domingo, 21 de julho de 2013

'Un certo cardinale...' - Carlos Heitor Cony

folha de são paulo
RIO DE JANEIRO - Perguntado sobre o maior defeito da mídia, respondi que era a redundância. Quando há uma pauta relevante, todo mundo escreve ou comenta a mesma coisa. Temos agora o papa Francisco, que está para chegar ao Rio. Todos os escribas já escreveram sobre o assunto.
É um homem humilde, que andava de metrô e ônibus pelas "calles" de Buenos Aires, é amigo de Messi, torcedor do San Lorenzo e fã de Francisco Canaro "y su orquestra típica". Sabe todos os tangos de Gardel e Libertad Lamarque. É amigo dos judeus e rabinos.
Vou engrossar o assunto. Um sujeito foi a Roma para falar com o papa. Tinha feito um casamento desastroso e queria anulá-lo, informaram-lhe que somente o papa poderia fazê-lo, após demorado processo no Vaticano.
Chegando à cidade eterna, procurou com desespero um jeito de chegar à Sua Santidade. Indicaram-lhe um cara que conseguia tudo, os melhores contatos com as autoridades, os melhores restaurantes e museus, sobretudo, as melhores mulheres e os melhores travestis para qualquer gosto.
Encontrou o cafetão, que lhe mostrou fotos das mais famosas profissionais da "dolce vita", acrescentando detalhes: "Esta tem 15 anos, virgem, faz tudo... 2 mil euros...". O sujeito ia recusando todas até que o cafetão perdeu a paciência: "Ma lei cosa vuole?" (o que você quer?).
O sujeito foi claro. Queria falar com o papa, só com ele. O cafetão pensou um pouco. Nunca lhe haviam feito pedido de tamanha envergadura. Pensou ter ouvido mal e perguntou de novo. Recebeu a mesma resposta:
-- Voglio il papa!
-- Il papa???
-- Sì. Il papa!
Abaixando a voz, o cafetão disse:
--Il papa? Il papa é troppo difficile... ma, un certo cardinale...

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