domingo, 8 de dezembro de 2013

Eduardo Almeida Reis - Dips(o)‏

"Quantas vezes você, caro e preclaro leitor, cantou o Hino à Bandeira e aquele outro, o da Independência, depois que saiu do colégio?"


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 08/12/2013



Antepositivo, do grego dípsa,és 'sede'; ocorre em vocábulos já originalmente gregos como dipsético (dipsétikós, “que provoca sede”), já em cultismos, geralmente da terminologia médica, do século XIX em diante: dípsis, dipsofobia, dipsofóbico, dipsófobo, dipsomania, dipsomaníaco, dipsômano, dipsopata, dipsopatia, dipsopático, dipsorréctico /dipsorréxico, dipsorrexia, dipsose, dipsoterapia, dipsoterápico, dipsótico, entre outros.

Acabo que confirmar no Houaiss que sou contumaz no erro ao escrever 19 em algarismos romanos. Não raras vezes, escrevo IXX, quando o certo é XIX, em que o nove é IX e o 21 é XXI. E o pior é que faz sentido: X (=100) + IX (=9). Donde se conclui que preciso deixar de ser besta passando a escrever século 19.

Volto ao antepositivo grego. Dipsomania, sabemos todos, é necessidade incontrolável de ingerir bebida alcoólica. Vejo no Google que dipsoterapia é tratamento por meio da sede e hidroterapia uso da água com fins terapêuticos, daí as estações de águas que duravam um mês, hoje reduzidas a três dias, um deles passado nos engarrafamentos das estradas.

Resta explicar o porquê dessa ida ao dips(o)-, sem pé nem cabeça, ao dealbar da aurora de um dia chuvoso. Deu-se que ontem à noite me lembrei do significado de dipsomania – necessidade incontrolável de ingerir bebida alcoólica – e supus que o antepositivo grego tivesse relação com o álcool, quando significa “sede”.

Pretendia escrever sobre esta “dipsorrepubliqueta” e quebrei a cara. Em contrapartida, aprendi que sem pé nem cabeça é expressão popular de origem romana, em latim nec caput nec pedes (habet). Valeu.

Noticiário
O supertufão Haiyan, de nível cinco, que varreu as Filipinas, suposto de ser o maior até hoje registrado, ensejou doloroso besteirol em nosso noticiário televisivo. Ventos que passavam dos 300km/h, com rajadas de 380km/h, num trecho das Filipinas em que vivem 12 milhões de pessoas. E os nossos apresentadores falando, repetidas vezes, em três ou quatro mortos, explicando sempre que ainda não havia notícia de brasileiros.

Ora, bolas: aquele furacão que já chegou a Nova York transformado em tempestade tropical – e Nova York não fica nas Filipinas – matou mais de 50 pessoas. Quantas morreram nas chuvas da Região Serrana do Rio? Só “desaparecidas” até hoje são mais que 900. Enquanto isso, os noticiaristas falando em três ou quatro mortos filipinos.

Seria muito mais inteligente dizer que o número de mortos era desconhecido e o telespectador que tirasse as suas conclusões. Mas a rapaziada é impossível e falou que a ONU estimava os prejuízos ou a necessidade de alimentos em dois milhões de dólares. Homessa! Dois milhões de dólares não alimentam São Joaquim de Bicas. É o preço de um bom apartamento em Belo Horizonte, onde já foram vendidas coberturas por R$ 17 milhões, mais que US$ 7 milhões com o dólar a R$ 2,30.

Dois bilhões ou vinte bilhões de dólares não consertam o estrago filipino. Quanto ao número de mortes, estimado em três ou quatro no noticiário de sexta-feira, 8 de novembro, dois dias depois passava dos 10 mil, caiu para 4.500 e sempre será incerto, felizmente sem brasileiros.

Pedagogia
Ciência que trata da educação dos jovens, que estuda os problemas relacionados com o seu desenvolvimento como um todo, a pedagogia, através dos pedagogos, talvez possa explicar muita coisa que me ensinaram na escola sem qualquer serventia na vida prática. Presumo que as tais coisas ocupem boa parte de minha memória, tirando espaço para armazenar assuntos mais úteis no dia a dia.

Dou-lhes alguns exemplos das muitas tolices que até hoje entopem minha pobre cuca. E pergunto: tem cabimento ensinar a um menino de 10 ou 11 anos que o lindo pendão da esperança, o símbolo augusto da paz, cuja nobre presença nos traz à lembrança a grandeza da pátria? Que dizer, então, dos seguintes versos: “Não temais ímpias falanges, que apresentam face hostil”. Alfim e ao cabo, os peitos e os braços do leitor são muralhas do Brasil.

Quantas vezes você, caro e preclaro leitor, cantou o Hino à Bandeira e aquele outro, o da Independência, depois que saiu do colégio? Posso afirmar que não cantei, apesar de ser tido obrigado a decorar a letras deles e de outros, como aquele cheio de palavras que ninguém entende, mas os jogadores da Seleção de Felipão são obrigados a decorar e cantar.

O mundo é uma bola
8 de dezembro de 1191: os Grimaldi, família de exilados de origem genovesa, assentam a primeira pedra de uma praça fortificada, hoje palácio principesco de Mônaco. Em 1839, numa carta enviada pelo visconde de Santarém, historiador português, ao historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen, a palavra cartografia é utilizada pela primeira vez. Portugal teve três viscondes de Santarém. O último se chamava Manuel Francisco de Barros e Saldanha da Gama de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa, nome bonito pra dedéu.

Em 1863, di-lo a Wikipédia, é criado o futebol moderno. Em 1949, os nacionalistas chineses encerram sua evacuação para Taiwan. Do latim tardio evacuatio,onis “ação de despejar, de esvaziar”, evacuação pega mal à beça.

Hoje é o Dia da Família, da Mulata, do Ciclista, do Cronista Esportivo e da Justiça.

Ruminanças
“Em tuas faces / Brilha serena / A cor morena / do buriti: / Teus lábios vertem / Rósea frescura, / Cheiro e doçura / Do jataí” (João Salomé Quiroga, 1810-1878).

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