sexta-feira, 12 de julho de 2013

Vera Magalhães

folha de são paulo
Marina e o 'Zeitgeist'
SÃO PAULO - Depois de três anos sem vê-la pessoalmente, assisti ontem a uma palestra de uma hora de Marina Silva. E é impressionante como o discurso da virtual presidenciável em 2014 encontrou eco nas jornadas de junho em todo o país.
Na eleição de 2010, o repórter Bernardo Mello Franco batizou de marinês'' o conjunto de expressões com que a ex-petista buscava "ressignificar'' a política. Na época, termos como inflexão civilizatória'' e desadaptação criativa'' pareciam saídos de um texto de realismo fantástico, à la Dias Gomes em "Saramandaia''.
Agora, depois que milhões saíram às ruas, o marinês'' soa mais conectado com a nova realidade --embora, assim como ela, continue difícil de traduzir pelo léxico ortodoxo.
A ex-senadora percebeu o gancho da história e trata de aproveitar o "Zeitgeist", palavra alemã para o "espírito do tempo'', que ela, não por acaso, não se cansa de evocar.
Marina frisou que está há mais de três anos sem partido''. O que antes era uma fragilidade virou trunfo, como mostra o sem partido!'' gritado em coro nas manifestações pelo país.
Criticou as instituições tradicionais da democracia --que, segundo ela, não dão conta da diversidade da sociedade--, ecoando o bordão não me representa'', das redes sociais.
A ideologia difusa, a familiaridade com o novo ativismo digital e a agenda sem preocupação com viabilidade financeira terminam por explicar por que Marina foi a única política que cresceu após a onda de protestos.
Os partidos tradicionais já perceberam que não será mais possível tentar inviabilizar a Rede da ex-senadora com manobra no Congresso.
Marqueteiros também acham que o patamar de 20% que ela alcançou nas pesquisas se manterá até 2014.
Resta a eles usar as contradições da ex-ministra --que saúda a ciência a cada duas frases, mas segue aferrada a dogmas religiosos-- e a falta de concretude de muitas de suas ideias para tentar desconstruir o que as ruas trataram de legitimar.

    3 comentários:

    1. "Resta a eles usar as contradições da ex-ministra --que saúda a ciência a cada duas frases, mas segue aferrada a dogmas religiosos-- e a falta de concretude de muitas de suas ideias para tentar desconstruir o que as ruas trataram de legitimar."

      Bê, a mesma critica poderia se aplicar a Martin Luther King, Bispo Tutu, Cardeal Arns, Frei Betto, Leonardo Boff, etc. Ou melhor, nem todos eles "saudam a ciencia a cada duas frases", mas Marina, como convive diariamente com biologos e ambientalistas, absorveu a visao cientifica (por exemplo, ela já declarou à exaustao que nao é criacionista, mas a midia nao enfatiza isso). Dizer que Marina é aferrada a dogmas religiosos (apenas por sua espiritualidade) seria o mesmo que dizer que Frei Betto é aferrado a dogmas religiosos. Na verdade, Frei Betto seria mais aferrado a dogmas (pois eles existem na Igreja Catolica, sao o equivalente a clausulas petreas em uma constituicao). Nao consta que igrejas evangelicas tipo Assembleia de Deus tenham "dogmas" (no sentido tecnico do termo). Tais igrejas tem uma teologia bastante mutavel no tempo, e talvez um conjunto de crencas minimo (tipo o credo apostolico) que poderia ser chamado de dogmatico. Em todo caso, o numero de dogmas (clausulas que definem uma dada religiao) assumidos pelos pentecostais é MUITO menor do que os assumidos pela Igreja Catolica, Ortodoxa ou mesmo Anglicana.

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    2. Já vi um teologo catolico defendendo a ideia de dogmas do seguinte jeito: se voce tem bem claro o que sao os dogmas da igreja, isso define que todos os outros topicos de fé e comportamento nao sao dogmas, sao opinioes, que podem ser mudadas e discutidas. No caso dos evangelicos, por outro lado, isso pode ser um problema: dado que nao se define quais sao os dogmas, certas opinioes e doutrinas, por pura inercia, acabam virando dogmaticas na pratica, o que causa grande confusao.



