
A situação do ensino de ciências no Brasil é tão calamitosa que qualquer iniciativa do governo federal para revertê-la seria bem-vinda, só por existir. Um programa em preparo pelo Ministério da Educação vem interromper, em boa hora, a inércia que tem condenado nossos jovens à mediocridade científica.
Não é de hoje que esse setor da educação básica vive em crise. Faltam não só bons professores --há carência até dos menos preparados. Sem aulas de matemática, física, biologia e química, decentes ou não, os estudantes se desinteressam e aprendem pouco. Raros deles consideram seguir a carreira docente, menos ainda nessas áreas, o que realimenta o preconceito geral contra a ciência.
Várias medidas estão em consideração, de bolsas de estudo para alunos do ensino médio que se interessem por ensinar tais disciplinas a aulas de reforço para universitários que já estejam nos cursos de licenciatura dessas áreas.
Mais controversa se mostrou a proposta de uma pós-graduação em prática de ensino para os já licenciados. Não pela orientação do curso --com efeito, é de ferramentas pedagógicas e não de teorias de aprendizagem que os docentes brasileiros carecem--, mas pela ideia de vincular a concessão do diploma ao desempenho dos alunos na matéria que o pós-graduando lecionar na rede pública.
Há que debater mais essa vinculação. É difícil medir o progresso de alunos atribuível ao desempenho de um único professor; além disso, soa excessivo cobrar dele resultados antes mesmo de concluído o curso de aperfeiçoamento.
Alguma coisa, por certo, é urgente fazer. O resultado da negligência até aqui observada --que não é só do governo, mas de toda a sociedade-- se encontra visível nas estatísticas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), baseadas em exames padronizados que se aplicam em dezenas de países e classificam os alunos em seis níveis de proficiência.
Em 2009, última prova de ciências do Pisa, o Brasil ficou em 53º lugar entre 65 nações. Apesar de alguma melhora, 83% de nossos alunos param no nível dois, provando-se incapazes de formular explicações e tirar conclusões de pesquisas que não sejam triviais.
É preciso muito mais que isso para construir e desenvolver um país.


EDITORIAIS
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Ainda Guantánamo
Pressionado pela greve de fome, desde fevereiro, de cem dos 166 detidos na base naval de Guantánamo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ressuscitou a promessa de que fechará a prisão. Já passou da hora de cumpri-la.
O campo de prisioneiros, situado em território tomado de Cuba no final do século 19, funciona há 11 anos à margem do marco jurídico americano e internacional.
O símbolo das medidas de exceção da guerra ao terror na Presidência de George W. Bush serve de depósito para suspeitos de atos terroristas. Aos presos não são conferidos direitos básicos, como ampla defesa e devido processo legal.
Dadas essas características, não surpreende que o fechamento de Guantánamo tenha sido uma das principais bandeiras de Obama em sua primeira campanha presidencial, em 2008. O que se estranha é ele, até agora, se ter mostrado incapaz de honrar o compromisso.
O titular da Casa Branca põe a culpa no Congresso, contrário à alternativa de transferir os prisioneiros para penitenciárias de segurança máxima americanas.
Em pronunciamento nesta semana, Obama disse, com razão, que a situação é insustentável e que estudará as medidas administrativas cabíveis. Mas não fixou um prazo para apresentá-las.
Tudo sugere que Obama está de mãos atadas. Ainda assim, seus críticos afirmam que, devido a mudanças recentes na legislação, o presidente poderia ter reduzido o número de presos de baixa periculosidade desde o ano passado.
Também poderia ter melhorado a administração da base de Guantánamo. Entidades de direitos humanos cobram atuação mais direta da Casa Branca para acelerar o trâmite das audiências dos prisioneiros --muitos dos quais estão lá desde 2002 sem que tenham, até hoje, enfrentado julgamento.
Nesta semana, 21 detentos em greve de fome passaram a ser alimentados à força, por meio de sondas nasais. A prática é condenada pela Associação Médica Mundial, por violar o direito individual de se recusar a comer e a beber.
Já no segundo mandato, Obama não pode mais protelar o fechamento de Guantánamo. Sua inação arranha a imagem dos EUA no exterior e municia aqueles que reprovam o presidente por não traduzir seus belos discursos em realidade.
Ainda pior, a falta de providências práticas adia o fim de uma aberração jurídica que enodoa a tradição democrática americana.

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