sexta-feira, 19 de julho de 2013

Eduardo Almeida Reis - Canoagem‏

Depois de muito matutar, concluí que só o divórcio permite que se conheça o ex-cônjuge 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 19/07/2013 

Primeiro ouro do Brasil em mundiais, o baiano Isaquías Queiroz também subiu ao pódio na etapa da Polônia da Copa do Mundo. Nome admirável: Isaquías! Seria bíblico? Não tenho tempo de procurar fora do Google, que só tem 10 entradas, a maioria para “eis aqui”.

O baiano é canoísta e nasceu em janeiro de 1994. Canoagem foi assunto do meu interesse quando morei no Pantanal do Mato Grosso. O leitor não pode imaginar o sacrifício de um jovem philosopho embarcado numa canoa para caçar onças. O embarque é mais fácil do que nas lanchas de Angra, que frequentei ano passado. Os canoeiros puxam a canoa para o terreno “seco”, entre aspas porque é úmido, os caçadores se assentam no fundo também úmido, pernas esticadas para a frente, os canoeiros empurram a embarcação de volta para a água e passam a movimentá-la com os seus varejões.

Canoa estreita e instável, quatro ou cinco centímetros de borda de cada lado, máquina Rolleiflex, revólver 38 e fuzil militar protegidos da água: o dia inteiro com o rabo do caçador no fundo da canoa, compensando com movimentos de cintura o balouçar da embarcação cavada num tronco.

Ao cabo de 10 horas de caçada, geralmente sem onças abatidas ou fotografadas, não dá para descrever a dor nas cadeiras dos praticantes da arte cinegética, discípulos de Santo Huberto. Dor que durava dias. Bem feito, para o sujeito deixar de caçar onças que não lhe fizeram mal de espécie alguma.

Escavados em troncos maiores havia os batelões, que aceitavam motores de popa. Descendo o Rio Pequeri, à noite, o bugre cadiuéu Norberto deu uma trombada com a testa no focinho de um dourado, peixe teleósteo siluriforme, fluvial, da família dos pimelodídeos (Brachyplatystoma flavicans) de distribuição amazônica. Resultado: fraturou o frontal, osso que ocupa a parte superior dianteira do crânio e é suposto de ser dos mais fortes de nossa ossatura.

Nurba, apelido do cadiuéu, tinha cicatriz na testa afundada. Muita gente achava que era mentira pantaneira, até que um engenheiro-aeronáutico americano, Mr. Fleet, que projetou o avião Convair, caçando por lá e informado da trombada, bem como da velocidade rio abaixo do batelão motorizado, pegou a régua de cálculo e confirmou que a queixada de um dourado de quatro ou cinco quilos quebraria, sim, um osso frontal. Pois muito bem: vosso philosopho, que nunca foi pescador, fisgou logo um dourado de 11 quilos. Procurando direito, acho que ainda tenho foto do finado teleósteo siluriforme só para chatear o jornalista Álvaro Fraga, pescador-em-chefe dos Diários Associados.


Conhecer
Você conhece alguém? Claro que conhece um monte de pessoas, mas pergunto: será que realmente conhece alguém? É questão que me intriga há muitos e muitos anos.

O visual já é um problema. Ainda há pouco a tevê anunciava a opinião de um professor da FGV sobre o problema de manter as tarifas dos ônibus sem reajustes durante o próximo ano e meio. Assunto do meu interesse: não ando de ônibus, mas o Brasil anda. E a comadre que opera o fogão de cinco bocas, dia desses, chegou a sua casa às 11 da noite, mesmo deixando o emprego logo depois das três da tarde. O coletivo quebrou no caminho e não havia outro para resgatar os passageiros.

Não reconheci o visual do professor da FVG: óculos, magro, cabelos brancos. Aí apareceu o nome dele na tela: foi meu colega de ginásio! Por isso, já não pode ser professor da FGV. Deve ter sido professor do próprio Getúlio Vargas, no curso primário de São Borja, RS. Mas o fulcro nesta nossa conversa não é a fisionomia e sim o conhecimento que se tem do caráter de uma pessoa. Depois de muito matutar, concluí que só o divórcio permite que se conheça o ex-cônjuge.

Onde se lê divórcio, podemos ler união estável, que os casamentos à antiga são cada vez mais raros. O certo é que o par divide a casa, o leito, a mesa de refeições durante anos e só vai conhecer o parceiro ou a parceira depois da separação.


O mundo é uma bola
19 de julho de 711: forças muçulmanas comandadas por Tariq ibn Ziad derrotam os visigodos liderados pelo rei Rodrigo na Batalha de Guadalete, assumindo o controlo da Península Ibérica. Em Portugal, que ainda não existia, diz-se controlo, e o rei Rodrigo também atendia por Ruderic, Roderic, Roderik, Roderich ou Roderick, bem como por Ludhariq, era filho do rei Chindasvinto e da senhora Riccilo. Com ele terminou o Reino Visigótico de Toledo, onde se fazem ótimos instrumentos de corte.

Em 1553, como vimos outro dia, Maria I assume o trono da Inglaterra depois de expulsar Jane Grey, que reinou por exatos nove dias. Em 1900, inauguração do metrô de Paris. Cento e treze anos depois, o projeto do metrô de Belo Horizonte vai de vento em popa. Hoje é o Dia do Futebol, da Caridade, da Junta Comercial e dos Povos Oprimidos.


Ruminanças
“Num país sério, aquela castanhola inventada por um gênio da imbecilidade para fazer barulho dos estádios das Copas daria cadeia para uma porção de gente conhecida” (R. Manso Neto).

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