quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Sonhos - Eduardo Almeida Reis

 
Só não posso desenhar a ilustre jurista com a qual tive sonho erótico recente: ninguém acreditaria
 

Nosso belo Doctor Oz, nome artístico do médico turco-americano Mehmet Cengiz Oz, que tem show de muito sucesso na tevê dos Estados Unidos, reuniu outro dia dois especialistas em interpretação dos sonhos. Antes, mostrou um quadro explicando como os sonhos acontecem em nossos cérebros.

Lembrei-me, então, dos sonhos recorrentes, que tornam a aparecer noite após noite durante meses ou anos. Faz tempo que não sonho o meu. Era curioso. Representava uma fazenda de terras cortadas por rodovia asfaltada, topografia muito razoável e uma casa de laje, sempre em construção, dois andares, com horríveis basculantes nas paredes externas.

Detesto basculantes mesmo nos banheiros. Janelas basculantes nas fachadas, então, deveriam ser proibidas por lei. Havia problemas de ocupação da casa nunca terminada, que ora tinha um pavimento alugado, ora estava livre para ser ocupada pelo sonhador. Meu avô, homem de admirável cultura, vivia falando de seus sonhos recorrentes: uma praia, possivelmente no litoral holando-belga (ele tinha sangue holandês), sempre a mesma praia com as raras construções que se repetiam em todos os sonhos. Muita vez me disse do seu desejo de contratar um pintor, que reproduzisse a cena descrita por ele tal como lhe aparecia nos sonhos, para tentar descobrir se havia litoral parecido naquela região europeia. Passou dos 90 e não realizou seu desejo de contratar o pintor.

Minha casa revestida de basculantes anda sumida, bem como as terras e a tal rodovia asfaltada. Se pintar no pedaço noturno, vou tentar fazer o desenho na manhã seguinte. Só não posso desenhar a ilustre jurista com a qual tive sonho erótico recente: ninguém acreditaria. Mais grave que isso: noite dessas, me contaram que a eminente jurisperita foi cacho de saudoso amigo meu. 


Mundo gastrô
Acredito em certos fatos e números quando publicados por jornalistas sérios, caso de Arthur Dapieve, o Dapi, figura excelentíssima, se bem que com os graves defeitos de ser botafoguense e gostar de comida japonesa. Isto posto, cuidemos dos fatos e dos números alinhados por ele numa crônica recente. 

O Japão tem 32 restaurantes três estrelas no guia Michelin, contra 26 da França. Tóquio tem 52 com duas estrelas e 179 com uma estrela. Agora, um fato que o leitor não vai acreditar, como também duvidei, mas aceito porque foi escrito pelo Dapi: há em Tóquio um restaurante para cada 25 habitantes. Ano passado, a cidade tinha 14.959.050 pessoas. Minha calculadora é chinesa, mas deve fazer cálculos sobre o Japão e informa que Tóquio tem cerca de 598 mil restaurantes. Isso mesmo: quinhentos e noventa e oito mil.

Um deles, do chef Jiro Ono, exige reservas com um mês de antecedência. Serve arroz especial plantado exclusivamente para o chef, que não gosta de arroz frio preferindo servi-lo na temperatura do corpo (36°C a 37,4°C). Seus aprendizes massageiam os polvos durante 45 minutos, considerando que massagens de meia hora não fazem que o molusco cefaló perca a consistência de borracha. Preço de uma refeição: 30 mil ienes ou R$ 615. E tem mais uma coisa: o felizardo gasta os 30 mil ienes em 15 minutos, tempo de duração de cada refeição. Vale notar que a casa tem 10 lugares de frente para o balcão – e só 10. Presumo que em duas horas Jiro Ono sirva cerca de 70 refeições. Deixo ao leitor a incumbência de uma ida a Tóquio para me contar se o restaurante abre também para o almoço, bem como para contar pessoalmente os restaurantes e ver se chegam mesmo aos 598 mil.


O mundo é uma bola 
14 de agosto de 1385: dom João I, de Portugal, e dom João I, de Castela, que morreria em 1390 de uma queda de cavalo, comandando as respectivas tropas, enfrentam-se na Batalha de Aljubarrota. A vitória portuguesa garante a independência e põe fim à crise de 1383-1385. Destacou-se na batalha o condestável dom Nuno Álvares Pereira, que matou castelhanos a montões. 

Patrono da infantaria portuguesa, citado 14 vezes por Luís Vaz de Camões em Os Lusíadas, dom Nuno (1360-1431), considerado o maior guerreiro português e gênio militar, foi canonizado pelo papa Bento XVI dia 26 de abril de 2009.

Filho natural decidido a manter-se virgem, Nuno foi obrigado a casar-se pelo pai, que lhe arranjou viúva rica. Depois, acho que se casou com outra e teve três filhos, dois meninos e uma menina. Só a menina sobreviveu. Quando perdeu a mulher, Nuno tornou-se carmelita e entrou para a ordem em 1423. Presumo que sua vida, contada por historiador sério, seja divertidíssima.

Em 1934, fundada a Fédération Universelle des Ordres et Sociétés Initiatiques, que estava dispensada da sigla FUDOSI. Seus esotéricos acabaram brigando e a FUDOSI foi dissolvida em 1951. Em 1945, rendição incondicional do Japão às forças aliadas. 

Em 1433 morreu o rei dom João I, de Portugal, filho ilegítimo do rei dom Pedro I. Foi o décimo rei português, o primeiro da Dinastia de Avis. Cognominado O de Boa Memória, não por sua habilidade mnemônica, mas pelo seu legado.

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