terça-feira, 23 de julho de 2013

Brasileiros se aventuram na onda boa de filmes de ficção científica - Rodrigo Salem

folha de são paulo
RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO
Poucos cineastas brasileiros ousam se arriscar na ficção, mesmo depois do avanço da tecnologia e do
barateamento dos equipamentos.      








Má há indícios de que esse desprezo pelo gênero pode mudar, já que alguns jovens estão ganhando destaque internacional nesse terreno arenoso da ficção científica.



O principal trabalho do tipo é o curta-metragem "The Flying Man", escrito, dirigido e

financiado pelo brasiliense Marcus Alqueres, 34, que fez desenho industrial na UFRJ e há oito anos trabalha fora do país como animador. Outros brasileiros fizeram parte da sua empreitada: o roteirista Henry Grazinoli, o animador João Sita e o compositor Roger Lima, que fez a trilha sonora.

Ficções científicas brasileiras

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Divulgação
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Cena do curta 'The Flying Man', do brasileiro Marcus Alqueres
Alqueres vive em Toronto, no Canadá, onde concebeu seu curta sobre uma figura voadora estranha que aparece nos céus da cidade e assusta a população --apesar de apenas atacar quem tem ficha criminal.
"A maioria dos filmes de super-heróis é sob a ótica deles mesmos, mas eu queria pensar como seria o outro lado, a surpresa de ver alguém voando", conta Alqueres.
Com bons efeitos especiais e trama, "The Flying Man" começou a se espalhar rapidamente. Em uma semana, havia sido visto mais de 300 mil vezes. O site Vimeo o escolheu como destaque da semana e o jornal americano "USA Today" estampou em suas páginas o sucesso do curta de apenas 9 minutos.
Mas o grande elogio veio de Joe Quesada, chefe criativo da Marvel Entertainment: "Palavras não podem expressar o quanto amei esse curta", escreveu no Twitter.
"Fiquei satisfeito com o comentário, é um reconhecimento por alguém que entende do assunto", diz o cineasta, que sonha um dia adaptar um dos filmes da Marvel para o cinema e já tem um agente em Hollywood para transformar "The Flying Man" em longa-metragem.
Assista "The Flying Man":
Gabriel Kalim Mucci, paulista de 31 anos, não teve o apoio da Marvel na divulgação informal, mas o trailer de seu curta pós-apocalíptico "Lunatique" (veja o trailer) foi uma das atrações do site americano "Twitch", segundo o qual "a América do Sul continua provando ser um celeiro de novos talentos para o gênero".
Os brasileiros seguem o exemplo do diretor uruguaio Fede Alvarez, que foi contratado para dirigir o remake milionário de "A Morte do Demônio", em Hollywood, após seu curta-metragem sobre robôs gigantes virar uma sensação na internet.
VISÃO ROMÂNTICA
"Lunatique", que foi todo filmado no centro antigo de Santos por R$ 200 mil, está agora em pós-produção.
O curta conta a história de uma sobrevivente solitária que precisa fazer incursões pela cidade para angariar mantimentos --até ser caçada por uma criatura. O filme chama a atenção pelo cuidado na direção de arte e pelos ângulos de câmera.
"O cinema de gênero não é valorizado no Brasil, mas tenho uma visão romântica de que posso ajudar a consolidar a ficção científica por aqui", diz Mucci, o diretor formado em cinema pela Faap.
É a mesma ideia de Carlos G. Gananian, 33, ex-sócio de Mucci na Geral Filmes, que rodou o mundo com seu curta vampírico "Akai", em 2006, mas agora investiu em um conto de ficção científica chamado "AM/FM", que fica pronto mês que vem e usa recursos de stop-motion (quadro-a-quadro), animatronics (criaturas animadas mecanicamente) e miniaturas.
O curta é entrelaçado por imagens do presente de um mendigo atacado por visões e por flashbacks em preto e branco que homenageiam antigos filmes do gênero.
Os três cineastas têm em comum a dificuldade de financiar os filmes no Brasil e de mostrá-los em festivais.
"Não sinto entusiasmo com o cinema fantástico por aqui. Será mais fácil fazer um longa fora do que no Brasil, como o diretor de 'A Morte do Demônio'", crê Gananian, também formado na Faap.
"O cinema brasileiro está se solidificando como mercado", diz Cláudio Torres, que dirigiu a comédia de ficção científica "O Homem do Futuro", um sucesso com mais de 1 milhão de espectadores.
"A ficção científica é um gênero curioso no mundo inteiro e não tem aceitação garantida. Mas temos um terreno fértil, como o ET de Varginha, [o paranormal] Thomas Green Morton e pistas de aterrissagem de discos voadores no Planalto Central", diz ele.
É, também, um dos gêneros mais lucrativos do cinema: o filme "Avatar", por exemplo, é a maior bilheteria da história, com US$ 2,7 bilhões em caixa.

CRÍTICA FICÇÃO
Curta nada fica a dever a blockbusters
ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHANão é à toa que o curta-metragem de "The Flying Man", de Marcus Alqueres, tem recebido elogios: o filme é muito bem feito e bem dirigido. Se foi, como afirma Alqueres, produzido com orçamento baixíssimo, é caso a ser estudado por estúdios, já que os efeitos especiais, a montagem e a edição de som não ficam nada a dever a produções milionárias.
O filme começa com cenas impactantes, que mostram o "Homem Voador" sobrevoando uma cidade. A aparição provoca caos, engarrafamentos e acidentes de trânsito.
O filme é contado do ponto de vista dos habitantes da cidade. O misterioso herói é mostrado só de longe, o que aumenta o clima de mistério.
Logo, o ser voador passa a atirar pessoas do céu. Descobre-se que ão todos criminosos, com longas fichas na polícia. Entram em cena dois sujeitos em um carro. Estão a caminho de alguma transação criminosa -- não fica claro de que tipo -- e conversam sobre o justiceiro.
Grande parte dos nove minutos de duração do curta se passa dentro do carro, onde um dos homens se mostra preocupado com as notícias sobre o ser que mata bandidos, enquanto o outro só quer completar a transação.
"The Flying Man" parece mais um cartão de visitas, um trailer que apresenta um super-herói misterioso e atiça a curiosidade do espectador para saber mais sobre o personagem. O curta tem um final em aberto, que deixa mais dúvidas que respostas.
Fica evidente que Alqueres só deu um aperitivo, uma pequena amostra do que é capaz de fazer.
Seus efeitos especiais, realizados em parceria com João Sita --que trabalhou com efeitos visuais em "300" e "A Saga Crepúsculo: Amanhecer "" Parte 2"-- impressionam, e a música e os efeitos sonoros, de Roger Lima, são de primeira.
Que venha "The Flying Man", o longa-metragem.

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