sábado, 10 de maio de 2014

Eduardo Almeida Reis - Anastasia‏

Só o interesse explicava os casamentos, como continua explicando até hoje. O amor acaba e o interesse é eterno, dizem as más línguas


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 10/05/2014

Neste país em que vocês nasceram, o ex-governador Antônio Augusto Junho Anastasia é caso raríssimo de político alfabetizado. Também nasci por aqui, mas tenho pensado em abrir mão de minha nacionalidade. É melhor ser apátrida do que cidadão de um país dirigido pelos cavalheiros e damas que estão no poder, isto é, nos três poderes, agora que o Executivo, mancomunado com o Legislativo, conseguiu transformar o STF naquilo que se vê.

Manhã dessas, ouvindo o ainda governador Anastasia pronunciar probo (ô), quando sempre pronunciei probo (ó), consultei o Houaiss eletrônico, que abona probo (ô), e produzi belo suelto à pressa, considerando que estava e estou atrasado de costura.

Datado de 1680, probo é adjetivo pouco usado, porque significa “de caráter íntegro, honrado, honesto, reto”, gente que não abunda por aí como abunda a pita. Pergunto ao leitor e à leitora: além de vocês e do seu philosopho, quantos brasileiros honrados vocês conhecem?

Claro que há muita gente boa e séria, mas me refiro às celebridades, aos políticos, aos renans, aos henriquinhos e outros de igual desvalor. Boa essa de igual desvalor, né? Não me lembro de ter lido. Devo ter inventado agora.

Publicado o suelto do probo (ô) fiquei encucado: como expliquei, sempre pronunciei probo (ó). Hoje cedo, tomado o desjejum, antes mesmo de acender o charuto, fui ao imenso dicionário da Academia de Ciências de Lisboa e confirmei que em Portugal a pronúncia é probo (ó). Animado pela constatação, fui ao abençoado Google, maravilha que só perde em utilidade para o bidê, cliquei “pronúncia probo” e apareceu o Manual de Redação de Estilo, do excelente Eduardo Martins, em estadao.com.br.

Pois fique o caro, preclaro e pacientíssimo leitor ciente de que o respeitado xará, em uma série de casos nos quais havia dualidade de pronúncia, optou pela mais comum e recomendável: lá está probo (ó), como sempre pronunciei. É verdade que Martins abona acervo (ê), que pronuncio, talqualmente o ilustríssimo acadêmico e professor Almir de Oliveira, acervo (é). O só fato de Eduardo Martins incluir acervo em sua lista é sinal de que há dualidade de pronúncia. Portanto, continuo pronunciando acervo (é) e volto ao probo (ó). É isso aí, bicho.


Camisaria
Montanha talvez seja um exagero para quantificar as camisas que entopem o armário de um philosopho amigo nosso, mas o montinho é expressivo e tem características originais. Uma dúzia das melhores, originais Lacoste, são usadas somente nas ocasiões em que não pretendo fumar charutos. Portanto, continuam praticamente virgens. Com as demais, que são muitíssimas, deve acontecer fenômeno parecido com o que ocorria nos haréns: as favoritas são muito mais usadas.

Quando andei lendo sobre haréns, aprendi que o sultão não se importava que as odaliscas mantivessem relações sexuais entre elas ou com alguns eunucos, porque só queria ter a certeza de que os filhos nascidos fossem dele, sultão. Muitos eunucos, se castrados depois da puberdade, continuavam tendo ereções.

Só outro dia descobri que minhas camisas prediletas, compradas numa loja belo-horizontina, estão com os colarinhos puídos. O adjetivo puído entrou em nosso idioma no ano de 1529: “bastante gasto e já ralo devido ao uso constante”. Diz-se de roupa, calçado etc., o que me faz supor que a locução conjuntiva et cetera inclua os cavalheiros puídos pelo passar dos anos.

Patrimônio da Humanidade, o Taj Mahal é um mausoléu de mármore branco construído entre 1632 e 1653 pelo imperador Shah Jahan em memória de sua mulher favorita, Aryumand Banu Begam, que ele chamava de Mumtaz Mahal, morta após dar à luz seu 14º filho. Na obra do maluco trabalharam cerca de 20 mil homens levados de várias cidades orientais.

Shahabuddin Mohammed Shah Jahan governou o Império Mogol, no subcontinente indiano, entre 1628 e 1659. Shah Jahan, nome que vem do persa, significa “Rei do Mundo”. Na forma do louvável costume, peço ao leitor que não acredite muito nos números deste belo suelto, porque fui conferir em “Império Mogol” e as datas não batem com o que aprendi sobre o maluco, mas na história das camisas você pode acreditar. Pela atenção, muitíssimo obrigado.


O mundo é uma bola
10 de maio de 1291: nobres escoceses reconhecem a autoridade de Eduardo I da Inglaterra sobre o seu país. Eduardo I (1239-1307), também conhecido como Eduardo Pernas Longas ou Martelo dos Escoceses, foi rei da Inglaterra de 1272 até morrer. Primeiro filho de Henrique III da Inglaterra e de Leonor da Provença (1223-1291). A Wikipédia não tem pinturas retratando Leonor, tem um esboço, e diz que ela teve cinco filhos, foi irmã da rainha da Provença e pertenceu, pelo nascimento, à Casa de Barcelona, e, pelo casamento, à Casa Plantageneta.

Dá para imaginar como era complicado o casamento naquele tempo sem Facebook, Instagram, telefone, e-mail. Por outro lado, era possível e até mesmo provável que todos catingassem e tivessem piolhos. Só o interesse explicava os casamentos, como continua explicando até hoje. O amor acaba e o interesse é eterno, dizem as más línguas. Hoje é o Dia da Cozinheira, do Guia de Turismo e da arma de cavalaria do Exército.


Ruminanças

“O bom casamento é um eterno noivado” (Theodor Körner, 1791-1813).

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