domingo, 13 de abril de 2014

Tereza Cruvinel - Os ventos no radar‏

Os ventos no radar 

Começa a ficar claro que haverá segundo turno na disputa presidencial. A outra variável diz respeito à competitividade de cada candidato da oposição 

 
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 13/04/2014


O que acontece no Brasil neste momento é uma forte ventania política, a poucos meses da eleição presidencial, decorrente de uma mistura de elementos que são reais, mas estariam sendo tratados de outro modo se não houvesse uma disputa em curso. E isso vale tanto para as denúncias envolvendo a Petrobras, que podem se agravar depois das diligências da Polícia Federal na sexta-feira, como para o cartel paulista, que teve a prisão de alguns envolvidos pedida no mesmo dia. Vale também para os pontos negativos da economia e as apostas do mercado, ditadas pelas perspectivas eleitorais. Se a presidente-candidata Dilma cai, a bolsa sobe, e vice-versa. Os ventos de agora afetarão a campanha com intensidade que ainda não pode ser medida, mas alguns rumos da campanha já começam a ganhar contornos claros.

Uma variável importante é a da ocorrência ou não de segundo turno. Embora as pesquisas ainda indiquem a possibilidade de Dilma Rousseff se reeleger no primeiro turno, uma avaliação realista sugere que tal hipótese vai se tornando mais remota, embora tenha aparecido até na última pesquisa Datafolha, que registrou queda de 6 pontos nas preferências eleitorais pela presidente. Graças ao fato de seus adversários terem se mantido estacionados, Dilma preservou uma dianteira de 12 pontos sobre a soma deles. Uma vantagem pouco segura, pois, em algum momento, eles vão crescer. O quanto é que não se pode saber hoje. "Nem o PT se ilude com a possibilidade de vitória em primeiro turno, embora não admita isso", diz o senador do PSB do DF Rodrigo Rollemberg, escudeiro do candidato Eduardo Campos. A alta probabilidade do segundo turno é alimentada pelas quedas de Dilma e pela existência, neste ano, de dois candidatos de oposição competitivos, diferentemente do que ocorreu em 2006 e 2010. Nessas eleições, Lula e Dilma, respectivamente, embora favoritos o tempo todo, não levaram de primeira. Como a situação dela hoje é mais desfavorável, maiores são as chances de que isso se repita.

Havendo segundo turno, a outra equação importante, principalmente para a oposição, é sobre as vantagens de um e de outro candidato no enfrentamento final. A favor do senador mineiro Aécio Neves pesa o fato de o PSDB ser muito mais estruturado nacionalmente que o PSB, ter mais capilaridade e dispor de pelo menos duas grandes máquinas, os governos de Minas Gerais e de São Paulo, estados em que são hegemônicos há bom tempo e que congregam os dois maiores colégios eleitorais do país. Para os aliados de Campos, entretanto, ele é o candidato com mais chances de derrotar a presidente. Os socialistas mencionam pesquisas que apontariam diferentes capacidades de transferência de votos de um candidato para o outro. Se Aécio chegar lá, pode herdar parte do eleitorado de Eduardo Campos, mas uma boa parcela deles, identificada com a esquerda, refluirá para a candidatura petista. Aliás, como fez em 2010 boa parte dos 20 milhões de eleitores que votaram em Marina Silva no primeiro turno. "Eduardo é o mais competitivo no segundo turno porque receberia praticamente 100% dos votos dados a Aécio no primeiro turno", diz o senador Rollemberg. Essa equação certamente permeará os discursos de campanha e poderá influir no resultado do primeiro turno.

O voto útil é um apelo ao eleitor para votar no candidato que, mesmo não sendo o de sua primeira preferência, tem mais chances de derrotar o adversário principal. O PSB dá sinais de que fará esse tipo de apelo na reta final do primeiro turno.

Tudo isso, entretanto, parte do pressuposto de que a candidata do PT, para o que der e vier, será mesmo Dilma. Mas essa é a equação que ainda não tem resposta. As variáveis são o desempenho dela nos próximos meses e a disposição de Lula e do PT para, se for preciso, impor uma substituição que será desgastante e que pode deixar sequela.

Marina e Eduardo
Será intenso hoje o desembarque de filiados do PSB e da Rede em Brasília para a festa de amanhã de lançamento pré-oficial da chapa Eduardo Campos-Marina Silva. "Vamos dar a largada, depois de superada a fase de ajustes, e, depois, ganhar a estrada. Juntos ou separados, eles visitarão as 150 maiores cidades brasileiras até junho", informa o deputado Beto Albuquerque, do PSB. "Este rito será um momento importante. O Brasil perceberá mais nitidamente que eles se uniram para formar uma chapa ímpar, pelo peso e representatividade de cada um", diz o ex-prefeito de Manaus Serafim Correa.

Livros, cultura e política
A Esplanada estará ocupada nos próximos dias pelos pavilhões da 2ª Bienal do Livro de Brasília, que vence o teste da sobrevivência com esta segunda edição, o que muito devemos ao dinamismo de seu idealizador, Nilson Rodrigues, afora o apoio do governo do Distrito Federal. Num ano eleitoral e no cinquentenário do golpe de 1964, não poderia faltar o acento político, afora a presença de grandes nomes nacionais e internacionais da literatura e de outras áreas. A abertura, anteontem, com uma homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano, foi sinal disso. Com ele, algumas gerações aprenderam muito sobre as veias abertas e as dores seculares da América Latina. Outro homenageado será Ariano Suassuna, que revelou ao Brasil o sentido do sertão nordestino e a riqueza de sua cultura. Afora saraus, lançamentos de livros, peças de teatro e projeções de filmes, a programação inclui debates sobre os 50 anos do golpe e outras questões políticas. A série "Narrativas guerrilheiras", em que atuo como mediadora, começa hoje, com Alfredo Sirkis, às 20h.

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