terça-feira, 23 de julho de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo
A crise na saúde
Deficiências do SUS são graves demais para que governo e classe médica se percam numa disputa infrutífera como a atual
A vocação atávica dos governos petistas para dar mais atenção ao marketing que ao planejamento, de um lado, e o usual corporativismo da classe médica, de outro, conspiram para inviabilizar o que poderia ser uma iniciativa séria para tirar a saúde pública de sua precariedade crônica.
A carência de médicos é uma das graves deficiências do setor. O Brasil tem 1,8 profissional para cada mil habitantes. Não muito menos que os EUA (2,4 por mil), mas a distribuição é péssima: 22 Estados ficam abaixo da média nacional. Estima-se o deficit de profissionais, por aqui, em cerca de 54 mil.
O programa Mais Médicos, lançado às pressas pela presidente Dilma Rousseff como resposta aos protestos de junho, desatou um fluxo hemorrágico de críticas por parte das associações de classe.
A escalada de sintomas atingiu o clímax com o abandono das comissões oficiais por essas entidades e sua anunciada intenção de barrar o programa na Justiça. O prognóstico é deprimente: nenhum governo conseguirá reanimar o combalido SUS (Sistema Único de Saúde) por medida provisória e sem a cooperação dos líderes da profissão.
O Mais Médicos se apoia em dois pilares. O primeiro deles, que começaria a surtir efeito em 2021, iria acrescentar dois anos aos seis do curso de graduação em medicina. O chamado segundo ciclo, a iniciar-se em 2015, seria cumprido obrigatoriamente no SUS.
A reação a esse trecho do programa decorre de certo autoritarismo que o contaminou. Se faz sentido obter retribuição de quem se beneficia do ensino gratuito em universidades públicas, soa abusivo impor essa atuação ao aluno que custeia os próprios estudos, obrigando-o, ademais, a morar em determinada região contra sua vontade.
O outro pilar objetiva suprir as unidades básicas de saúde com profissionais até que a mão de obra do segundo ciclo se materialize. Trata-se do edital para médicos formados no Brasil e no exterior preencherem os postos vagos em 2.868 municípios, metade dos quais sem um único profissional.
As entidades da classe têm sua razão ao dizer que não basta o médico --ele precisa de instalações, auxiliares e medicamentos. Mesmo assim, é melhor ter o profissional presente, ainda que em condições precárias, do que não tê-lo.
Além disso, o governo diz que vai investir R$ 15 bilhões até 2014 para melhorar a infraestrutura de saúde, R$ 5,5 bilhões dos quais em verbas novas para construir 6.000 postos e reformar outros 11,8 mil.
São prioridades corretas para melhorar, no longo prazo, a saúde pública brasileira? É esse tipo de questão que governo e médicos deveriam discutir. O assunto requer amplo debate. Para tanto, Planalto e entidades de classe precisam abandonar a intransigência e chegar a um entendimento.
    EDITORIAIS
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    Licença para mudar
    A coalizão partidária do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, obteve vitória por ampla margem nas eleições da Câmara Alta (espécie de Senado do país), realizadas no domingo. Os parlamentares governistas formarão maioria também nessa casa legislativa, vantagem já assegurada na Câmara Baixa no fim do ano passado.
    Cristaliza-se, assim, a reabilitação do conservador Partido Liberal Democrático (PLD), que, no pleito de 2009, havia sido derrotado após cerca de meio século de controle político do Japão.
    O resultado corrobora o apoio popular à estratégia de Abe, ora em curso, para destravar a economia japonesa, imobilizada há mais de duas décadas pela deflação e pela recessão intermitentes.
    Desde que assumiu o governo, em dezembro, o primeiro-ministro passou a implementar um agressivo programa de estímulos que amplia os gastos públicos e afrouxa, de maneira sem precedentes, o controle sobre a quantidade de moeda em circulação.
    O plano tem se mostrado exitoso. A Bolsa japonesa subiu 40% desde então, e o FMI revisou de 1,5% para 2% a previsão de crescimento do país para este ano. Não surpreende que a popularidade de Abe atinja altos índices.
    Analistas são unânimes em afirmar, contudo, que essa foi a parte indolor do pacote --as iniciativas mais difíceis estão por vir.
    A pretensão do primeiro-ministro é aprovar medidas reformistas --que, por isso mesmo, enfrentam maior resistência. Abertura comercial e flexibilização do mercado de trabalho são alguns dos pontos centrais em que ele busca avançar.
    O primeiro item, contudo, esbarra no interesse econômico de produtores agrícolas, que dão sustentação ao partido de Abe. O segundo colide com a cultura ancestral japonesa. Com o nascimento de menos crianças, tornou-se importante para o país incentivar a força de trabalho feminina, o que não encontra amplo respaldo social.
    Shinzo Abe encara os obstáculos com ousadia. A fim de fomentar a valorização de ativos e salários, por exemplo, ele se comprometeu com a meta, nada trivial para o Japão, de elevar a inflação para 2% já no ano que vem, na expectativa de que o crescimento econômico se sustente nos próximos meses.
    Não é pouco o que está em jogo. Do sucesso de Abe e de sua estratégia --apelidada de "abenomics"-- depende o futuro da terceira maior economia do mundo.

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