sábado, 10 de agosto de 2013

Tal pai, tal time - Xico Sá

folha de são paulo
No geral, seja onde for, a resistência paterna é grande. É desgostoso. Pai Bahia, filho Vitória
Amigo torcedor, amigo secador, o pior desgosto de um pai que é doente por futebol é ver o filho trair a sucessão clubística. Uma loucura. Pai são-paulino, filho corintiano. Pai Fla, filho Flu, como veremos no primeiro clássico do gênero amanhã no Maraca.
Perder esse jogo caseiro é uma tragédia grega para muitos.
Acontece até com os herdeiros da família real da Inglaterra. Menos em Barcelona e no Recife. Exagero à parte, são duas cidades que se negam, no geral --e até com algum folclore--, a este tipo de acontecimento. "Você está maluco, isso é impossível em toda a Catalunha", me diz aqui no Rio o colega Pau Ramirez, Paulo em terras cariocas, para evitar a piada pronta e tomar o seu chope em paz.
Paulo trabalha como correspondente de emissoras de rádio espanholas e escreve para o site daquele time grená que me recuso a pronunciar o nome depois do amistoso com o Santos. Uma das coisas que mais chamam a atenção do rapaz é essa "permissividade" clubística entre pais e filhos. O catalão tenta entender. Não consegue. Mesmo. É muita sacanagem tropical para o seu jeito de ver a vida.
Um pai rubro-negro do Recife diria o mesmo: ter um filho torcedor da "minhoca" é motivo para deserdá-lo. Minhoca é o pejorativo da "cobrinha", o Santa Cruz. Um rebento fã da "cachorra de peruca"? Deus o livre, diria um pai tricolor. Donde cachorra vem a ser, obviamente, o Leão da Ilha do Retiro. E assim segue o jogo dos bichos.
No geral, seja onde for, a resistência paterna é grande. É desgostoso. Pai Bahia, filho Vitória. Pai Raposa, filho Galo. Neste caso vale para Atlético x Cruzeiro e também serve em um dos clássicos mais quentes do país, o Campinense x Treze. Paissandu, filho Remo. Nem no Círio de Nazaré é recomendável!
Pior é perder a guerra clubística para o sucessor de fato, o novo marido da mulher. Casal se separa com o filho ainda indeciso... Vem o amigo urso e leva o pivete, com sangue italiano, a torcer pelo Corinthians. Aí é tomar cuidado para que o caso não pare no Datena. Calma, é do jogo, tente entender que menino é um bicho oportunista, ama torcer pelo time que está no auge.
Vai ver ficou impressionado com a Libertadores e com o efeito Tóquio. Acontece nas melhores famílias paulistanas. Eu disse calma, violência, calma, como na música do Fagner, tricolor do Pici e das Laranjeiras.
Agora, silêncio. Rute não tem um ano sequer de vida. Dorme inocentemente a essa hora. Bairro das Graças, Recife. O pai, Beto Azoubel, é Sport. Poly Camarotti, a mãe, Santa Cruz. Não é uma mãe qualquer: morre de amores pelo santinha. Suspense. Será que vai torcer pelo Náutico, para evitar maiores refregas e reduzir o drama caseiro? Eis o belo embate. Em nome desta (ainda) silenciosa dúvida, feliz dia dos pais a todos.

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