domingo, 13 de abril de 2014

Eduardo Almeida Reis - Revisão‏

Revisão 
 
Depois de muitos anos sem grandes alterações nas lentes dos meus óculos, noto que passei a enxergar mal 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 13/04/2014



Dia desses transcrevi como ruminança uma frase de um gênio alemão: “Todos, só porque falam, creem poder falar da língua também” (Goethe, 1749-1832). Relendo a matéria inteira, cerca de 850 palavras, senti que alguma coisa não soava bem na ruminança goethiana. Pensei que fosse o sublinhado vermelho em creem, invenção do maldito Acordo Ortográfico, que o corretor de textos do Word sempre muda para crêem.

Dia seguinte, depois de noite bem dormida, voltei às 850 palavras, retoquei algumas frases e a ruminança continuava saltando aos olhos, sem que o cavalheiro que a transcreveu soubesse por quê. Frase de Goethe, tradução de Paulo Rónai, revisão de Marco Antonio Varella Alliz, Umberto Figueiredo Pinto e Henrique Tarnapolsky, trinca de craques dos bons tempos da Editora Nova Fronteira, e algo soava mal.

Qualquer sujeito que não fosse o autor da transcrição descobriria o erro numa primeira leitura. Transcrevi “Todos, só porque falam, creem poder fala da língua também” e não me dava conta de “fala” em lugar de “falar”. Nada melhor neste suelto do que transcrever frase do próprio Goethe sobre erro tipográfico: “Cada vez que vejo um erro tipográfico, penso que algo novo foi inventado”.

Obesidade
Em São Paulo, a greve dos agentes penitenciários; no Rio, o tiroteio em favelas já ocupadas pelas UPPs. Através desses episódios vimos na tevê um fenômeno que tenho comentado aqui: a obesidade das senhoras das chamadas classes menos favorecidas. Os grevistas do presídio de Hortolândia, SP, permitiram que parentes levassem para os presos alimentos e produtos de higiene no dia normalmente marcado para visitas.

Parentes de presos em Hortolândia não são milionários listados pela revista Forbes. Até pelo contrário, devem ser mães, irmãs, esposas e filhas que nunca nadaram em ouro. E quase todas, seguramente mais que 70% delas, imensamente gordas, beirando a obesidade mórbida.

Considerando que os alimentos custam dinheiro, a parentela dos presos deve comer o dia inteiro selecionando os alimentos mais engordativos. Na favela de Manguinhos, onde bandidos trocaram tiros com a polícia e queimaram os contêineres que abrigavam uma UPP, a situação é parecida. Dia seguinte, ao sol do meio-dia, um repórter bordejou a favela metido em colete à prova de balas e tentou entrevistar duas brasileiras, uma que passava por ali, outra que estava sentada numa espécie de banquinho. Imensas, as duas, transbordantes de gorduras, quadros dolorosos de obesidade.

Manguinhos é região plana, mas nas favelas dos morros ainda sem teleféricos os quadros de obesidade são parecidos. Como é possível que uma senhora com excesso de peso da ordem de 80, 100 quilos consiga subir as ladeiras daqueles morros?

Oftalmologia
Oculística, oftalmiatria, oftalmologia, sabemos todos, é especialidade médica que se dedica ao estudo e tratamento das doenças e erros de refração apresentados pelo olho. Depois de muitos anos sem grandes alterações nas lentes dos meus óculos, noto que passei a enxergar mal. Culpei as lentes, uma de resina, outra de vidro, e marquei consulta num oculista recomendado.

Enquanto isso, divertem-me as leituras que faço na tela do computador, como esta: “Tetas grandes impulsionam compra de smartphone, diz pesquisa. Estudo afirma que penetração de smartphones cresceu 101% no Brasil em 2013”. Que diabo teriam as tetas com a penetração dos smarthphones?

Smart é elegante, inteligente, vivo, esperto, donde se conclui que smartphone deve ser celular inteligente. Por que, diabo, o telefoninho dependeria de inteligência para penetrar nas tetas, quando é sabido que diversas senhoras têm sido flagradas, ao entrar nos presídios para visitar seus maridos e senhores com dois ou três celulares escondidos nas genitálias das respectivas anatomias, e um cavalheiro, em Manaus (AM), foi flagrado transportando dois telefoninhos para um apenado que não era seu namorado, mas pagaria R$ 300 pela missão, digamos sem trocadilho, hercúlea. Hércules, semideus da mitologia grega, célebre pela sua força, escapou da missão porque foi semideus anterior à telefonia celular.

No dia em que escrevo, ando às voltas com uma conta de R$ 143 referente ao consumo de março de 2014 do número que tive em Belo Horizonte (031) até janeiro de 2013, substituído por dois chips (032) há exatos 15 meses. Não acredito que uma operadora de telefonia celular tente roubar R$ 143 de um cliente. A remessa da conta para o endereço juiz-forano só pode ter sido um erro, e é triste constatar que uma empresa gigantesca possa cometer tais errores. Volto à oftalmiatria para informar ao assustadíssimo leitor que o smartphone não penetrou nas tetas, mas nas telas grandes, provando que é hora de voltar ao oculista.

O mundo é uma bola
13 de abril de 1204: o cerco de Constantinopla pelas tropas da Quarta Cruzada termina com a conquista e o saque da cidade, coisa feia para os cruzados que diziam fazer uma guerra santa. Em 1598, o rei Henrique IV, da França, pelo Edito de Nantes confere liberdade de religião aos huguenotes. Você, leitor do EM, conhece os huguenotes? Já me hospedei na fazenda de uma huguenote, senhora finíssima. Hoje é o Dia Internacional do Beijo.

Ruminanças
“Porque, em suma, que mal pode fazer um beijo?” (António Nobre, 1867-1900).

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