quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A arte de relacionar-se‏


Leonardo Reis
Marchand da Errol Flynn Galeria de Arte
Estado de Minas: 25/12/2013 


Muito se discute sobre o poder transformador da cultura. A força do conhecimento é inegável na vida das pessoas. Entretanto, depois de quase 15 anos dedicados às artes plásticas, digo que os benefícios vão além de formar bagagem cultural dos indivíduos. Conviver com a arte, em suas diversas expressões tem também a ver com relacionamento. Lidar com o universo artístico ensina a relacionar-se com as outras pessoas e consigo mesmo. A cultura é a expressão dos relacionamentos sociais.

Uma obra de arte é a expressão da alma de um artista. O homem se apropria de técnicas como aquarelas, esculturas e pinturas para retratar suas emoções mais puras, sem a contaminação típica de uma exposição oral. Ao se apropriar do pincel, o artista está transparecendo grande diversidade de pensamentos através do resultado final. Cada objeto artístico tem um valor singular por corresponder a um momento único de autorrevelação artística. Uma prova disso é que certos autores criam marcas próprias que podem ser reconhecidas imediatamente, segundo o seu estilo de trabalho. É a chamada “digital artística”.

Exprimir-se por meio de uma obra de arte é uma das formas de relacionar-se com nossa essência. O equilíbrio emocional resultante desse trabalho é tão grande que alguns projetos de assistência a pessoas com problemas mentais utilizam a arte como forma adicional de expressão da emoção. A leitura dos desenhos e pinturas criados fica mais fácil para compreender qual sentimento dominou naquele momento, seja positivo ou negativo.

Quando a obra de arte sai do ateliê e segue para uma exposição, o relacionamento do autor com o público e com os expositores ganha novas proporções. A função do marchand está muito relacionada à captação de obras e à apresentação e valorização de novos artistas. Isso quer dizer que ele mantém constante contato com artistas, devendo criar laços fortes de confiança para que a convergência de forças culmine em um grande sucesso. Ambos estão praticando suas habilidades relacionais, de convencimento e negociação. Após a captação de uma obra, em geral, inicia-se a exposição. O simples ato de curadoria de uma exposição já pressupõe a seleção de uma mensagem que será passada ao público. Quando um marchand seleciona as peças que farão parte de uma mostra, seja coletiva ou individual, está formulando uma narrativa que deve ser transmitida aos visitantes. Assim, cria-se um laço entre o artista, a galeria e o público.

Manter um espaço aberto a visitação é, por si só, uma forma de relacionamento. Grande parte das exposições realizadas na cidade é gratuita, garantindo oportunidade a um universo maior de pessoas terem acesso à cultura. Receber o público e observar como cada pessoa lê as mensagens de uma obra de forma diferente é um momento único. A interpretação do significado de uma peça varia conforme a bagagem cultural do indivíduo, suas experiências pessoais e seu estado emocional no momento. Simples recursos de cor e textura podem transportar pessoas para memórias afetivas inimagináveis.

Quando o público entra em contato com a obra, fecha-se um ciclo de relacionamento entre pessoas que, provavelmente, não se conhecem. As artes plásticas são instrumento de transmissão de mensagens, de conhecimento e de aproximação entre indivíduos que nunca se viram, mas têm algo em comum: a necessidade de conviver com o próximo e de expressar suas emoções. Nada une mais as pessoas que a essência de si mesmo. 

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