sábado, 28 de dezembro de 2013

Eduardo Almeida Reis - Ônibus‏


Ônibus 
 
Cientistas concordam em que os chimpanzés são os animais vivos mais semelhantes aos humanos
 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 28/12/2013 


Problemas nos transportes coletivos do Rio de Janeiro: jornalista entrevista rapaz que tenta pegar um ônibus às duas da madrugada. Os ônibus, vazios, não param nos pontos. E o entrevistado, mochila às costas, declara ao repórter da tevê: “É uma jornada excruciante”. Se o vosso philosopho não estivesse numa bela poltrona de couro teria caído no chão: jornada excruciante! E isso dito por um rapaz, às duas da matina, tentando pegar um ônibus. Duvido que as autoridades em seus carros blindados, voando pela Força Aérea Brasileira (FAB) com caviar de amuse-gueule, conheçam o verbo excruciar “causar grande aflição”, do latim excrucìo,as,ávi, átum,áre “aplicar a tortura, pôr em tormento, atormentar”, como acabo de aprender. Excruciante, adjetivo de dois gêneros, é lancinante, aflitivo. O rapaz de mochila, que procura ônibus às duas da matina, conhece o adjetivo. Deve ser por isso que não tem seguranças, carros blindados e aviões oficiais com amuse-bouche de caviar.

Origens
A última frase é a seguinte: “Também se questiona, afinal, como acasalar um chimpanzé com um porco”. Ora, bolas: basta deixar o chimpanzé com a leitoa. A grande virtude de Isaac Newton foi ter sido fazendeiro, quando a mãe o retirou da escola para cuidar da propriedade rural da família. Morando na roça a gente vê acasalamentos do arco da velha, que no Brasil não incluem os chimpanzés, que só existem nos zoológicos. Este parágrafo, que deve ter instigado o leitor, vem a propósito do conjecturar científico de Eugene McCarthy, geneticista norte-americano da Universidade da Geórgia, pós-doutorado e considerado autoridade na área de hibridação de animais. Diz ele que os humanos têm muitas características comuns com os macacos, mas também têm um grande número de atributos não encontrados em outros primatas. Essas características são “muito provavelmente” resultado de uma hibridação em algum ponto inicial da história da evolução humana. E sugere que um animal conta com todos os traços que diferenciam os humanos dos primatas. Esse animal é o Sus scrofa, o porco. Vai ver que é por isso, diz aqui o philosopho, que muitas religiões se recusam a comer carne de porco.
Cientistas concordam em que os chimpanzés são os animais vivos mais semelhantes aos humanos, mas há características anatômicas entre as espécies. McCarthy lista a pele sem pelos, uma espessa camada de gordura subcutânea, olhos claros, narizes protuberantes e cílios pesados como atributos suínos. A comunidade científica reluta em aceitar a hipótese, entre outros motivos porque McCarthy é especialista em aves e nunca publicou artigo sobre mamíferos. No ano passado, o geneticista publicou um livro chamado The department – disponível em e-book na Amazon – em que mistura suspense, ciência e poesia numa trama em que o personagem principal é um híbrido de porco e chimpanzé. Aposto que está brincando para promover seu livro; o philosopho e o astucioso leitor não caímos nessa. Genética é coisa séria, muito embora alguns geneticistas... deixe isso pra lá.

Chove chuva

Se a ortoépia do adjetivo torrentoso é/ô/, chuva torrentosa abre o/ó/? Rabisco estas bem traçadas num momento em que chove torrencialmente. Fico de olho nas faíscas elétricas para desligar o computador num botão instalado em outra sala, suposto de evitar a queima do equipamento. Ainda que seja mentira, tranquiliza, e ando precisando de um mínimo de tranquilidade. Tentei ver a retransmissão do programa Manhattan connection, que vai ao ar às 11h05, mas a maldita Sky pifou 10 minutos depois. Faz tempo que acompanho aquele programa, que está completando 1 mil edições. Hoje muito original com a notícia de que três dos cinco participantes não moram em Manhattan, mas em Miami, São Paulo e Veneza. Os 10 minutos matinais serviram para me assustar por um ano com a notícia de que a guerra nuclear entre o Irã e os Estados Unidos parece inevitável. A chuva torrencial passou e abriu um arremedo de sol nos 20 minutos em que estou às voltas com este belo suelto. Chuva é normal nesta época. Anormal é a notícia de que há centenas de milhares de brasileiros morando em situações de risco, não raras vezes em áreas interditadas. Torrentoso roubo deu cabo dos recursos enviados para tentar evitar novas tragédias. O país é pouco sério. Paciência.

O mundo é uma bola

28 de dezembro de 1065: a Abadia de Westminster é consagrada a São Pedro. O primeiro lugar de culto no local onde foi construída a Westminster Abbey data de 616, depois que um pescador do Rio Tâmisa disse ter tido uma visão de São Pedro. Até 1534 Westminster serviu ao catolicismo romano. De 1534 até hoje serve ao anglicanismo. Construção iniciada em 1045, concluída em 1050. Consagração, como vimos há pouco, em 1065, sem guindastes alemães que caem como no Itaquerão. Em 1557 Mem de Sá chega a Salvador, Bahia. Homem de bem, era irmão do poeta Francisco Sá de Miranda. Nasceu em Coimbra e morreu na Bahia, em 1572, com 72 anos. Em 1989 nasceu Sandro Foda, futebolista alemão. Joga pela equipe do Sturm Graz, onde é treinado pelo próprio pai, o respeitado Franco Foda. Hoje é o Dia da Marinha Mercante e o do Salva-Vidas.

Ruminanças
“O jovem só pode ser levado a sério quando fica velho” (Nelson Rodrigues, 1912–1980).

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