quinta-feira, 25 de julho de 2013

Autoconhecimento atrai brasileiros e cria mercado para cursos e sermões - Carolina Braga‏

Autoconhecimento atrai brasileiros e cria mercado para cursos e sermões 



Carolina Braga


A prática é milenar. Na Grécia antiga, filósofos dedicavam tempo para falar da vida. Na academia de Platão, por exemplo, o amor era um dos temas da vez, assim como a amizade e a ética. Muita coisa mudou de lá para cá, mas o interesse do homem pelo autoconhecimento continua – vide o sucesso da autoajuda no mundo inteiro. Mas esse gênero, que carrega junto de cifras milionárias boas doses de preconceito, tem dividido espaço com uma filosofia voltada para o estilo de vida. Os brasileiros embarcaram nessa onda.

Desde que o filósofo Alain de Botton inaugurou sua The School of Life (Escola da Vida) em Londres, chama a atenção a quantidade de brasileiros que passaram a frequentar aulas, palestras e a procurar na internet dicas sobre como ter o trabalho dos sonhos, como fazer a diferença ou ser criativo. Agora, a The School of Life se prepara para abrir uma “filial” em São Paulo.

“Os brasileiros têm pensado muito sobre o que querem de suas vidas e do país. Na escola, acreditamos que podemos ter mais controle sobre como tornar o mundo um lugar melhor para todos. Isso se encaixa muito bem com o sentimento do país neste momento”, diz o professor David Baker. No início do ano, ele foi a São Paulo para um intensivão promovido pela instituição britânica. A escritora brasileira Martha Medeiros participou da troca de experiências com os 20 selecionados. Duas temporadas estão agendadas para outubro e novembro, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Além do curso, os representantes de Botton inauguraram no país os sermões, prática comum entre os britânicos. Funciona assim: especialistas em temas do cotidiano reúnem seguidores em teatros para falar sobre a própria experiência. Arrependimento foi o assunto de julho, na capital paulista. A agenda do segundo semestre já está fechada: gratidão, empatia e curiosidade serão temas debatidos pelo ex-padre Zeca de Mello, o pensador romeno Roman Krznaric e o artista plástico Vik Muniz. O lance é falar e trocar experiências. Resumindo: filosofar.

Demanda

Autor de Como encontrar o trabalho da sua vida, um dos volumes da coleção The School of Life (Objetiva), e de Sobre a arte de viver (Zahar), Roman Krznaric explica que a escola foi fundada em 2008 com o objetivo de recuperar a prática dos gregos antigos e atender demandas do presente. Segundo ele, nos últimos anos, a Grã-Bretanha observou grande demanda por esse tipo de conhecimento.

“Observamos o revival do interesse por um tipo de filosofia ligada ao dia a dia. A diferença de outras épocas é que, agora, o desejo é generalizado. Tanto jovens e avós quanto estudantes de filosofia que leem Nietzsche na universidade querem conversar sobre amor”, observa ele. A procura por esse tipo de conteúdo ganha força no Brasil e na Austrália, não por acaso os primeiros países a receber as filiais da instituição.

Para Krznaric, a complexidade da vida contemporânea é o motivo da alta procura. “Mais e mais pessoas reconhecem que o alto consumo e o estilo de vida marcado pela tensão não trazem felicidade”, conta. Resulta disso o anseio por formas mais simples de viver e pelo compartilhamento de ideias.

Criada em Belo Horizonte em junho de 2006, a Academia de Ideias surgiu com a proposta de oferecer cursos livres e curtos sobre filosofia e assuntos diversos. Artistas e pensadores vieram à cidade falar de suas experiências, profissionais de outras áreas partilharam conhecimentos com o público.

Quando foi implantado, o projeto dirigido por Alexandre Michalick surpreendeu, mas não conseguiu sustentabilidade. “Belo Horizonte não absorveu o projeto. Fizemos vários encontros e, por fim, decidimos não lutar contra o mundo”, desabafa. A Academia de Ideias redirecionou seu foco para a educação empresarial. Há planos para disponibilizar o conteúdo de cursos on-line ainda este ano.

