domingo, 15 de setembro de 2013

João Camilo Penna - Rússia e Brasil‏

Comparação revela a urgência de reduzirmos a carga tributária, que paga ineficaz despesa pública e desestimula investimentos

João Camilo Penna
Engenheiro, ex-ministro de Indústria e Comércio, ex-presidente de Furnas, da Eletrobrás e da Cemig


Estado de Minas: 15/09/2013



A presidente Dilma esteve na semana passada em São Petersburgo, na Rússia, para reuniões do G - 20 e encontros com governantes dos países do grupo chamado Brics. É uma boa oportunidade para uma reflexão sobre a trajetória e a situação da Rússia e de nosso país. A Rússia tem o maior território do mundo, 17 milhões de km²; vai do Báltico ao Pacifico. Passou por guerra e paz, crime e castigo. Revolução comunista em 1917, fim do comunismo em 1985, fim da URSS em 1991, quando nasceu a Rússia atual, que, no fim do século 20, saiu de uma economia dirigida para o mercado. O comunismo lá durou 70 anos; na China, 30.

No Conselho de Segurança da ONU, cresce sua importância ,“embrulhada em mistério dentro de um enigma.” Sua excelência militar e o inverno bateram Napoleão e Hitler. Cá e lá, “la nave va.” Forças novas agem sobre forças antigas, formas novas nascem e renasce a Rússia, que adora auroras. Possui grandes reservas minerais, é potência energética que produz 10milhões de barris de petrólio por dia, tem jazidas de carvão e gás e florestas. Gasta com aquecimento o dobro per capita que os EUA. Grande fornecedora de óleo e gás para a Europa, sua moeda se aprecia numa quase “doença holandesa” que reduz outras exportações. (Agora é ameaçada pelo gás de xisto).

Um tratado EUA-Rússia limitou mísseis nucleares a 1.550 em cada um. Em improvável caso de guerra, como o vencedor ocuparia o enorme território do vencido? O equilíbrio militar onera mais a Rússia, que tem 1/8 do PIB americano e o 2º ou 3º arsenal do mundo. Na 2ª Guerra, os alemães cercaram São Petersburgo, os russos “choraram oceanos de lágrimas”.

Com o Brasil, os russos assinaram acordos sobre tecnologia da informação (TI), energia e fármacos, quando o primeiro-ministro Medveve visitou Brasília.

A Russia tem 140 milhões de habitantes, ou seja, 8 habitantes por km² (no Brasil, 25 h/km²), com um detalhe: são 85 homens (milhões foram mortos em guerras) para cada 100 mulheres (no Brasil, 95 homens para 100 mulheres). A população russa caiu de 150 milhões em 1991 para 140 milhões em 2012. Há fragilidade demográfica em seu vasto território próximo à China, país com enorme população. Lá, famílias, redes e o Estado enfrentam vodca, fumo, violência e abortos. O PIB somou US$ 1,8 trilhaõ em 2012 e é o 8º do mundo.

Poupança, investimento e crescimento da Rússia são maiores que aqui. A carga tributária e juros são menores, a inflação é idêntica. No Brasil, em 2013, 39 ministros de Estado, protestos e vandalismo. O governo perde o monopólio da violência. A despesa pública é das maiores do mundo em relação ao PIB, juros entre os mais altos do mundo, crescimento dos menores da América Latina, inflação só menor que a do Egito, Índia, Argentina e Venezuela, e há déficit na conta-corrente. Com alta carga tributaria, investimento baixo, 22 mil cargos de confiança para não concursados, ineficiência e salários privilegiados – quando o governo criará juízo, trará confiança, medidas que aumentem a competitividade para que capitais parem de sair e voltem a entrar e os empresários a investir?

O Brasil cobra 27,5% de Imposto de Renda, a Rússia cobra só 13%, atrai capitais, exporta óleo e gás, grãos, manufaturas. Importa do Brasil agropecuários, bens de consumo e commodities; o Brasil importa da Rússia fertilizantes, helicópteros etc. O comércio entre os dois foi de US$ 7 bilhões em 2012. Mais uma prova de que é imprescindível a redução da carga tributaria brasileira, que paga ineficaz despesa pública, retira recursos da livre iniciativa e desestimula a entrada de capitais.

Lá tem grandes cientistas e poucos tecnólogos, inova pouco fora da área militar e espacial, mostra espanto e encanto em Brasília, é fraca em bens duráveis e em serviços. Exportemos para lá, em que pese a guerra de moedas, facilitados pelo retorno da China ao mercado interno. Seminário em São Petersburgo em junho de 2013 debateu a atração de empreendedores para infraestrutura. Vamos concorrer? A Rússia estuda competir para fornecer-nos equipamentos nucleares.

Vamos lá: Moscou, Kremlin, ferrovia transiberiana; acordos e negócios. Caviar, museus, espetáculos, canto de barqueiros no Volga, noites brancas; balés Bolshoi e Kirov. Na linda São Petersburg, o museu Hermitage e o cemitério em que, ao som de réquiens, mortos repousam da batalha contra alemães.

Venham cá: Amazonas, praias do Nordeste; pássaros do Pantanal; Rio, lindo; São Paulo vibrante; acordos e negócios. Brasília e Niemeyer; em BH, Inhotim, o Corpo e o Galpão; Serra da Piedade, Ouro Preto e Congonhas, profetas e santos do Aleijadinho; Bolshoi em Santa Catarina; Iguaçu e Itaipu no Paraná. No mundo, é imperativo categórico que reduzamos o crescimento populacional, consumismo e poluição.O clima inclemente traz tempestades e inundações, secas e fome. A cada um, sua parte.

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