sábado, 11 de janeiro de 2014

Eduardo Almeida Reis-Muié, vortá, quetô‏

Muié, vortá, quetô 
 
O Google anda perto de 2 milhões de causos, mais de 1 milhão goianos, só 38 mil mineiros e 6,5 mil gaúchos 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 11/01/2014


Não há dia em que não me mandem e-mails com anedotas e causos escritos em caipirês, como se tivesse graça reproduzir a fala dos que não quiseram ou não puderam aprender. Quase todas as semanas recebo livros de autores que recorrem à mesma sem-gracice. Deleto os e-mails e repasso os livros com pena dos destinatários. Já não gosto de “causos”, regionalismo brasileiro do século 19. O Google anda perto de 2 milhões (!) de causos, mais de 1 milhão goianos, só 38 mil mineiros e 6,5 mil gaúchos. Pelo visto, a praga veio de Goiás, terra que já nos deu a belíssima senhora Carlinhos Cachoeira. Se me fosse dado palpitar, diria que há exemplo perfeito de caipirice no Eça, em seu romance A cidade e as serras, quando introduz o personagem Melchior, caseiro nas terras de Jacinto em Tormes, no Douro. Em Portugal, caipira é bimbo, caramelo, papalvo, saloio, parolo, alarve, labrego. O abençoado Google traz “fazer turismo em Tormes”, com fotos da Fundação Eça de Queiroz, que pretendo ver com calma. Por ora, cito o exemplo do autor ao introduzir o personagem informando que Melchior dizia “sua incellência”. Pronto: deu o recado. Os leitores ficaram sabendo que o caseiro falava errado. A partir dali, Melchior se exprime normalmente sem vortá, muié e quetô.

Novidades
Sempre me lembro do compadre quando tivemos na roça a instalação do DDD, saudoso telefone preto, de disco, ali por volta de 1976. Fui passar o Natal no Rio de Janeiro e recomendei ao patrício que aguardasse, perto do aparelho, meu telefonema às seis da tarde. Ao atender, o compadre foi admirável: “Alô, doutor, as novidades por aqui vão sem novidades”. Vejo agora que se anuncia o lançamento de um edifício em Goiânia que tem, como “novidade”, uma vaga de garagem dentro de cada apartamento, além de outras quatro no subsolo. São 31 apartamentos, um por andar, área de 404 m2 e é de R$ 8.120 o preço estimado de cada m2. Os incorporadores prometem coisas ótimas: no break para controlar oscilações elétricas, internet sem fio e outras modernidades, mas garagem no apartamento com o carro levado pelo SkyDrive, elevador desenvolvido pela Atlas Schindler... tenham a santa paciência! O sistema existe em Cingapura, em Minas e no Rio Grande do Sul, diz a notícia, e se esquece de dizer que na Praia do Flamengo, no Rio, a novidade tem mais que 80 anos. Sei disso, porque lá estive opinando sobre o apartamento que uma amiga queria comprar. Um por andar, o carro ficava estacionado ao lado da cozinha, elevador gradeado daqueles antigos. Não havia outras vagas no prédio, que já era idoso há 50 anos. Bela vista para a Baía da Guanabara, as dependências de empregadas, que naquele tempo se chamavam criadas, ficavam na cobertura. Explico: cada apartamento tinha, no último pavimento, dependências para sua criadagem. Presumo que a construção tenha sido anunciada como grande novidade, porque no primeiro quartel do século passado os automóveis eram raros. Num site da Polícia de Minas Gerais vejo a seguinte nota de 1910: “Um mês depois, no dia 14 de fevereiro, ocorria também, o primeiro atropelamento por automóvel registrado pela Guarda e alardeado pelo mesmo jornal: ‘Hoje, ás 11 horas da manhã, o automóvel de propriedade do ilustre clínico Dr. Antônio Aleixo atropelou o acadêmico Antônio Navarro, quando o jovem estudante deixava a Academia de Direito. A vítima, que sofreu ligeiras escoriações, foi cuidada pelo humanitário médico que vinha no veículo’”. Hoje, qualquer idiota tem cinco ou seis automóveis. Não invento, porque já tive cinco e não nadava em ouro. Até pelo contrário, era modesto produtor de leite em Três Rios (RJ). Se o leitor promete que não vai contar para ninguém, confesso que os cinco veículos eram picapes de caçambas abertas.

O mundo é uma bola
11 de janeiro de 630: Maomé, o profeta fundador do islamismo, destrói os ídolos do santuário de Kaaba em Meca. Kaaba ou Caaba é uma construção cúbica de 15,24 metros de altura cercada por muros de 10,67m e 12,19m. Ela está permanentemente coberta por manta escura com bordados dourados, que é regularmente substituída. É o centro das peregrinações (hajj) e é para onde o devoto se volta para as suas preces diárias (salat). É o lugar mais sagrado do Islã. Quando o profeta repudiou todos os deuses pagãos e proclamou um deus único, Alá poupou a Caaba. No período pagão, a Caaba provavelmente simbolizava o sistema solar abrigando 360 ídolos, sendo assim uma representação zodiacal. O edifício foi restaurado diversas vezes. A construção atual data do século 7, substituindo a mais antiga, que foi destruída no cerco de Meca em 683. Em 1610, Galileu descobre Ganímedes, satélite de Júpiter. Em 1689, o Parlamento da Inglaterra depõe o rei Jaime II, cuja base aliada não tinha sido comprada com ministérios, mensalões e maracutaias. Em 1922, utilizada pela primeira vez a insulina no tratamento de humanos. O paciente era um canadense de 14 anos. Em 314 morreu o papa Melquíades, em 705 o papa João VI e em 844 o papa Gregório IV. Hoje é o Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos.

Ruminanças
“Governar não é assustar”
(Bias Fortes, 1891–1971). 

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