sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Eduardo Almeida Reis - Currente calamo‏

Currente calamo
 
Ninguém admite o conselho de ir à praia antes das 10h ou depois das 16h


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 17/01/2014




De maneira espontânea, sem parar para pensar ou currente calamo, como se diz em latim, confesso ao leitor que estou muito intrigado: acabo de perder três sueltos, somando 680 palavras, que deveriam compor este Tiro e Queda. Um falava do solstício de verão, outro cuidava não me lembro de quê e o terceiro falava do dia 8 de agosto, data do meu nascimento anos antes de Preta Gil, nascida Preta Maria Gadelha Gil Moreira, anos depois de Ronald Biggs, nascido Ronald Arthur Biggs, ela no Rio de Janeiro, ele em Londres, com as ocupações de ladrão e carpinteiro. Vi na Wikipedia. Palavras que me custaram algum trabalho e sumiram aqui do Windows 7 sem deixar vestígio. Quando acontece algo parecido, clico lá em cima numa setinha azul, virada para a esquerda, e o texto reaparece. Desta vez sumiu e me tomou boa meia hora tentando localizar minhas palavrinhas, sem sucesso. É verdade que nada sei de informática e já passei da idade de aprender. Pior que isso: nada sei de celulares, dos mais simples. Só outro dia aprendi como localizar os números das pessoas que me telefonam quando estou no banho. Todas adivinham os 10 minutos em que estou debaixo do chuveiro. Das 680 palavras sumidas “recuperei” até aqui 207. Faço uma pausa e volto daqui a pouco, ou “daqui há pouco” no português que temos lido na mídia impressa, mesmo porque é meio difícil ler na falada ou televisada.

Voltei! Tanto quanto me lembre, o suelto sobre o solstício de verão cuidava do sol nas praias. É aquela coisa de ser o sol indispensável para a vitamina D, que previne ou cura uma porção de doenças, de mesmo passo em que é um risco danado para o câncer de pele. Ninguém admite o conselho de ir à praia antes das 10h ou depois das 16h. Antes das 10h a humanidade está dormindo; depois das 16h ainda está na praia, onde chegou por volta das 11h. Uma dermatologista disse que a “vermelhidão” é um veneno para a pele, o que deve ser meia verdade. Tenho mais de meio século de vermelhidão e ainda outro dia meu rosto não tinha uma ruguinha. Hoje não sei, porque evito me olhar no espelho. A propensão para o câncer de pele deve ser genética, porque todos conhecemos muitos brasileiros branquíssimos que passaram dos 90 tomando sol o dia inteiro sem cânceres de pele. A onda atual é o filtro solar, difícil de passar e suspeito de não filtrar nada. Vivemos num país em que a maioria dos óculos para sol é pirata. A televisão nos mostra os imensos galpões entupidos de óculos pirateados apreendidos pelas autoridades: não protegem e fazem mal à vista. Presumo que muitos filtros solares não protejam e façam mal à pele.

Pronto: cheguei às 462 palavras. É tempo de falar do Biggs, que roubou com mais 16 companheiros, no dia 8 de agosto de 1963, do seu e do meu aniversário, 2,6 milhões de libras de um trem que fazia o trajeto Glasgow-Londres. Em dinheiro de hoje, cerca de R$ 152 milhões, uma ninharia diante do que se rouba neste país grande e bobo. Preso, Biggs fugiu da cadeia inglesa e veio parar no Brasil, onde teve um filho com Raimunda, uma ex-stripper. Raimunda não foi uma rima, foi uma solução, porque o nascimento de Michael impediu que seu pai fosse extraditado para a Inglaterra. O menino ficou famoso como Mike, da Turma do Balão Mágico, e seu pai viveu no Brasil como celebridade. Não causou espanto diante das celebridades que se veem por aí, muitas delas roubando mais que Biggs, sendo votadas, eleitas, legislando, governando. A revista Veja, em matéria não assinada sobre a morte aos 84 anos do ladrão inglês, numa casa de repouso em Londres, conclui o texto: “Como se vê, o século 21 segue parecido com o 20”. Peço licença para dizer que, no terreno da ladroeira, o século 20 foi parecidíssimo com o 19. Em 1841, Charles Mackay, no livro Extraordinary popular delusions and madness of crowds, já dizia “da admiração popular pelos grandes ladrões”. Isso no século 19, admiração popular ainda fortíssima em 2014. Alguns poucos dos grandes ladrões são presos e condenados a penas ridículas. Gostam de se intitular presos políticos. É isso aí.

O mundo é uma bola

17 de janeiro de 1642: descoberta em Cabo Verde a Ilha de Santo Antão, sem que o mundo tivesse mudado por causa disso. A ilha é bonita e uma de suas cidades tem, hoje, cerca de 17 mil habitantes. Há outras oito ilhas habitadas no Arquipélago de Cabo Verde. Em 1786 foi descoberto o Cometa Encke, sem que o leitor e o philosopho tivéssemos conhecimento disso. Oficialmente denominado 2P/Encke, tem seu afélio próximo da órbita de Júpiter. O periélio está dentro da órbita de Mercúrio. Foi o segundo cometa periódico descoberto. Parece que o primeiro foi o Halley, que tentei ver quando passou por aqui faz algum tempo. Hoje é o Dia de Santo Antão.

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