domingo, 15 de setembro de 2013

Eduardo Almeida Reis-Alfabeto rúnico‏

Estado de Minas: 15/09/2013 



Como sabe o leitor e já desisti de aprender, os alfabetos rúnicos são baseados em letras conhecidas como runas e foram usados para escrever línguas germânicas do século II ao século XV. A exemplo dos alfabetos latino e cirílico, o rúnico tem certo número de variantes. As escandinavas são conhecidas como futhark, derivado das seis letras F, U, p, A, R e K, em que o pê minúsculo na verdade é um I com a barriguinha do p no meio. As variantes frísia e anglo-saxônica são conhecidas como futhorc ou fuporc (em que o p é o tal I com a barriga no meio), pelas alterações fonéticas das mesmas seis letras do inglês antigo.

Em mil oitocentos e um tiquinho, Ane Sorensdatter Lund era empregada doméstica – sem as garantias das leis brasileiras que acabaram com a “escravidão” – numa casa de classe média alta em Copenhague, Dinamarca. Discreta, humilde, de poucas letras, acabou despertando a libido de Michel Pedersen, rapaz inteligente, mas muito religioso e ansioso, melancólico filho dos donos da casa.

Sabe como é: no princípio do verão, Ane Sorensdatter Lund devia tomar o seu banho anual com o sabão feito por ela. Michel Pedersen, animado pelo calor que deve fazer na Dinamarca cinco ou seis dias por ano, atropelou a copeirinha. Tem toda aquela explicação do macho-alfa e das fêmeas do território, que justifica o atropelo. Casaram-se e nasceu Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855), filósofo e teólogo danês, o que significa dizer dinamarquês, salvo em cinologia, estudo sobre cães, em que o cachorro daquela raça continua sendo dinamarquês.

Todo esse belíssimo nariz de cera, caro e preclaro leitor, foi para dizer que o rádio do carro que você comprou com IPI reduzido e o seu celular, mesmo um Nokia modesto de 200 pratas, têm um negócio chamado Bluetooth inspirado no rei Harold Bluetooth (Haroldo Dente-Azul), que unificou a Dinamarca ali por volta do ano 980. Na verdade, o rei se chamava Harald Blatand.

Bluetooth é padrão global de comunicação sem fio e de baixo consumo de energia, que permite a transmissão de dados entre dispositivos desde que um esteja próximo do outro. O rei dinamarquês viveu séculos antes da invenção do dentifrício Crest, motivo pelo qual tinha dentes azulados e o apelido Bluetooth.

Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855) herdou 31 mil rigsdaler, moeda dinamarquesa da época, que custearam o seu Magister Artium em 1841 e a publicação dos seus primeiros livros. Creio desnecessário dizer que o Magister Artium equivalia ao atual Philosophiae Doctor (Ph.D.). Tchau e bênção procês todos.

Palavras
Vicário é adjetivo que entrou em nosso idioma no ano de 1328, puro latim vicarìus,ìi “o que faz as vezes de outro, substituto”, significando por aqui “que substitui outra coisa ou pessoa”, “outorgado por outrem” (diz-se de poder) e “que substitui outro” (diz-se de palavra). São vicários por excelência os pronomes, as formas de tratamento, alguns advérbios e os verbos vicários. Como substantivo, vicário é o mesmo que vigário.

Estou lendo livro imenso, que abandonei depois das primeiras 20 ou 30 páginas assustado com a miséria e a violência na Califórnia no último quartel do século 19. Em matéria de miséria a violência basta-me o telejornalismo diário. Quando a tevê a cabo enguiçou, a pequena parabólica enguiça quase toda semana, peguei o livro abandonado e vou adiantado na leitura. É uma biografia de Jack London (1876-1916), jornalista, escritor e ativista social norte-americano. O tradutor vira e mexe sapeca “vicária” no texto em português.

Não é palavra comum. Aprendi o adjetivo vicariante, que em medicina significa “órgão que assume a função de outro”, com o neurologista Carlos Bacelar, que em 1970 participava dos Debates Populares do Haroldo de Andrade na Rádio Globo. Programa utilíssimo para quem vivia na roça sem jornais e tevê: discutia as notícias do dia e tinha debatedores de alto nível, além de um fracote, que foi meu colega de faculdade.

Quantas vezes o leitor terá visto vicário ou vicária nos jornais e nas revistas nos últimos anos? Na biografia, o autor diz que London escrevia mil palavras/dia. Se, porventura, não inteirasse a cota, compensava no dia seguinte. Para que se faça ideia, este suelto até aqui tem exatas 271 palavras. Tchau e bênção procês todos.

O mundo é uma bola
15 de setembro de 1928: o cientista Alexander Fleming anuncia a descoberta da penicilina. Vinte anos depois, quando dei um tiro no pé, fui socorrido no hospital de uma hidrelétrica do Estado do Rio, médicos muito amáveis, que prometeram tratamento com o que havia de “mais moderno” na Guerra da Coreia. Não era penicilina, mas um pó branco (seria sulfa?) que botavam aos montinhos em cima do buraco da bala, empurrando com o cabo do bisturi. Quando o pó misturado com sangue começou a sair pela extremidade oposta do buraco, enfaixaram o pé do menino e disseram que o caçador ficaria curado. Fiquei.

Em 1765 nasceu Manuel Maria de Barbosa L’Hedois du Bocage, imenso poeta português que teve seu nome associado injustamente aos versos de sacanagem. Morou no Rio e adorou a cidade. Andou preso pela Inquisição. Morreu em 1805.

Hoje é feriado em Boa Esperança, MG, terra dos Décios Freires pai e filho.

Ruminanças
“Os poetas ajudam-nos a amar: só servem para isso” (Anatole France, 1844-1922). 

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