quarta-feira, 7 de maio de 2014

Eduardo Almeida Reis - Espelho meu‏

Com todo o respeito pelos nilóticos, que não dispensavam seus espelhos de cobre, acho que os espelhos fazem mal às pessoas de 'certa'idade. 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/05/2014


Espelho meu

Cinco séculos antes de Cristo havia espelhos de cobre no Egito, junto ao Rio Nilo. Mais tarde foram construídos espelhos de prata polida, que é boa refletora, mas escurece e deve ser limpa e polida frequentemente. Os espelhos, tais como os conhecemos, devem ser posteriores ao trabalho publicado em 1835 por Justus von Liebig: “/.../ quando se mistura aldeído com uma solução de nitrato de prata e se aquece, a prata é depositada sobre as paredes de vidro, resultando em um espelho brilhante”. Diz ainda a Wikipédia que os espelhos devem conter pelo menos 10% de óxidos, podendo ser de chumbo (PbO), de bário (BaO), de potássio (K2O) ou de zinco (ZnO).

Há pouco, antes de entrar no chuveiro, andei pensando no tanto que o espelho me aborrece nos últimos anos. Com todo o respeito pelos nilóticos, que não dispensavam seus espelhos de cobre, acho que os espelhos fazem mal às pessoas de “certa” idade.

Em rigor, são desnecessários. Tudo que se faz diante de um espelho pode ser feito sem ele, poupando-nos o desgosto de nele ver refletida a marca dos anos. Não tenho uma ruguinha e a juba é abundante, o que deveria ser motivo de alegria espelhada, mas a gente só vê as coisas ruins, que ficaram péssimas.
Se digo que é possível dispensar o espelho mesmo para fazer a barba, é porque o serviço pode ser feito por uma cabeleireira, preferencialmente cheirosa e bonita, que tenha o bom gosto de dar um beijinho na bochecha escanhoada com a mentira: “Você está lindo!”. Dá para imaginar o tamanho da gorjeta.

Exercícios

Milhares de cientistas de alto gabarito têm dito que os exercícios físicos ajudam a evitar uma série de doenças graves e são fundamentais para uma vida saudável. Por via de consequência, como gostava de dizer meu saudoso amigo Aureliano Chaves, não existe nada pior do que o sedentarismo, qualidade de quem é sedentário, aquele que não se movimenta muito, que anda ou se exercita pouco.

Em vez de meter, prefiro inserir minha colher no assunto para dizer que o exercício físico pressupõe muita saúde para ser praticado. Gosto e saúde, mas o pendor pode ser compensado pela necessidade. Há muita gente que não gosta do que faz, mas trabalha porque precisa.

Li no Jornal da ImprenÇa, do inigualável Moacir Japiassu, paraibano, 71 anos de idade e 51 de profissão, jornalista, escritor e vascaíno, uma observação sobre a morte recente do ator José Wilker aos 66 anos de idade. Ressalve-se a qualidade da morte de Wilker, enfarte fulminante, dormindo em casa de sua namorada. Não conheceu a decadência física e profissional, que arruína a vida de tanta gente.

No tópico “Saúde mata!”,  Japi falou do susto do produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão, com a notícia da morte de Wilker, que “começou a fazer exercícios, perdeu peso, só bebia socialmente e muito pouco”.
Não por acaso, Guimarães Rosa, que morreu antes de completar 60 anos, escreveu que “viver é muito perigoso”. A parca é assunto chatíssimo mesmo para os que têm o plano funerário anunciado nas rádios de Juiz de Fora. Conveniado com um plano de saúde e um odontológico, o plano funerário trombeteia seus mais de 15 mil serviços prestados.

Palavras

De vez em quando ouço repórteres televisivos falando de festas rave. Não tinha, como presumo que o leitor também não tenha, a menor noção do significado de rave. Houaiss nos ensina que rave é substantivo masculino, de datação muito recente (1990) e significa festa dançante em que se toca música eletrônica, geralmente realizada por mais de uma noite e em grandes espaços afastados dos centros urbanos.

Funk é mais antigo: data de 1960 e é um tipo de música americana de origem negra com ritmos sincopados em compasso binário. Como sou chato fui procurar a etimologia de rave no dicionário do doutor Bill Gates, que informa ter entrado no inglês no século XIV de raver, do Old French. E Old French, senhoras e senhores do Egrégio Conselho Leitoral, “was the Romance dialect continuum spoken in territories that span roughly the northern half of modern France and parts of modern Belgium and Switzerland from the 9th century to the 14th century. It was then (14th century) collectively known as the langues d’oil”.

O mundo é uma bola

7 de maio de 1824: estreia a Nona Sinfonia de Beethoven, sim, a Nona, o que faz deste dia um dos mais importantes da história da humanidade. Em 1910 o cometa de Halley passou pelos céus da Terra e todo mundo viu. Quando passou há poucos anos perdi uma noite acordado da roça, céu sem nuvens, e não vi absolutamente nada.
Em 1915, no Mar da Irlanda, um submarino alemão afunda o transatlântico norte-americano Lusitania, matando 1,2 mil pessoas. Estados Unidos e Alemanha rompem as relações diplomáticas. Em 1927, fundação da Viação Aérea Riograndense, a Varig. Hoje é o Dia do Oftalmologista e o Dia do Silêncio, isto é, o dia dos sonhos de quem mora nos bairros barulhentos de Belo Horizonte.

Ruminanças

“O silêncio dos povos é a lição dos reis” (Mirabeau, 1749-1791). 

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