terça-feira, 25 de junho de 2013

Carlos Heitor Cony

folha de são paulo
O funeral de César
RIO DE JANEIRO - Nunca tantos estiveram dizendo a mesma coisa por motivos diferentes. A começar pelos editoriais da mídia e a terminar com a fala presidencial de dona Dilma, que leu sem quase emoção um texto que escreveram para ela. E, pensando bem, usou e abusou das mesmas palavras e conceitos que os ditadores do outro lado do mundo usaram por ocasião da Primavera Árabe.
Em resumo: toleramos os protestos pacíficos, mas repudiamos o vandalismo de alguns manifestantes. As mesmas palavras que os dirigentes da República de Weimar usavam para condenar as primeiras manifestações do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), que instalou o nazismo naquele país.
Curiosamente, pouco mais tarde, o próprio Hitler, em Nuremberg, num comício-monstro, disse mais ou menos a mesma coisa. E, uma vez no poder, copidescou a frase, proibindo e punindo qualquer manifestação das ruas. Não fez por menos: atribuiu qualquer descontentamento popular ao poder do judaísmo internacional, que manobrava contra o seu regime.
Os latinos diziam que toda comparação claudica, mas tem um fundo de verdade. No caso atual da nossa vida pública, apesar de tudo, seria forte demais comparar o PT com os nazistas. Quem conhece a ascensão do partido soberano e único na Alemanha dos anos 20 e 30 do século passado encontrará algumas semelhanças de meios e modos com a ascensão do PT em nossa realidade política e social.
É bom visitar o passado para compreender o presente --perdão pelo clichê. Depois do famoso discurso de Marco Antônio no funeral de César, o povo saiu pelas ruas de Roma depredando tudo. Vandalismo total. Matou até mesmo um poeta (Cinna) pelos seus maus versos. E os assassinos de Cesar ("Brutus and the rest") eram todos homens honrados.

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