terça-feira, 15 de abril de 2014

Tereza Cruvinel - O efeito Marina‏

Tereza Cruvinel - O efeito Marina
 
O que vamos conferir, a partir de agora, é a amplitude do efeito Marina, a candidata que não foi mas continua sendo, mesmo no papel de vice


Estado de Minas: 15/04/2014


Com o lançamento precoce da chapa Eduardo Campos-Marina Silva, 90 dias antes do prazo final para a realização das convenções partidárias que escolherão os candidatos, o comando da campanha do ex-governador de Pernambuco espera produzir uma segunda e importante inflexão nos rumos da campanha presidencial. A estratégia é levá-lo, até agosto, ao segundo lugar nas pesquisas, posição hoje ocupada pelo tucano Aécio Neves. A aposta é numa intensa exposição da imagem da dupla, por todos os meios possíveis, para acelerar a migração dos eleitores de Marina para a chapa encabeçada por ele.

Na última pesquisa Datafolha, Campos obteve apenas 10% de preferência e, quando seu nome foi substituído pelo de Marina, ela alcançou 27%, único cenário em que a presidente Dilma não venceria no primeiro turno. Segundo pesquisas do PSB, apenas 30% dos eleitores dele sabem que Marina o apoia e será sua vice.

A primeira alteração importante no quadro eleitoral ocorreu em outubro, quando ela filiou-se ao PSB, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negar o registro da Rede. Embora tenham anunciado naquele momento apenas uma “aliança programática”, como ela recordou no discurso de ontem, e tenha surgido divergências que ainda persistam entre PSB e Rede quanto às opções eleitorais nos estados, a partir de então, Campos adquiriu um potencial eleitoral que antes não tinha, entrando no jogo para valer. A transferência dos votos de Marina para ele, entretanto, aconteceu muito residualmente, em grande parte devido à esperança dos eleitores marinistas de que ela viesse a ocupar a cabeça da chapa. Essa hipótese ela sempre negou, até por ter firmado compromisso nesse sentido com ele, na madrugada de 4 para 5 de outubro do ano passado. Mas o eleitor sonhava e, com isso, não migrava. Com o lançamento da chapa, ilusões ou especulações saem do radar, e a chapa com ela no papel de vice torna-se uma realidade. Agora é esperar o efeito da jogada.

Campos, atestam os mais próximos dela, entrou na disputa para tornar-se conhecido nacionalmente, acumular capital e ser candidato para valer em 2018. Por isso, até o momento em que ganhou o apoio de Marina, mantinha uma relação ambivalente com o PT, fazendo críticas moderadas, reconhecendo os acertos e dizendo que era possível “fazer mais”. Entre 2014 e 2018, o mundo poderia dar muitas voltas, e ele ainda poderia vir a ser candidato do campo de esquerda liderado hoje pelo PT. Com a adesão de Marina, ele adquiriu nova musculatura na disputa, mudou o discurso e passou a confrontar mais agressivamente o PT e a presidente Dilma. O ex-presidente Lula, de quem foi ministro e recebeu generoso apoio como governador, ele ainda busca, de certo modo, preservar ou distinguir de Dilma. Na festa de ontem, que guardou alguma semelhança com as convenções petistas dos anos 1990, isso transpareceu tanto no discurso dele quanto no de Marina. “A partir de 2010, o Brasil perdeu o rumo estratégico”, disse, cutucando Dilma: “O Brasil precisa não é de gerente, é de um líder”. Marina também recomendou “não negar os avanços nem ser complacente com os erros”.

Segundo socialistas do círculo mais próximo dele, o discurso vai ser esse ao longo da campanha: colar em Dilma a responsabilidade pela alta da inflação, pela desconfiança dos mercados na condução macroeconômica, pelos problemas no setor elétrico, pelas práticas políticas que afetaram a saúde financeira da Petrobras e possibilitaram os ilícitos que estão sendo investigados.

A estratégia deslanchada com a festa de ontem tem outro desdobramento. O esforço para tomar do tucano a segunda posição pode afetar não apenas as relações cordiais entre eles, mas, também, as possibilidades que ainda restam de aliança entre PSB e PSDB nos estados. Passada a festa, PSB e Rede vão retomar as negociações nos nove estados em que têm divergências sobre candidaturas a governador. Em alguns deles, motivadas pela tendência do PSB de apoiar um tucano.

O que vamos conferir, a partir de agora, é a amplitude do efeito Marina, a candidata que não foi mas continua sendo. Aliás, em seu discurso, sempre muito peculiar, afirmou que a vida acontece no gerúndio: “Se estamos caminhando, estamos avançando”. E ensinou que, para entrar na floresta, é preciso estar acompanhada de um bom mateiro, e andar ao lado dele, não atrás. Emendou avisando que andará “lado a lado” com Eduardo. Significará isso que não será subalterna? Cada um leia como quiser.
No mais, ali estava reunida uma grande lasca da coalizão liderada pelo PT, reunindo pelo menos cinco ex-ministros de Lula: Campos, Marina, Cristóvam Buarque (PDT), Miro Teixeira (Pros) e Roberto Amaral (PSB).

O jogo no Rio

No fim de semana, a Rede de Marina Silva anunciou o apoio à candidatura do deputado Miro Teixeira a governador, descartando a opção por Alfredo Sirkis. O PSB já havia feito isso no mês passado. Miro, agora, entra para valer na disputa fluminense. Sua coligação conta com o Pros, ao qual se filiou, o PSD, o PSB e a Rede. Afora a militância do PDT que vem migrando à revelia da direção. Um confronto formidável, que terá o governador do Rio de Janeiro Pezão (PMDB) disputando a reeleição, o senador Lindbergh Farias, do PT, o deputado Garotinho, do PR, e o senador Marcelo Crivella, do PRB.

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