segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Preferências doentias - Lilian Monteiro

Preferências doentias
Interesse sexual atípico só justifica intervenção clínica quando causa sofrimento ao indivíduo e dano ao outro. Para todos há tratamento, ainda que não haja cura

Lilian Monteiro
De Curitiba*
Estado de Minas: 20/01/2014

Antigamente, a definição de sexo era o ato feito entre adulto, humano e vivo na busca do prazer e para procriação. Tudo o que fugia a esse cenário era considerado transtorno. Agora, a visão da medicina e de especialistas no tema é mais coerente com o que existe. No que tange à saúde, as parafilias são consideradas alterações do comportamento sexual caracterizadas por fantasias sexuais específicas, necessidades e práticas sexuais repetitivas e angustiantes ao indivíduo que comumente lhe causam sofrimento. E toda parafilia é doença.
As parafilias, tema da segunda reportagem da série do Estado de Minas sobre transtornos da sexualidade, foram debatidas na 31ª edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Curitiba, numa abordagem que destacou diagnóstico, tratamento e quais transtornos parafílicos são crimes e exigem intervenção clínica por causar prejuízo, excetuando os casos de comportamentos que não são convencionais, mas são praticados de forma consensual.

De Belo Horizonte e presente no Congresso, o psiquiatra Paulo Roberto Repsold, especialista em psiquiatria forense, reforça que parafilias "são preferências sexuais anormais e doentias, no sentido de bizarras a pervertidas, que a pessoa ao longo da vida desenvolve de forma lenta e gradual". O médico diz que é importante ressaltar que as parafilias podem ter graus de intensidade diferentes. Há transtornos que ninguém percebe que a pessoa tem e outros que têm perfil de psicopatas. "Tem a pedofilia, uma doença cuja prática é crime. A satisfação sexual do indivíduo, na pedofilia, é crime, no entanto, se ela ocorre só na cabeça, se a pessoa segura a onda apenas vendo imagens e revistas sobre crianças, aí não é crime. Como também aquele que sente prazer em manipular fezes ou passar suas fezes ou do parceiro no corpo. Nesse caso, não é normal. É uma doença, mas não é crime."

Repsold explica que o distúrbio mental com preferência anômala e pervertida serve para definir qualquer parafilia (veja ao lado). O tratamento é a única saída, mas não é específico. "Não há cura porque não tem efetividade segura, seja farmacológica ou psicoterapêutica. Contudo, o indivíduo consegue viver com ela, podendo reduzi-la em frequência e intensidade, e assim controlar sua compulsão, eventualmente até fazendo-a desaparecer com o passar dos anos." O critério para o diagnóstico, conforme Paulo Roberto, é a preferência. Ou seja, a pessoa sente mais prazer com a atividade parafílica do que com o sexo normal.

O psiquiatra conta que as parafilias, epidemiologicamente, não são raras na sociedade. Pelo contrário, são frequentes, principalmente, nas suas formas menos intensas. No entanto, não há números estatísticos sobre esses transtornos. Repsold destaca o impacto que elas têm na saúde do paciente ao gerar sofrimento, inadequação social e envolver terceiros, gerando graves prejuízos físicos e mentais. "A complicação do problema é que o tratamento tem de partir do indivíduo, ele tem de procurar ajuda, ou um terceiro ou ambos no pedido de socorro. No Sistema Único de Saúde (SUS) há tratamento para saúde mental que, certamente, dará o encaminhamento necessário para casos desse tipo. Ou ainda, a percepção de amigos, família, parentes, que vão estimular quem está sofrendo a buscar tratamento. Apesar de não haver cura específica, há como tratar e melhorar a saúde mental."

FLAGRANTE Alexandre Saadeb, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria (IPq), de São Paulo, chama a atenção para parafilias que, muitas vezes vistas como consensuais e de comum acordo, podem interferir na vida da pessoa de modo ruim, com sofrimento. "Há pessoas casadas que buscam o sadismo ou masoquismo, por exemplo, fora da relação. Ou o parceiro que topa, mas sem sentir prazer ou gostar. Passar por essa situação ou viver no anonimato diante de um ato que causa, no mínimo, estranheza é muito difícil e vale consultar um especialista de sexualidade."
A parafilia, apesar de pouco divulgada, deixa feridas, é um flagelo, traz infelicidade, padecimento e infortúnio. Saadeb lembra que não há como falar em cura, já que "o desejo em si, o comportamento em relação ao desejo, ninguém nunca vai conseguir mudar". É possível, sim, controlá-lo com a psicoterapia, sendo a técnica cognitivo-comportamental uma das mais indicadas, somada ao medicamento. "O que precisa ficar claro é que, se a parafilia for consensual, só fantasia, vivida na intimidade com acordo total ou parcial, sem agredir ninguém, ela não é crime. Do contrário, é, se o caso for de pedofilia, exibicionismo ou frotteurismo, por exemplo." O médico lembra que há muitos casos, mas ressalta que eles se apresentam depois de descobertos, quando são pegos em flagrante, na prática do crime, ou porque chegam a um grau de sofrimento insuportável.

Sites bloqueados
Recentemente, o presidente do Google, Eric Schmidt, anunciou a aplicação de uma nova tecnologia que permitirá ao grupo bloquear um grande número de buscas de pornografia pedófila na internet, em um artigo publicado no jornal britânico Daily Mail. De acordo com Schmidt, a pornografia pedófila será expurgada dos resultados de mais de 100 mil tipos de busca, graças à nova tecnologia. As restrições serão aplicadas inicialmente aos países de língua inglesa, mas nos próximos seis meses serão ampliadas ao restante do mundo e a outros 158 idiomas. O anúncio foi feito poucas horas antes de uma reunião sobre a segurança na internet, que ocorreu em 18 de novembro na residência do primeiro-ministro britânico, David Cameron, em Downing Street, com a presença de representantes do Google, Microsoft e outras empresas de internet. "Sem dúvida a sociedade nunca vai conseguir eliminar tal depravação, mas devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger as crianças da maldade", escreveu Schmidt. "Programamos o Google Search com precisão para impedir a exibição em nossos resultados dos links com os abusos sexuais infligidos às crianças", explicou. 

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