quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Futebol e religião: algumas observações - Carlos Caroso e Fátima Tavares

A Tarde / BA - 20/11/2013

Carlos Caroso e Fátima Tavares
Antropólogos e professores da Ufba

Como vários pesquisadores das ciências sociais têm apontando, desde o censo de 1991 o cenário das religiões no Brasil passou por mudanças.Entre estas transformações destacam-se o declínio do catolicismo, o incremento dos que se declaram evangélicos e dos “sem religião”.

Podemos observar essas macro tendências: temos um decréscimo dos católicos de 73,57% (2000) para 64,63% (2010), no Brasil; e, na Bahia, de 74% (2000) para 65,34% (2010).

Por outro lado, os evangélicos vêm crescendo a cada censo: passaram de 15,41% (2000) para 22,16% (2010) no Brasil. Na Bahia apresentam percentuais um pouco menores: eram 11,18% da população em 2000, passando, em 2010, para 17,41%. Com relação ao grupo dos “sem religião”, a dinâmica de crescimento é diferente dos evangélicos.

Comparando-se os dados dos censos de 2000 e 2010, verificamos que houve um discreto crescimento dos “sem religião”, no conjunto do país (7,35%e 8,04%) enoEstadoda Bahia (11,39%e12,05%),bem menor do que entre os censos de 1991 e 2000, quando esse segmento efetivamente ganhou relevância numérica.

Essas transformações podem ser observadas também no mundo do futebol, esporte, como sabemos, dominado por ídolos predominantemente provenientes da população pobre e negra desse país.

Essa origem social tradicionalmente evocava um imaginário popular recheado de histórias sobre disputas“mágicas” do vasto repertório das religiosidades afro-brasileiras – como os “trabalhos” ou “ebós” feitos para o sucesso dos times nas grandes decisões –, mas que vem perdendo espaço para as manifestações evangélicas – por exemplo, o “Ministério de Atletas de Cristo”.

O que se observa no mundo do futebol também vale para o conjunto do país. De fato, apesar da visibilidade social das religiões afro-brasileiras, seus números do censo não são expressivos no Brasil (0,31% no Censo de 2010).

Indagações sobre esse descompasso têm intrigado pesquisadores: seria fruto da antiga atitude sincrética do universo afro-católico,que,no censo, acabam identificando-se como católicos?

Outra questão é saber em que medida essas religiões ainda podem ser consideradas  único e exclusivo “patrimônio cultural” das populações afrodescendentes.

De certa forma isso continua verdadeiro, pois quando comparamos os resultados do censo com as declarações de cor, sabemos que a grande maioria dos adeptos das religiões afro-brasileiras se declaram pretos e pardos.

Por outro lado, se invertermos a comparação, o mesmo não se verifica: a maior parte dos pretos e pardos do país não se declara adeptos daquelas religiões.

Positivamente essa é uma tendência que pode ser observada já há alguns anos, como indica o sociólogo Flávio Pierucci ao comentar, com base nos dados do Censo 2000, que estes sinalizam um claro deslocamento das tradições religiosas “afro” para o universo “black-evangelicals” entre pretos e pardos.

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