sábado, 7 de dezembro de 2013

O segundo adeus a Jango‏

Restos mortais do ex-presidente João Goulart foram sepultados em cerimônia em São Borja (RS). Resultado da necropsia para apurar suposto envenenamento não tem prazo para ser divulgado


Felipe Canêdo

Estado de Minas: 07/12/2013



Durante o enterro, com honras militares, centenas de pessoas gritavam o nome do político, no Cemitério Jardim da Paz (Edson Vara/Reuters)
Durante o enterro, com honras militares, centenas de pessoas gritavam o nome do político, no Cemitério Jardim da Paz
Foram recebidos com honras de chefe de Estado ontem, em São Borja (RS), os restos mortais do ex-presidente João Goulart (1919-1976), que estavam em Brasília desde 14 de novembro. Um segundo sepultamento foi realizado no Cemitério Jardim da Paz, acompanhado de centenas de moradores, que durante o cortejo entoavam o nome do político morto na Argentina: “Jango, Jango, Jango”. Há 37 anos, em 6 de dezembro de 1976, ele foi enterrado como cidadão comum, mas seu funeral teve um claro tom de resistência à ditadura, quando cerca de 30 mil pessoas gritavam as palavras de ordem “liberdade, liberdade” e “anistia, anistia”.

Uma missa de corpo presente foi realizada na igreja matriz de sua cidade natal, com as presenças da viúva do político, Maria Thereza Goulart, seus filhos João Vicente e Denise, e dois netos, João Marcelo e Vicente, a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário (PT), e dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-RJ), autores do projeto de lei que anulou a sessão da Câmara de 2 de abril de 1964, que destituiu João Goulart e declarou vacância da Presidência da República.

Simon era presidente do MDB do Rio Grande do Sul em 1976 e esteve nos dois enterros de Goulart. “Jango foi o primeiro e, queira Deus, o único presidente brasileiro que morre no exílio, onde, durante 12 anos, só teve palavras de carinho e respeito ao seu Brasil. Possamos nós dizer, o povo brasileiro, que desejamos de uma vez por todas a pacificação da família brasileira, a compreensão e o respeito entre todos”, disse ele na ocasião.

Exumação Os restos mortais do ex-presidente foram exumados em 13 de novembro, para apurar a suspeita da família e do governo de que ele tenha sido envenenado. Na época de sua morte não houve autópsia e, oficialmente, o presidente morreu de ataque cardíaco, no município de Mercedes, na Argentina. Historiadores e políticos suspeitam de que o ex-presidente tenha sido vítima da Operação Condor, uma aliança entre ditaduras da América do Sul com a inteligência dos Estados Unidos. A Comissão Nacional da Verdade pediu também recentemente a exumação do corpo do motorista do ex-presidente Juscelino Kubitschek, morto em um acidente automobilístico em Resende (RJ), diante da possibilidade de ele ser outra possível vítima da mesma operação.

A ministra Maria do Rosário disse na quinta-feira que a exumação de João Goulart representa "a retomada do Estado democrático". No entanto, o comandante militar do Sul, general de Exército Carlos Bolivar Goellner, autoridade máxima das Forças Armadas no evento, declarou que “não há motivo para pedido de desculpas" e negou a existência de erros históricos diante da queda de Goulart.

O corpo de Jango foi recebido em Brasília pela presidente Dilma Rousseff (PT) com honras militares em solenidade que contou com a presença dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor. A exumação durou cerca de 18 horas e foi feita graças a uma decisão da Comissão Nacional da Verdade e do Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul. Ainda não há prazos para a apresentação dos resultados das perícias. (Com agências)

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