segunda-feira, 3 de junho de 2013

Tendências/debates

folha de são paulo
JILMAR TATTO
Público para todos
A velocidade dos nossos ônibus, nos poucos 120 km de corredores, é de lentos 13 km/h. Nossa corrida será atingir, até 2016, 25 km
São Paulo terá de transformar valores para tornar realidade um conceito fundamental dos dias atuais: a mobilidade. Somente a ação pelo atendimento à maioria fará da cidade um espaço melhor --a prioridade da administração municipal é o transporte público.
Falamos de um lugar com 15 mil quilômetros de vias asfaltadas para 7,4 milhões de veículos emplacados. Um estudo do Instituto de Pesquisa Aplicada, publicado pelaFolha, reproduz o que as populações dos grandes municípios sentem há tempos: os paulistanos gastam quase 45 minutos, em média, no deslocamento de casa para o trabalho. Em Xangai, na China, com seus 23 milhões de habitantes, são desperdiçados pouco mais de 50 minutos.
A velocidade dos nossos ônibus, nos poucos 120 quilômetros de corredores, é de lentos 13 quilômetros médios por hora. Nossa corrida será atingir, até o final de 2016, entre 20 e 25 quilômetros. Estão em andamento licitações para a construção de 300 quilômetros de vias exclusivas para ônibus, sendo metade de corredores à esquerda da via.
Dentro do possível, os corredores serão equipados com cobrança da tarifa antes do embarque por meio do Bilhete Único. Haverá também controle computadorizado do fluxo de coletivos com a eliminação de linhas sobrepostas.
A cidade possui 54 mil semáforos para garantir a segurança em 6.200 cruzamentos. Iniciamos um trabalho para sua recuperação e modernização.
Como novidade, estabeleceremos o protocolo aberto, em que o poder público poderá adquirir os componentes necessários de vários fornecedores, diminuindo os preços.
Em viagem a Londres e Glasgow, acompanhado de especialistas da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, constatamos que várias iniciativas podem e serão utilizadas em nossa cidade.
Por exemplo, iniciamos a implementação de uma central de mobilidade. Ela integrará as ações da CET e da São Paulo Transporte (SPTrans) em plataformas de alta tecnologia, como a utilização de sistemas semafóricos inteligentes que permitirão o controle da fluidez do trânsito.
Outra providência é o início de um trabalho de recuperação e adequação do complexo cicloviário, que tem apenas 240 quilômetros de extensão. Vamos ampliá-los para 390. A bicicleta não será mais uma atividade de lazer, mas uma opção de movimentação segura para curtas distâncias e incorporação ao transporte coletivo.
Não pensamos somente na modalidade de transporte de massa por pneu. Defendemos a integração metropolitana com os trens --convencionais e metrô--, inclusive na questão tarifária. Para isso, estamos em entendimentos positivos com o governo estadual e atuamos na perspectiva de implementarmos o Bilhete Único Mensal em conjunto.
O momento é emblemático. Precisamos escolher entre o uso do automóvel particular para todas as finalidades, que transporta uma média de 1,4 passageiro, ou o estímulo ao coletivo, que chega a servir perto de 200 usuários. Estamos num processo de melhora do sistema e ofereceremos ao usuário a opção de migrar para o transporte público.

    FERNANDO SCHMIDT
    Aprofundar vínculos
    Há interesse pelo Chile no Brasil. Mas, muitas vezes, meu país é associado a um produto (o vinho) ou a um serviço (turismo)
    É curioso que o Chile, com apenas 16,5 milhões de habitantes, seja o maior investidor latino-americano no Brasil. Raras vezes é mencionado que o volume de nosso comércio atinge os US$ 10 bilhões, cifra semelhante à do intercâmbio entre Brasil e México.
    Tampouco é conhecido o fato de que, atrás dos argentinos, norte-americanos, alemães e uruguaios, são os chilenos que mais visitam o Brasil, e que, nos primeiros meses deste ano, os números demonstraram crescimento exponencial.
    As amizades sem fronteira, como a do Chile e Brasil, são curiosas. Implicam uma ausência de conflitos e, ao mesmo tempo, uma falta de incentivo. Estamos a três horas de de avião e a um dia de automóvel, mas pouco nos conhecemos.
    Se queremos nos conhecer mais, é preciso romper a inércia, superar o ditame geográfico, compreender melhor nossas respectivas sociedades a fim de encontrar seus aspectos complementares e aplicar a imaginação a esse propósito.
    A imagem do Chile no Brasil está segregada. Nos poucos meses transcorridos desde que assumi a missão diplomática chilena em Brasília, constatei que, nos mais altos níveis de decisão, existe uma referência de interesse pelo Chile. Mas as imagens se diluem e, muitas vezes, meu país é associado a um produto (o vinho), um serviço (turismo) ou a uma situação política pontual.
    Nos próximos cinco anos, grande parte da produção agrícola de grãos do Chile se realizará com tratores Mahindra, de tecnologia indiana, fabricados no Brasil pela Bramont, controlada pela chilena Gildemeister.
    A poucos passos do mercado central de São Paulo, a renovação urbana vem desenvolvendo projetos imobiliários que dependem em parte de empresas chilenas.
    Dentro de mais algumas semanas, e com investimento de US$ 2,2 bilhões, serão iniciados os trabalhos em uma nova fábrica da Celulosa Riograndense, investimento chileno que gerará milhares de empregos no Rio Grande do Sul.
    O sistema de ensino superior do Chile é o que mais recebe bolsistas brasileiros do programa Ciência sem Fronteiras.
    Dispomos de dados brutos que nem sempre processamos ao descrever o relacionamento entre nossos países. Estou certo de que, quando observarmos o panorama completo, nos surpreenderemos.
    Ainda assim, é um dado objetivo que temos lacunas, não tanto por falta de acordos assinados (às vezes, creio que tenhamos até um excesso deles), mas por contemplarmos os mesmos horizontes em termos um tanto competitivos.
    Por exemplo, nossos sistemas financeiros estão bem integrados, por obra de nossas múltis latinas, ou ainda nos voltamos aos centros tradicionais de finanças? Não podemos fazer algo mais para que nossa cooperação internacional se dirija a países que conviriam aos interesses do Chile e do Brasil?
    Hoje, temos recursos cada vez maiores destinados à inovação. Estamos integrados em setores de ponta de interesse recíproco, ou a maioria dos programas se dirige a alianças com centros de pesquisa de fora de nossa região?
    Sem dúvida, algo acontece conosco e precisamos refletir. É necessário conduzir nossos esforços como embaixada a uma dimensão mais horizontal de relacionamento. Devemos aproveitar as forças que diversos setores já integrados oferecem. Eles não devem ser considerados coadjuvantes dessa relação, como se não gerassem investimentos, postos de trabalho e receitas. Porque geram uma enorme rede de conexões e um conhecimento extraordinário do "outro".
    Dentro de poucos dias, colocaremos o discurso em prática na casa dos chilenos em Brasília, que, mais que sede diplomática, queremos ver transformada em sólida ponte e, ainda melhor, em um vulcão de ideias para potencializar o relacionamento entre dois países irmãos.

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