domingo, 15 de setembro de 2013

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Desmascarar os mascarados‏

Estado de Minas: 15/09/2013 



Os mascarados foram, enfim, desmascarados. A imprensa cansou deles, até porque foi alvo irracional da estupidez estampada na mídia. As pessoas crédulas e de bons sentimentos que saíram em protestos pelas ruas não querem mais saber desses desatinados. Efetivou-se a operação isolamento.

Por que uma pessoa usa máscara?

Hipóteses conhecidas:

1) Para brincar no carnaval

2) Nos bailes à fantasia

3) para cometer um assalto ou crime

Vejamos os itens detalhadamente:

1.1 – No carnaval a máscara, a rigor, não esconde, ao contrário, revela um sonho, uma duplicidade. Por isto se diz que a pessoa está “fantasiada”. Mas quando chega a “hora da verdade” a pessoa tira a máscara, se entrega. Quarta-feira de cinzas é para isso.

2.1 – Os bailes à fantasia são uma brincadeira, porque é fácil reconhecer os mascarados. As pessoas estão mais interessadas no luxo e na exibição, na sedução do outro. E as batalhas de confete eram brincadeiras ingênuas.

3.1 – Nos filmes (ou na realidade), o mascarado que assalta não quer ser reconhecido. Ele não está brincando. Assalta e pode matar ou morrer.

Os movimentos de rua que começaram em junho embaralharam as coisas. É conveniente esclarecer estes termos: revolta, rebelião, revolução e, claro, carnaval.

Exemplo: todos temos razões de estarmos revoltados. Não é exclusividade brasileira. Há até revolta social e metafísica. Albert Camus escreveu o ensaio O homem revoltado. Os hippies eram revoltados. Diria que grande parte dos que foram às ruas eram pessoas revoltadas. Queixavam-se do transporte, da saúde pública, da corrupcão. Eram reclamações, como se dizia no tempo da ditadura, amplas, gerais e irrestritas.

O segundo degrau depois da revolta é a rebelião. A rebelião faz barulho. É um grito de desacordo, pode ocorrer num quartel, num câmpus, numa fábrica. Mas a rebelião surge e desaparece dando o seu recado.

Já a revolução é a soma da revolta e da rebelião. A revolução quer pôr as coisas de cabeça para baixo, por isto rolam cabeças, troncos e membros. Quem estava na margem vem pro centro, quem estava por baixo fica por cima. Revoluções são utópicas e sangrentas.

As manifestações de rua que estouraram em junho contra o aumento das tarifas foram uma revolta e uma rebelião. A multidão desgarrou-se dos partidos e das lideranças costumeiras.

Aí, surpreendentemente, surgiram os baderneiros, os vândalos, os black blocs e, de certa maneira, os ninjas. Não adiantava um revoltoso dizer a um baderneiro: “Para de quebrar a coisa pública! Essa é uma manfestação pacífica!”. Uma conhecida que foi à manifestação ficou horrorizada, aturdida quando começaram a quebrar a loja de um parente.

O mascarado tem uma característica própria além da máscara. São homens. Jovens, parecem saídos de academias de ginástica. É a testosterona desgovernada. Se dessem o governo para eles, seria o caos, porque são o caos em movimento. Aliás, não querem o governo, repito: são testosterona desgovernada. Reparem que não há mulher nesse conjunto.

O pessoal da revolta e da rebelião custou a sacar quem eram os baderneiros. A imprensa levou dois meses para ser mais enfática. Custaram a entender a diferença entre permissividade e democracia. E os velhos revoltados e revolucionários dos anos 1960, enfim, constataram que esses grupos de baderneiros lembravam os fascistas e não tinham projeto algum.

Ah, sim, alguns heróis usam máscaras: Batman, Capitão América, Fantasma. Mas não há heroísmo algum em quebrar vitrines e roubar lojas.


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