sábado, 15 de junho de 2013

Ópera tem estreia mundial em BH-Sérgio Rodrigo Reis‏

Cercada de expectativa, a estreia mundial da ópera Fedra e Hipólito representa momento especial para Belo Horizonte. A tragédia de Eurípedes ganhou ousada releitura high tech 


Sérgio Rodrigo Reis

Estado de Minas: 15/06/2013 


Em outubro de 2009, o compositor americano Christopher Park convidou uma pequena plateia para a leitura musical da recém-criada ópera Fedra e Hipólito, no Mannes College of Music, em Nova York. Acompanhado de orquestra de câmara, sem apoio de cenários e figurinos, Park trouxe a público a sua versão da tragédia grega. Na plateia estavam a produtora cultural mineira Lúcia Tristão e o maestro Luiz Aguiar. “A emoção foi tanta que, ao final, o Luiz estava chorando. Ele perguntou: ‘Já imaginou isso encenado? Por que não levar para Belo Horizonte?”, relembra Lúcia. A epopeia que começou naquele dia só termina hoje, às 20h30, quando o público chegar ao Palácio das Artes.

O maior desafio de Fedra e Hipólito é harmonizar a encenação clássica com a alta tecnologia dos cenários e da iluminação. As plateias tradicionais sentirão o impacto das escolhas estéticas logo na entrada: cortinas abertas e a enorme tela de tecido translúcido cobrem toda a boca de cena, onde são projetadas imagens de um oceano revolto. A ópera começa com a aparição de Vênus. Uma gigantesca moeda cretense flutua, representando Poseidon, o rei do mar. Recursos multimídia tentarão transportar a imaginação para dentro do Castelo de Teseu, representado por escadarias ora transformadas na sala do trono ora no quarto de Fedra.

Dividida em prólogo e dois atos que se estendem por duas horas e 30 minutos, a montagem tem música, libreto e regência assinados por Christopher Park. A direção cênica ficou a cargo de Fernando Bicudo. A dupla aposta em encenação incomum. Os protagonistas serão interpretados pelas sopranos Leila Guimarães e Rita Medeiros (que se alternam no papel de Fedra) e os tenores Max Wilson e Aníbal Mancini (Hipólito). Os gestos do casal são duplicados e potencializados por coreografias da estreante Sesc Cia. de Dança. Também participam da montagem a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e o Coral Lírico.

Deuses O público estará diante de uma releitura contemporânea da tragédia Hippolytus, do grego Eurípedes (480 a.C.). No libreto de Christopher Park, Hipólito, filho do rei Teseu, enfurece Afrodite, a deusa do amor, por ajudar Ártemis, a deusa da castidade. Como punição, Afrodite faz com que a rainha Fedra, madrasta de Hipólito, deseje o enteado. Envergonhada, a soberana desabafa com sua aia, que a trai e revela o segredo para Hipólito. Para proteger sua reputação, Fedra decide se matar. Quando descobre que a esposa morreu em busca da verdade, o rei exige saber a verdade.

Fernando Bicudo usou recursos contemporâneos para construir a tragédia grega. Cinema e computação gráfica em 3D enfatizam a interpretação dos solistas. Em 14 cenas, a iluminação será pontuada por refletores varylights, com amplas possibilidades de efeitos. Por fim, flutua no espaço um icosaedro. Formado por 20 triângulos equiláteros, é uma das cinco formas perfeitas da geometria estudadas por Pitágoras e Platão.

O entusiasmado Christopher Park chegou a BH disposto a tirar do papel seu antigo projeto. “Consegui realizar esse sonho. Sou muito sortudo de ter a oportunidade e a bênção de trabalhar com artistas talentosos e experientes como Fernando Bicudo e o cenógrafo Hélio Eichbauer”, diz o americano.

Sentimento parecido tem Lúcia Tristão. “Se você consegue sonhar, consegue realizar. Sonho acordada. Nunca tive um momento de dúvida de que essa ópera não seria apresentada. Uma voz dentro de mim sempre dizia: ‘Não desista’. Houve momentos em que chegaram a zombar da minha insistência”, afirma a produtora. Inicialmente, a ópera foi planejada para estrear no ano passado. “O plano A não deu certo”, revela Lúcia, que chegou a Nova York há 43 anos para atuar como bailarina clássica.

Depois de procurar apoio em várias instâncias governamentais, a produtora conseguiu o patrocínio de R$ 1,4 milhão – metade do valor da montagem. Graças a esforços coletivos, Fedra e Hipólito estreia do jeito que Lúcia Tristão imaginou. “Será um espetáculo memorável”, ela promete.

FEDRA E HIPÓLITO
Ópera de Christopher Park. Estreia hoje, às 20h30, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Récitas amanhã, às 19h, e nos dias 18, 20 e 21, às 20h30. Com solistas convidados, Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Coral Lírico e Sesc Cia. de Dança. Ingressos: R$ 60 (inteira). Informações:(31) 3236-7400.

ELENCO

Hoje e dias 15, 18 e 20
Fedra – Leila Guimarães
Hipólito – Max Wilson
Teseu – Leonardo Páscoa
Aia – Malena Dayen
Afrodite – Juliana Franco
Servo – André Fernando
Líder do coro – Sérgio Anders

Amanhã e dia 21
Fedra – Rita Medeiros
Hipólito – Aníbal Mancini
Teseu – Fabrizio Claussen
Aia – Luísa Francesconi
Afrodite – Nívea Raf
Servo – Cristiano Rocha
Líder do coro – Lílian Assumpção



Três perguntas para...
Christopher Park
compositor

O que o motivou a criar uma versão contemporânea para o clássico Hyppolytus?

Minha motivação foi simples. Queria compor uma ópera, mas sem esperar até concluir que estava pronto para fazê-la. Se tivesse esperado, jamais a teria feito. É como ter uma criança: em algum momento, você apenas se entrega.

Qual a expectativa dessa estreia mundial?

Algumas pessoas vão amar, algumas pessoas odiar. E algumas pessoas vão temer essa ópera.

Depois de Belo Horizonte, onde você pretende encenar Fedra e Hipólito?
 Quem sabe São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires ou Brooklyn? Preciso, finalmente, voltar para casa, em Manhattan, com minha esposa e meu bebê. Devo começar a trabalhar em minha próxima ópera.

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