quinta-feira, 15 de agosto de 2013

EDUARDO ALMEIDA REIS-Escrever bem‏

Estado de Minas - 15/08/2013

O Enem de outubro vai examinar milhões de jovens: suas redações valem um quinto da nota. Cada uma passará pelo crivo de dois professores, dos 7 mil contratados: sete mil! E muito de desejar que a meninada capriche nos textos, sem gracinhas do tipo receita de miojo e hino do Palmeiras, que não têm graça nenhuma.

Esse belo nariz de cera suscita o tema “escrever bem”. Que é escrever bem? É compor um texto de 300, 500, 900 palavras sem erros de português, articulado, inteligível, respeitando a norma culta? Sim e não. Todo santo dia temos na mídia textos assim, geralmente insuportáveis. Isso porque o escriba faz tudo direitinho, mas lhe falta um negócio chamado talento. Pode até ser lido e citado por diversas pessoas, que não têm condições de distinguir o certo do excelente, do fantástico. Aí é que está: o escriba pode ser corretíssimo sem genialidade, como pode ser talentosíssimo sem a correção exigida pela norma culta.

Hippolyte Taine (1828-1893), em sua Filosofia da Arte, avisa aos discípulos: “Em matéria de preceitos, não existem mais que dois; o primeiro é que se deve nascer com gênio, e isto é assunto dos vossos pais, não meu; o segundo aconselha a trabalhar muito ‘a fim de dominar a arte’: é assunto vosso e tampouco é meu”.

Antoine Albalat, sem recorrer à palavra “gênio”, disse: “Pode-se ensinar a escrever a quem não sabe, desde que tenha o necessário para saber”, isto é, aptidão natural que a vocação denuncia. E Carmelo Bonet completa: “...ensina-se ‘a arte de escrever’ e cada um chega até onde pode, pois há graduações no que concerne ao domínio da expressão: desde a frase simplesmente correta da pessoa culta, até o impacto verbal do estilista”. Resumindo: a pessoa culta pode escrever bem, enquanto o estilista tem aquele algo mais que não aprende na escola.

Paixões

Mães e pais de adolescentes costumam acolher em suas casas colegas dos rapazes e das moças. A partir daí, muita coisa pode acontecer e geralmente acontece, com as implicações fáceis de imaginar.

Hoje vou tratar do caso de dona Cláudia, bela quarentona que se apaixonou por um colega de seus filhos e foi correspondida. Digamos que o rapaz se chamasse Doutor, porque acabou formado em medicina, fez-se professor doutor e foi geralmente considerado um dos melhores profissionais de sua especialidade em todo o Brasil.

Conheci pessoalmente dona Cláudia e o Doutor, ele uma geração à frente da minha, e acompanhei de longe as vitórias e os percalços do relacionamento amoroso. Para início de conversa, o marido de Cláudia, quando tomou conhecimento do love, chamou o rapaz e disse: “Tudo bem, pode ficar com ela. Mas está avisado de que, se algum dia abandonar minha mulher, eu te mato”.

Cláudia e o Doutor se uniram numa boa, ele com 20 anos, universitário, ela com 40 e poucos. Romance tórrido, até porque um rapaz de 20 tira de letra uma quarentona. E tira boas notas na faculdade, obtém seu diploma, faz sucesso na medicina e chega aos 36 com a gata sessentona.

Quando na mesma faixa etária, vinte anos de casamento já são complicadíssimos, ele com 45, ela com 40; ele com 50, ela com 45. Se ele tem 40 e ela 64, ele famoso, ficando rico, dá para imaginar o imbróglio que se formou. Enquanto isso, velho e forte, o ex-marido de Cláudia mantinha a promessa: “Eu te mato”.

E assim dona Cláudia passou dos 70, enfartou, chamaram ambulância do Pronto-Cor. Tabuleta em punho, o médico perguntou: “Idade?”. A paciente respondeu: “Cinquenta”. E uma filha, ao lado, protestou: “Ora, mamãe, cinquenta e quatro tenho eu”. Episódio que me foi contado pela própria filha.

Finalmente, o ex-marido de Cláudia bateu as botas e o famoso Doutor oficializou a separação. Já tinha um caso com mulher mais moça que ele. Não sei se tiveram filhos. Parece que sim, a julgar pelo que acabo de ver no Google.

O mundo é uma bola

15 de agosto de 778: Batalha de Roncesvales, em que Rolando é morto. Não faço a mínima ideia de quem foi o Rolando de Roncesvales, mas me lembro de ter visto na tevê um outro Rolando, salvo engano Boldrin.

Diz a Wikipédia que Rolando, também referido como Roldão – Roland em francês e alemão, Rolando ou Roldán em castelhano, Orlando em italiano, Rottlà ou Rottlant em catalão – é um personagem da literatura medieval e renascentista europeia inspirado num obscuro conde que viveu no século VIII.

E assim aprendemos que o nosso Roldão Simas Filho, se tivesse nascido em Barcelona seria Rottlà, mas nascendo em Munique seria Roland e Orlando, se nascido em Roma. Nascendo em São Joaquim da Barra, pequena cidade do interior de São Paulo, seria Rolando Boldrin, como acabo de ver no Google.

Hoje é feriado religioso em dezenas de cidades brasileiras.

Ruminanças

“Tão parecidos, Stalin e Hitler, tão gêmeos, tão construídos de ódio. Ninguém mais Stalin do que Hitler, ninguém mais Hitler do que Stalin” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

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