On-line
A internet é a casa de projetos voltados para a arte de viver que nascem espontaneamente. O site Agora sim, das publicitárias mineiras Marina Moretzsohn e Lilian Rezende Barbosa, é um exemplo. Depois de participar de palestra sobre criatividade e inovação, Marina percebeu que poderia usar sua aptidão para escrever de outras formas. Colega de agência, Lilian foi convidada a aderir ao projeto. As duas criaram um blog cuja matéria-prima são as histórias de pessoas que trocaram de profissão em busca de felicidade.

“Tudo começou de forma completamente despretensiosa, sem a intenção de virar o que virou. Recebemos e-mails que nos dão até vontade de chorar”, conta Marina. Com pouco mais de um ano, o Agora sim acumula 12 mil visitantes por dia em média. Nos posts há vídeos com histórias de leitores, dicas sobre como lidar com o ambiente de trabalho ou mesmo desistir dele.

Venda
Mesmo que a prática difundida pela The School of Life ganhe força no Brasil, a filósofa Márcia Tiburi recomenda: muita calma nesta hora. “Tenho medo quando as pessoas começam a vender filosofia como se fosse um brinquedinho”, alerta a escritora e professora. Se a lição dos gregos de usá-la para o diálogo é uma grande contribuição, o ato de filosofar deve condizer com o presente, adverte Márcia. “Temos de criar nossa filosofia hoje. Ela pode ser algo diferente do que foi feito no passado”, desafia.

Tiburi sobrevive dos encontros filosóficos que mantém com alunos e plateias em todo o país. Em agosto, ela lança Sociedade fissurada: para pensar as drogas e a banalidade do vício, escrito em parceria com Andrea Dias a partir de seminário realizado em Belo Horizonte.

“Filosofia nos ensina a pensar”, reforça a professora. Para ela, uma possível explicação para o crescente interesse dos brasileiros pela disciplina está ligado à abertura política, ainda recente no país. “A filosofia que gosto de fazer é crítica, desmitificatória e, ao mesmo tempo, em diálogo com o mundo em que vivo. Não é contentamento das massas nem adulação. Creio que as propostas facilitadoras trazem isso”, adverte.

AGENDA

O circuito inaugural dos sermões da The School of Life no Brasil está marcado para 18 de agosto, no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro. O professor Zeca de Mello vai falar sobre gratidão. Roman Krznaric abordará o tema empatia, nas capitais fluminense e paulista. Em novembro, o artista plástico Vik Muniz discutirá a criatividade. Informações: www.facebook.com/theschooloflifebrazil

Um comentário:

  1. Gostaria de aproveitar para fazer algumas recomendações de livros e filmes, os quais possuem não só estreita relação com relacionamentos como também com a dinâmica do funcionamento dos eventos desta vida. Li os livros e pela sua relevância desejo compartilhar com todos.
    Há um ótimo livro, referência em matéria de relacionamentos, o qual se chama: “Por que amamos de autoria de Helen Fisher”.
    Este livro pode ser encontrado nas principais livrarias e também no site: www.estantevirtual.com.br.
    Outro livro, referência no assunto Mecânica Quântica”, denomina-se “O UNIVERSO CONSCIENTE de AMIT GOSWAMI, editora Aleph”. Trata da mecânica do universo, ou seja, ajuda a entender como os fenômenos de nossas vidas funcionam na prática.
    Outro livro bem interessante é o “O caminho Infinito de autoria de Joel Goldsmith”. Trata da espitualidade no mais alto nível de consciência.
    Um filme que ajuda a entender a importância deste assunto é: “QUEM SOMOS NÓS”, o qual pode ser encontrado no site: www.youtube.com.br
    Ats.

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