sábado, 10 de agosto de 2013

Cassiano Elek Machado - Filósofo debate 'revoluções morais' atuais

folha de são paulo
Britânico Kwame Anthony Appiah fala em São Paulo sobre grandes transformações recentes de condutas sociais
Morte por honra no Paquistão e casamento gay nos EUA são temas de palestra do 'Fronteiras do Pensamento'
CASSIANO ELEK MACHADODE SÃO PAULOAo final de uma resenha do "New York Times" sobre um livro de Kwame Anthony Appiah, o autor do texto afirmava "o detetive Appiah está trabalhando no caso mais difícil de todos: quem somos, moralmente falando, e como chegamos até o ponto atual?".
É esta complexa pergunta que o teórico cultural inglês, de origem ganesa, vai tentar responder no palco de um teatro de São Paulo, na noite da próxima quarta-feira.
Referência mundial em estudos sobre a moral, o professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, virá ao país para participar do ciclo de conferências "Fronteiras do Pensamento".
"Pretendo tratar das revoluções morais que estão acontecendo neste momento, enquanto nós conversamos", adianta Appiah, 59, em entrevista à Folha por telefone, de Nova York, onde vive.
A palestra "As Revoluções Morais do Século 21" retomará conceitos apresentados no livro mais recente de Appiah, tema da resenha citada, que o qualificou como "um dos filósofos mais relevantes da atualidade".
"O Código de Honra" (Companhia das Letras, 2012, tradução de Denise Bottmann) trata de grandes mudanças de padrões morais, ou "revoluções morais", e de como questões relacionadas à honra são decisivas para tal.
No livro, Appiah discute sobretudo revoluções do passado longínquo: o fim do costume chinês de amarrar os pés das meninas, para que não crescessem, ou a abolição da prática do duelo na Inglaterra, ambas no século 19.
Na palestra, ele direciona o mesmo tipo de interpretação para fenômenos mais recentes, como a mudança de aceitação do casamento gay nos Estados Unidos.
"Há 20 anos a maioria das pessoas no país diria que a ideia do casamento gay é totalmente ridícula. Hoje se você falar com jovens americanos, 70% deles vão defender sua aprovação."
Para Appiah, as revoluções morais são mais locais do que globais. "Elas têm um padrão que faz com que as tendências globais caminhem numa direção, mas os ganhos das revoluções sejam colhidos localmente."
Assim, em muitos países não se pode falar em "ganhos". Ele cita como exemplos países da África, como Uganda, Gana e Nigéria, e a "profusão de casos de homofobia" na Rússia.
Questões ligadas a sexualidade e a gênero são predominantes nas análises de Appiah sobre o presente porque, nelas, diz ele, as pessoas tendem "a defender atitudes inconsistentes com suas posturas em geral".
Outras áreas nas quais o "detetive" Appiah identifica mudanças de conduta de grandes proporções nas últimas décadas foram o sistema prisional dos Estados Unidos ("abaixo de qualquer padrão de direitos humanos"), a defesa dos direitos dos animais e o assassinato por honra em países como o Paquistão.
"Muito recentemente grupos da sociedade civil começaram a obter avanços importantes e mudar a atitude das pessoas com relação a isso. Mais de 5000 mulheres vinham sendo mortas por ano."
KWAME ANTHONY APPIAH - FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
QUANDO quarta-feira, às 20h30
ONDE Teatro Geo - Complexo Cultural Ohtake (r. dos Coropés, 88, Pinheiros, São Paulo)
QUANTO ingressos esgotados

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