      Para ver o sentido de dogma, basta consultar a WIKIPEDIA:
      Dogma
      Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
      Disambig grey.svg Nota: Para outros artigos outros significados, veja Dogma (desambiguação).
      Portal A Wikipédia possui o:
      Portal de Filosofia
      Dogma é uma crença ou doutrina estabelecida de uma religião, ideologia ou qualquer tipo de organização, considerada um ponto fundamental e indiscutível de uma crença. O termo deriva do grego δόγμα, que significa "aquilo que aparenta; opinião ou crença"1 , por sua vez derivada do verbo δοκέω (dokeo) que significa "pensar, supor, imaginar".2
      Índice [esconder]
      1 Dogma na religião
      2 Uso pejorativo
      3 Referências
      4 Ver também
      Dogma na religião[editar]

      Dogmas são encontrados em muitas religiões como o budismo, cristianismo, islamismo e o judaísmo, onde são considerados princípios fundamentais que devem ser respeitados por todos os seguidores dessa religião. Como um elemento fundamental da religião, o termo "dogma" é atribuído a princípios teológicos que são considerados básicos, de modo que sua disputa ou proposta de revisão por uma pessoa não é aceita nessa religião. Dogma distingue-se da opinião teológica pessoal. Dogmas podem ser clarificados e elaborados, desde que não contradigam outros dogmas (por exemplo, Gálatas 1:8-9). A rejeição do dogma é considerado heresia ou blasfêmia em determinadas religiões, e pode levar à expulsão do grupo religioso.
      Para a maioria do cristianismo oriental, os dogmas estão contidos no Credo Niceno-Constantinopolitano e nos cânones dos dois, três ou sete primeiros concílios ecumênicos (dependendo se o grupo seria nestorianos, não-calcedonianos ou ortodoxos). Estes princípios são resumidos por São João de Damasco em sua Exposição Exata da Fé Ortodoxa, que é o terceiro livro de sua obra principal, intitulada A fonte do Conhecimento. Neste livro, ele assume uma dupla abordagem para explicar cada artigo da fé ortodoxa para os cristãos, onde ele utiliza citações da Bíblia e, ocasionalmente, de obras de outros Padres da Igreja, e outro, dirigido a não-cristãos (mas que, no entanto, tem algum tipo de crença religiosa) e, ateus, para quem emprega a lógica aristotélica e a dialética, ad absurdum especialmente o reductio.
      Os católicos também têm como dogma as decisões dos vinte e um concílios ecumênicos e dois decretos promulgados por papas que exerçam a infalibilidade papal (a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria). Protestantes afirmam em graus diferentes partes destes dogmas, e muitas vezes dependem de uma confissão de fé para resumir os seus dogmas.
      No Islã, os princípios dogmáticos estão contidos no Aqidah. Dentro de muitas denominações cristãs, o dogma é referido como simplesmente "doutrina".
      Uso pejorativo[editar]

      O termo "dogma" é muitas vezes usado pejorativamente para se referir a qualquer crença que é mantida insistentemente, como nos debates entre os marxistas, às vezes, é aplicada a convicções políticas3 , ou ao fanatismo religioso.4

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    3. Nao apenas as religioes, mas as ideologias politicas possuem dogmas, ou seja, o nucleo duro do programa de pesquisa de Lakatos, que é dogmatico. Por exemplo, no liberalismo economico, é um dogma de que mercados livres otimizam o bem-estar economico. Se vc deixa de acreditar nisso, vc já nao é mais um liberal economico. Da mesma forma, é um dogma da Psicanalise que existe o inconsciente (masi forte ainda, que existe a tendencia de se reprimir desejos, que formam parte do inconsciente). Se vc renunciar a esse dogma (que nao tem evidencias cientificas concretas) você deixa de ser psicanalista, voce vira discipulo de Jung ou outra coisa qualquer.

      Da mesma forma, a Fisica moderna (realista, nao versoes nominalistas) se baseia nos seguintes dogmas:

      1) Existem leis da Fisica a serem descobertas (e nao apenas inventadas pela mente humana);
      2) Leis da Fisica nao podem ser violadas, ou seja, valem para todos os pontos do espaço-tempo
      3) A mente humana, ou talvez a rede social que forma a comunidade dos fisicos, tem a priori a capacidade computacional para descobrir todas as leis da Fisica.
      4) Teorias fisicas (fundamentalmente) diferentes podem ser distinguidas, agora ou no futuro, por experimentos. Ou seja, postula-se que nao existem duas teorias fisicas com postulados fundamentalmente diferentes que nao predigam fatos diferentes. Este é o dogma mais fraco, pois podemos bem imaginar duas teorias cujos fundamentos sejam diferentes, mas que nao possam ser distinguidas por experimentos agora ou no futuro.

      Sem a adesao pelo menos metodologica à tais dogmas metafisicos, que definem o projeto filosofico da Fisica, você nao pode exercer a pesquisa em Física. Nesse sentido, fisicos e outros cientistas sao agarrados a dogmas metafisicos (os dogmas que definem o Naturalismo Filosofico, por exemplo). Tais dogmas filosoficos nao podem ser falseados deforma Popperiana, ou seja, nao existe maneira experimental de refutá-los: é por isso que sao dogmas ou postulados metafisicos. A melhor descricao dos dogmas cientificos (e mesmo de dogmas de teorias fisicas) pode ser encontrada na Filosofia da Ciencia de Lakatos.

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_de_pesquisa

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