domingo, 21 de julho de 2013

Pontífice enfrentará riscos reais em viagem ao desconhecido - JOHN L. ALLEN JR. DA “NATIONAL CATHOLIC REVIEW

folha de são paulo
ANÁLISE
A viagem do papa Francisco ao Brasil quase certamente será vista como um sucesso absoluto. Ele provavelmente atrairá multidões entusiasmadas, seu estilo caloroso e informal deve ser bem recebido e sua preocupação com os pobres deve calar fundo numa sociedade onde justiça social é uma ideia fixa.
Além disso, em meio a uma onda de descontentamento, os brasileiros parecem ansiar por uma narrativa positiva a seu próprio respeito. Quando tudo terminar, a manchete dominante provavelmente será algo como: "Francisco traz a paz e conquista corações".
Mas cada viagem pontifical é uma viagem para o desconhecido, e Francisco enfrenta riscos reais desta vez.
As ruas brasileiras entraram em ebulição recentemente, e uma das principais causas é a percepção de que o governo gasta rios de dinheiro com eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada, enquanto educação, saúde e transportes vão de mal a pior.
Teoricamente falando, os brasileiros podem ver a Jornada Mundial da Juventude como mais um caso em pauta e descarregar suas frustrações no papa. Mas há pelo menos três razões pelas quais isso parece muito improvável.
Para começar, há uma dinâmica básica nas viagens papais. Tempestades potenciais, como o ressentimento gerado pelos custos e a reação pública à mensagem do papa, dominam a cobertura da mídia no período que antecede a visita. A partir do momento em que o pontífice desembarca, as coisas se desenrolam melhor que o esperado, e ao final a viagem é qualificada como sucesso.
Em segundo lugar, Francisco chegará gozando de alto nível de popularidade, além da percepção de que ele se solidariza com as preocupações que empurraram os manifestantes brasileiros às ruas.
Poucos movimentos de qualquer vertente dedicados à busca da justiça iriam querer desentender-se com ele. Em vez disso, os antagonistas nas tensões internas do Brasil parecem estar competindo entre eles para ver quem consegue demonstrar mais deferência e respeito a Francisco.
Ativistas anunciaram que farão protestos gritando: "Papa, veja como somos tratados!". O que se presume é que expor os erros da classe política nacional diante dos olhos do papa Francisco pode envergonhar os políticos, levando-os a promover reformas.
Pode não ser de bom agouro para os políticos, mas não parece prenunciar qualquer reação antipapal maciça.
Em terceiro lugar, não há comparação entre a Copa e a Olimpíada, de um lado, e a Jornada Mundial da Juventude, de outro, em termos do volume de recursos públicos investidos, que é muito menor no caso do evento católico.
Quando os brasileiros se derem conta da disparidade, provavelmente terão menos inclinação para incluir a viagem papal no rol dos outros alvos de seu ressentimento.
Sempre que um líder mundial aparece em público, existe um pequeno risco de violência. Embora não haja razões para imaginar que isso seja mais provável no Brasil que em outro lugar, também não existem razões para pensar que seja menos provável.
DISPUTAS INTERNAS
Outro risco é que palavras e atos de Francisco sejam explorados por políticos, ativistas, analistas e veículos da mídia para reforçar posições nas disputas internas do país.
Perguntei a um jornalista brasileiro veterano qual será a reação se, por exemplo, o papa Francisco disser algo genérico sobre pobreza em seu primeiro encontro com a presidente Dilma Rousseff, na tarde desta segunda-feira.
Sem parar para pensar, eis o que o jornalista respondeu: "Imprensa brasileira: 'Papa pressiona Dilma a fazer mais pelos pobres'. Manifestantes: 'O papa está do nosso lado!' Oposição política: 'Papa apoia necessidade de mudanças'. Facção de Dilma: 'Papa endossa nosso programa'."
No final da viagem ainda existe um risco de que ela seja interpretada como presente político para alguém, com o potencial de antagonizar o lado visto como perdedor.
Mas provavelmente o maior risco que o papa enfrentará é que sua viagem seja um sucesso no curto prazo, mas não traga as consequências de longo prazo que ele sem dúvida gostaria que tivesse.

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