quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eduardo Almeida Reis-Ópticas‏

Tudo bem: se há milhares de pessoas que se manifestam é preciso ouvi-las para apurar se têm razão 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 19/06/2013 

Consenso é concordância ou uniformidade de opiniões, pensamentos, sentimentos, crenças etc., da maioria ou da totalidade de membros de uma coletividade. Ainda bem que existe a opção “da maioria”, porque discordo das opiniões de muitos ex-juízes de direito, analistas políticos, ministros, jornalistas e mais gente ouvida sobre a quebradeira promovida em São Paulo, dia 13 de junho, por arruaceiros de um certo Movimento Passe Livre.

Quase todos os que opinaram disseram que as manifestações fazem parte das democracias. Tudo bem: se há milhares de pessoas que se manifestam é preciso ouvi-las para apurar se têm razão. Só não dá para acusar a PM-SP de responsável por algumas cenas de violência vistas naquela noite em que, seja dito de passagem, não houve um só morto.

Emergi da refrega televisionada convencido de que a minha óptica é diferente das demais. Daltônicos, míopes, hipermetropes – cada um vê o mundo pela sua óptica, o que me permite vê-lo pela minha. O que vi em São Paulo foi “manifestação democrática” em que os argumentos eram pedradas, pichações, incêndios, pauladas e coquetéis molotov, contidos por brasileiros fardados que não estavam lá por gosto, mas cumprindo ordens e correndo risco de vida em troco de salários miseráveis. E isso para tentar impedir a destruição de monumentos e prédios públicos, de lojas, bancas de jornais, agências bancárias e veículos que tiveram o azar de estar no lugar e na hora errados.

Ninguém convida PMs paulistas, mineiros, catarinenses, baianos para festinhas particulares. São mandados para maravilhosos jogos de futebol, mas do lado de fora do estádio, com a obrigação de tentar apartar a pancadaria marcada pela internet pelos bandidos das diversas “organizadas”.

Também são escalados para trocar tiros com bandidos, resgatar reféns, prender criminosos perigosos, que serão soltos nos dias seguintes, desarmar bombas – serviços divertidíssimos em troco de vencimentos indecentes. E acabam sendo os culpados de tudo pela óptica de uma porção dos que veem o mundo pela televisão.


Segunda-feira
O suelto “Ópticas” estava pronto quando tivemos as manifestações da noite do dia 17 de junho, anteontem, no Brasil inteiro com ramificações em seis cidades norte-americanas: brasileiros protestando na Union Square de Nova York, em Los Angeles, defronte do nosso consulado e, pasme o leitor, em várias cidades do Canadá. No Rio, fala-se em 100 mil pessoas nas ruas; em São Paulo, 65 mil, milhares em Porto Alegre, Cuiabá, Salvador e mesmo em Belo Horizonte, onde a confusão começou em volta do Mineirão e continuava, tarde da noite, no pirulito da Praça Sete.

Ainda pela minha óptica, não sei o que dizer, mas a situação me parece de uma gravidade raras vezes vista na história deste país grande e bobo. Em plena Copa das Confederações, peço licença para recorrer ao futebol: tiro o meu time de campo.


Cariocas?
Ângela Maria, nome artístico de Abelim Maria da Cunha, cantora e atriz, nasceu no dia 13 de maio de 1929 em Conceição do Macabu, município localizado na região norte do Estado do Rio de Janeiro. Luís Roberto Barroso, constitucionalista de 55 anos, novo ministro do Supremo, nasceu em Vassouras, Vale do Paraíba, RJ.

Pois muito bem: numa só noite ouvi locutores da tevê dizendo que Abelim e o ministro são cariocas. Até outro dia, carioca era relativo à cidade do Rio de Janeiro, capital do estado do Rio de Janeiro, ou o que é seu natural ou habitante.

Houaiss continua: “no curso do século XIX e início do século XX, fluminense era o etnônimo da província ou estado e da cidade; com a curta existência do Estado da Guanabara, carioca retomou seu valor etnonímico cabal; extinto o estado, os habitantes da cidade continuam a dizer-se cariocas, e fluminenses, quando relacionados com o atual estado”. Etnônimo é dose: palavra que designa tribo, etnia, raça, grupo humano definido, nação e, em alguns casos, equivale a gentílico.

Portanto, quem nasce em Vassouras e Conceição do Macabu é vassourense ou macabuense. Conheci Ângela Maria numa festa na Embaixada da Venezuela, quando era embaixador don Leonardo Altube C. O jovem philosopho de smoking e sapatos de cromo alemão. Abelim Maria da Cunha, mulata lindíssima, voz maravilhosa, encantada com o jovem bem-ajambrado. Não deu samba: ficamos nos olhares enquanto os pés me doíam apertados no cromo alemão.

Aprendi com o embaixador, naquela noite, que um cavalheiro elegantíssimo pode usar mocassins macios com smoking ou tuxedo, a formal set of clothing for a man including na elegantly styled, usually black jacket and matching trousers, usually with a bando f silk down each leg, dress shirt, bow tie, and cummerbund. Cummerbund, ao contrário do que se possa imaginar, é faixa ou cinto.

Don Leonardo nada tinha de bolivariano. Fazia parte da aristocracia venezuelana, que pode ter lucrado num pouquinho, nada que se comparasse à recente lucratividade bolivariana. Na recepção havia charutos de Havana pré-Castro, champanhe vinificado em Reims, Abelim cantando e um jovem carioca de cummerbund. Bons tempos...

Hoje é o Dia do Migrante e o Dia do Cinema Brasileiro.


Ruminanças

“Tsunami: casamento-Fifa, namorada-Fifa, motel-Fifa, divórcio-Fifa, hora-Fifa, apupo-Fifa” (R. Manso Neto).

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