sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Eduardo Almeida Reis - Academias‏

Academias
O mundo fashion é composto de modismos e tolices

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 28/02/2014

Tenho frequentado pouco a Academia Mineira de Letras (AML), que teve a ousada gentileza de me acolher entre os seus membros em 1995. Problemas geográficos e hospitalares fazem que o philosopho se ausente da Casa de Alphonsus de Guimaraens, que é também e muito a Casa de Vivaldi Moreira – instituição admirável sediada na Rua da Bahia, em Belo Horizonte, hoje presidida pelo não menos admirável escritor Olavo Romano, natural do Morro do Ferro, em Oliveira, Centro-Oeste de Minas. Aplica-se ao Morro do Ferro o título de um filme italiano Vedi Napoli e poi muori, o que significa dizer que, tendo conhecido Nápoles, uma das cidades mais lindas do mundo (sic), o sujeito pode morrer. Por suas próprias virtudes e pelo fato de ser lindeiro de Ritápolis, cidade natal de bom amigo meu, o Morro do Ferro exprime o que há de melhor na mineiridade. Embatuco entre falar das academias e do prefeito de Nápoles, que deve ser o novo primeiro-ministro italiano na flor dos seus 39 aninhos, o que na Itália significa menino de cueiros. Por ora, fico nas hostes academiais para lembrar ao leitor o texto “A origem das academias”, do médico Cláudio Azevedo Sales, que me honra com a sua amizade, publicado neste jornal em 11 de julho do ano passado. Vice-presidente da Academia Mineira de Medicina, o doutor Sales analisou as academias desde o seu florescimento na Grécia Antiga, berço da civilização ocidental. No texto aprendi que Zeus, deus dos céus e dos trovões, rei dos deuses e dos homens, dominava o universo e os deuses de Olímpia. Apesar de casado com Hera, aventurava-se em romances eróticos, originando descendentes divinos e heróis. Certa vez, surpreendeu a encantadora Leda, mulher de Tyndareus, rei de Esparta, seminua, deitada sobre a relva – e por ela se apaixonou. Para conquistá-la, Zeus se transformou em cisne conseguindo seduzi-la enquanto ela dormia ao lado do marido. Nessa mesma noite materializou seu desejo e consumou sua união com Leda, originando quatro filhos: Pollux, Cástor, Clytemnestra e Helena, imortalizada como a sedutora Helena de Troia. E a história vai (ou vem?) por aí, mostrando que Zeus, rei dos deuses e dos homens, gostava do que é bom, isto é, a mulher do próximo. Quase tão bom quanto a mulher do próximo é o biscoito belga, o que não impede que o homem sério deguste os dois.


Elegância
Na retrocroniqueta que você acaba de ler ameacei falar do novo primeiro-ministro italiano, que tem esnobado o mundo em matéria de elegância. Todo cavalheiro maior de 50 anos, que não tenha passado sua juventude nu nas selvas tropicais, sabe que o paletó-padrão do homem civilizado tinha em cada manga quatro botões caseados, o primeiro dos quais, mais próximo da mão, com a casa aberta, isto é, sem aparecer o botão. No casear dos outros botões bastava a imitação da casa. Besteira? Claro que sim. O mundo fashion é composto de modismos e tolices. Quando adotada por expressivo estamento social, a moda fica chique e o chiquê faz bem à alma de muita gente para não destoar do meio em que vive. Pois fique o leitor sabendo que Matteo Renzi, o tal prefeito de Florença, botou as manguinhas de fora ao se apresentar diante das tevês do mundo inteiro com cinco botões caseados em cada manga dos seus paletós: cinco! Suponho que todo o casear seja falso. Ainda assim, é muita casa e muito botão. Se a moda pega logo teremos paletós com 10, 20 botões (e casas) em cada manga, sem que o mundo melhore por causa disso.


O mundo é uma bola
28 de fevereiro de 870; encerrado o Quarto Concílio de Constantinopla. Devo confessar que não tenho o mais mínimo interesse pelo que foi decidido no 4º Concílio de Constantinopla, como suponho que o leitor do EM também não tenha. Estamos preocupados, o leitor e o philosopho, com o time do Felipão e com os cinco drones que a Marinha do Brasil ameaça comprar para vigiar 3 milhões de quilômetros quadrados de nossa Amazônia líquida: os mares próximos de um país grande e bobo. Cinco aeronaves não tripuladas. Acho pouco. Louvo os drones quando usados para matar terroristas, ainda que eventualmente matem algumas pessoas “inocentes” no entorno. Bombas normais também matam “inocentes”. Balas perdidas, veículos desgovernados, ex-maridos, filhos esquizofrênicos – tudo mata: viver é muito perigoso. Em 1644, holandeses abandonam São Luiz do Maranhão, que volta ao domínio das famílias Sarney e Lobão para felicidade geral da nação. Em 1736, a Coroa portuguesa decreta que o transporte de ouros, diamantes e pedras preciosas brasileiras seja feito exclusivamente nos cofres das frotas. Em 1912, o capitão norte-americano Albert Perry realizou em Missouri o primeiro salto de paraquedas de um avião. Transcorridos exatos 102 aninhos, saltar de paraquedas virou divertimento de fim de semana. Em 1964 Paulínia emancipou-se de Campinas (SP), permitindo que as quadrilhas de ladrões de cofres eletrônicos tivessem mais um município para explodir suas bananas de dinamite. Em 1920 nasceu Virgínia Lane, morta outro dia. Hoje é o Dia da Ressaca.


Ruminanças
“O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).

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