quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Abalo vem dos EUA - Rosana Hessel

O Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, corta mais US$ 10 bilhões dos estímulos à maior economia do planeta, independentemente do impacto nas nações emergentes

 

Rosana Hessel
Estado de Minas: 30/01/2014



Em sua última reunião à frente do Fed, Ben Bernanke manteve o corte (Karen Bleier/APF)
Em sua última reunião à frente do Fed, Ben Bernanke manteve o corte

Brasília
– Seguindo à risca a cartilha anunciada em dezembro do ano passado, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, deu mais um passo ontem na redução dos estímulos à maior economia do planeta, aumentando a tensão entre os países emergentes, sobretudo os que abriram mão de reformas importantes, como o Brasil. São eles os que mais vão sofrer com a migração do capital para os EUA, que, futuramente, darão início a outro movimento importantíssimo: o aumento dos juros. O Fed cortou em mais US$ 10 bilhões, para US$ 65 bilhões, o programa de compras mensais de títulos que estão em poder do mercado.

Apesar do tremor que abalou as economias emergentes, que foram obrigadas a elevar drasticamente os juros – na Turquia, a taxa saltou de 7,75% para 12% ao ano –, o BC dos EUA já avisou que manterá o processo de redução dos estímulos ao longo de 2014. Deu, porém, uma amenizada temporária na tensão, pois reforçou a promessa de manter os juros próximos de zero por um bom período, mesmo depois de a taxa de desemprego norte-americana, atualmente em 6,7%, cair abaixo de 6,5%, e caso a inflação se mantenha próxima da meta de 2%.

O comunicado do Fed provocou alívio no governo de Dilma Rousseff. Apesar de, publicamente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que o Brasil está preparado para o tapering, como é chamado o corte de estímulos à economia dos EUA, o Palácio do Planalto vê com muita preocupação uma ação mais forte da autoridade monetária norte-americana. Como quase todos os indicadores do país pioraram – a dívida bruta está encostando nos 60%, a meta de superávit primário é cada vez menor, o crescimento econômico continua pífio e o rombo das contas externas bate recorde – os investidores andam arredios e não descartam o rebaixamento da nota de crédito brasileira.

A reunião de ontem foi a última de Ben Bernanke na presidência do Fed. Ele conduziu o banco em um território desconhecido nos oito anos em que ocupou o posto, construindo um balanço patrimonial de US$ 4 trilhões e mantendo os juros próximos de zero por mais de cinco anos para afastar a economia dos EUA do pior revés em décadas. Amanhã, passará o comando da autoridade monetária à atual vice-presidente, Janet Yellen.

Mudança Entre os investidores, não há, por enquanto, expectativa de grandes mudanças na política do Fed. Mas a grande maioria deles acredita que, já no início de 2015, Yellen dará início ao aumento dos juros, para evitar desequilíbrios na economia dos EUA, que vem se mostrando mais forte, sempre com revisões para cima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

No comunicado pós-reunião, o Fed reconheceu que “a atividade econômica dos EUA ganhou fôlego nos trimestres recentes” e minimizou o fraco resultado da abertura de empregos em dezembro último. “Os indicadores do mercado de trabalho foram mistos, mas o balanço mostra melhorias”, destacou a instituição. Dados divulgados nas últimas semanas, incluindo os gastos do consumidor e a produção industrial, foram amplamente otimistas e alimentaram a tese de que os EUA estão melhorando. Analistas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 3,2% no quarto trimestre, após o avanço de 4,1% nos três meses anteriores.

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