terça-feira, 9 de julho de 2013

Agora é a vez dos trabalhadores-Bárbara Nascimento, Vera Batista e Marinella Castro e Victor Martins‏


Agora é a vez dos trabalhadores 

Depois de a população ir às ruas no país, várias categorias de profissionais e servidores prometem parar na quinta-feira

Bárbara Nascimento, Vera Batista e Marinella Castro e Victor Martins

Estado de Minas: 09/07/2013 


Brasília – Depois da onda de manifestações populares que abalaram o governo, novos protestos, desta vez trabalhistas, preocupam o Palácio do Planalto. Na quinta-feira, milhões de profissionais de setores estratégicos, como o metalúrgico, o de petróleo, o de transportes e o serviço público, prometem cruzar os braços em pelo menos 14 estados do país. Os pleitos são diversos: vão desde o fim do fator previdenciário à redução da jornada de 40 horas semanais. Aos menos três portos – Santos (SP) , Paranaguá (PR) e Suape (PE) – devem ter o funcionamento afetado. Além disso, a promessa é de que várias rodovias, sobretudo no estado de São Paulo, tenham o tráfego interrompido.

Em Belo Horizonte o protesto vai reunir categorias do funcionalismo público, municipal e do estado. Participam da manifestação também os estudantes representados por organizações nacionais e regionais, e grupos ligados a diversas bandeiras como ambientalistas, contra a homofobia e pelo imposto justo. A concentração dos manifestantes terá início na Praça Sete. De lá, a intenção é de que o protesto siga em passeata até a prefeitura, marchando depois para a Assembleia Legislativa. Na praça principal do Legislativo, os professores do estado que engrossam o ato vão votar proposta do governo para a categoria. O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel) vai decidir em plenária na manhã de hoje se irá aderir ao protesto. Os servidores da educação, no entanto, já confirmaram adesão.

Inicialmente, as paralisações serão de apenas 24 horas. A pauta de reivindicações envolve ainda reajuste para os aposentados, redução de juros e mudanças na equipe econômica, além de endossar os pedidos populares de investimentos em saúde e em educação. No setor privado, confirmaram adesão à mobilização os metalúrgicos, os bancários, os petroleiros, os químicos, os trabalhadores do comércio e os funcionários da construção pesada, que atuam em grandes obras (do governo), como as dos aeroportos. Na área de transportes, os metroviários devem parar por algumas horas em várias cidades. Os portuários, por sua vez, vão cruzar os braços durante dois dias: amanhã e quinta-feira.
Os protestos devem ficar mais intensos no horário do almoço e no fim da tarde, após o expediente. As manifestações não devem seguir um formato único: caberá aos sindicatos estaduais definir como a mobilização será feita. “Não é uma greve geral, é um dia de luta. Os trabalhadores estão sendo chamados. Uns vão parar em determinados momentos do dia, outros vão panfletar na hora do almoço e os que puderem participarão de passeatas”, explicou Lourival Mello, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio, que reúne 12 mil funcionários.

Em Brasília, a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) organiza uma marcha que partirá, às 15h, da Biblioteca Nacional e vai até o Congresso Nacional. O objetivo, segundo o secretário de Comunicação da confederação, Sérgio Ronaldo, é de que a mobilização ocorra também em outros estados no mesmo horário. Além de apoiar a pauta das centrais sindicais, A Condsef, que representa 800 mil servidores públicos, defende a campanha Imposto Justo, que reivindica, entre outras coisas, a correção da tabela do Imposto de Renda.

Diálogo Algumas categorias ainda não definiram se vão suspender o trabalho durante o dia 11, como as agências reguladoras. Por essa razão, segundo o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, não é possível estimar quantas pessoas participarão do ato. Ainda assim, ele garante que milhões de trabalhadores estarão nas ruas em todo o país. Apesar disso não há, segundo Paulinho, como é conhecido, qualquer intenção do Planalto em negociar a pauta. O Palácio do Planalto afirmou que, até o momento, não se preocupa com uma possível greve geral, que se estenda por mais dias e que as acusações do presidente da Força Sindical são infundadas.


Fim da ‘farra’ do seguro

Brasília – O Brasil vive uma verdadeira farra do seguro-desemprego. Mesmo com a taxa de desocupados nas mínimas históricas, as despesas com o benefício batem recorde a cada ano. Além da alta rotatividade dos trabalhadores, fraudes elaboradas em comum acordo entre patrões e funcionários elevam expressivamente o gasto do poder público com o auxílio. Preocupado com esse ralo de dinheiro, e diante da necessidade de economizar recursos para atingir a meta de superávit primário de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), o governo pode desengavetar um projeto para tornar a fiscalização mais rigorosa e mais severas as punições aos envolvidos nos esquemas de desvio. Este ano, as despesas com o benefício devem chegar a R$ 45 bilhões.

Entre 2007 e 2013, enquanto a taxa de desemprego caiu quase pela metade, o gasto com o auxílio cresceu 153%. O problema de fraudes e de alta rotatividade de trabalhadores já havia sido detectado pelo Palácio do Planalto. A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ainda na gestão de Moreira Franco, fez o diagnóstico da situação e começou a preparar sugestões para a presidente Dilma Rousseff e para o Ministério do Trabalho. Com a mudança no comando da pasta, o projeto foi engavetado, mas, nas últimas semanas, voltou ao debate – agora, pode ser ressuscitado pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda. Os mais otimistas no governo falam na possibilidade de reduzir quase 50% no gasto anual com o benefício.

O entendimento é de que a taxa de rotatividade no Brasil é exagerada, em torno de 40% – ou seja, quase metade dos trabalhadores do país vai trocar de emprego em um ano. O problema é que quando essa mudança ocorre, o trabalhador, mesmo depois de reintegrado ao mercado, continua, em muitos casos, a receber o benefício. Há ainda os casos de fraude, quando empregador e funcionário fazem acordo para burlar as regras. O funcionário é demitido para receber o seguro-desemprego, mas continua a executar tarefas para o patrão e agrega o benefício aos rendimentos. “Isso é um problema, o empregado, normalmente uma pessoa humilde, vê nessa estratégia uma espécie de promoção, de ganho de salário”, explicou uma fonte que preferiu não se identificar.

Esse tipo de esquema é muito utilizado nos ramos da construção civil e do agronegócio. Não à toa, eles têm as maiores taxas de rotatividade entre os trabalhadores. No primeiro, o índice é de 85%. e no campo, é de 74%. “Essa taxas elevadas são um problema. Elas consomem uma fatia significativa de verbas que deveriam financiar investimentos em habitação, em saneamento. Afetam o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e elevam os gastos com seguro-desemprego”, avaliou a fonte. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário