quinta-feira, 8 de maio de 2014

Eduardo Almeida Reis - Telefonia dinâmica‏

Sou do tempo da CTB, a Companhia Telefônica Brasileira, no Rio, quando uma linha custava tanto que era declarada no Imposto de Renda


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 08/05/2014

Minha operadora de forno e fogão deixou o trabalho numa quarta-feira de abril às 15h20. No ônibus, a caminho de sua casa, descobriu que havia 11 (onze!) telefonemas do meu Nokia para o celular dela. Discou o meu número e atendeu um cavalheiro chamado Vítor, episódio que retrata a esculhambação reinante na telefonia deste país grande e bobo. Parece que temos uma das telefonias mais caras do mundo e certamente uma das piores.

Não me queixo, porque sou do tempo da CTB, a Companhia Telefônica Brasileira, no Rio, quando uma linha custava tanto que era declarada no Imposto de Renda e havia pessoas que investiam em linhas, que depois alugavam. Conheci um sujeito que tinha 17 linhas da CTB. A minha exigiu pistolão do presidente da Câmara dos Vereadores, a famosa Gaiola de Ouro, que me levou de carro oficial ao prédio da CTB, ali perto de onde hoje fica o Sambódromo.

Tenho dois amigos ocupando cargos importantes em operadoras de telefonia celular. Estão com os respectivos burros amarrados à sombra, mas morro de pena deles. Pilotam aviões sem instrumentos, sem tripulação, numa bagunça de dar dó.


Dimenores
Quatro brasileiros de 9, 10, 12 e 14 anos, às 11 horas da manhã do dia 7 de abril, num bairro que conheço, na cidade onde moro, pegaram menina de 8 anos, que saía da escola, levaram-na para o alto de uma pedreira, ameaçaram jogá-la do precipício e dela abusaram sexualmente. A polícia registrou a ocorrência como estupro de vulnerável. Encaminhada à perícia médica do Hospital de Pronto Socorro e submetida ao Protocolo de Atendimento ao Risco Biológico e Ocupacional (Parbos), que funciona no Hospital, eis o diagnóstico: “Os exames não constataram conjunção carnal, mas lesões apontaram que houve atentado violento ao pudor”.

A mãe da menina indicou à polícia os nomes dos quatro menores e disse onde poderiam ser encontrados. Se confirmado o ato infracional (sic), os dois de 12 e 14 anos vão passar pela Vara da Infância e da Juventude, enquanto os anjinhos de 9 e 10 anos serão encaminhados ao Conselho Tutelar.

No mesmo dia 7 de abril um estudante norte-americano de 16 aninhos esfaqueou 20 colegas na escola em que era tido como bom aluno, educado e discreto. Imediatamente, suas fotos foram divulgadas em todos os meios de comunicação e o anjinho está preso para responder pelos crimes de lesões corporais. Dois esfaqueados estão em estado grave. Se um morrer, o bandido de 16 anos, bom aluno, educado e discreto, passa a responder por homicídio e vai ver o que é bom para a tosse.

Nossos quatro anjinhos não demoram a voltar à pedreira, que lá continua em sua solidez rochosa. Não por acaso, o Brasil de 200 milhões de cidadãos responde por 11% dos homicídios de um planeta de 7,5 bilhões de habitantes. Outros números impressionantes: das 30 cidades mais violentas do mundo, 11 são brasileiras.

Pai da cantora Anna Maria Buarque de Hollanda – que foi ministra da Cultura e lá esteve com as suas perninhas muito brancas entre os povos indígenas xinguanos pelo quarup, cerimônia intertribal de cunho religioso e social, ligada ao mito do herói Mavotsinim, em que se celebram os mortos – o historiador Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982) falou do brasileiro cordial em seu livro Raízes do Brasil. Só pode ter pensado no latim medieval cordiãlis ‘relativo ao coração’, pela aptidão dos nossos patrícios para meter a faca ou atirar nos corações dos outros.


Celebridade
Escrevo às 21h28 minutos de um sábado, depois de assistir a uma penca de programas de televisão e de perder a conta dos comerciais estrelados pelo professor Luiz Felipe Scolari, o Felipão, nascido em Passo Fundo, RS, no ano de 1948. Cavalheiro da Ordem Nacional do Mérito, no Brasil, e da Ordem do Infante Dom Henrique, em Portugal, o gaúcho estrela comerciais de tudo quanto se possa imaginar, até de sanduíches de peito de peru. É muito de desejar que no intervalo das gravações ache tempo para pensar na seleção que vai escalar na Copa das Copas.


O mundo é uma bola
8 de maio de 589: Recaredo I convoca o Terceiro Concílio de Toledo. Não faço a mínima ideia de quem foi Recaredo I, mas a Wikipédia existe para desemburrar os ignorantes. Vejo que Recaredo, rei visigodo, era o mais jovem dos filhos das primeiras núpcias de Leovigildo. A exemplo de seu pai, Recaredo fez de Toledo a sua capital. Os reis e nobres visigodos eram cristãos arianos, enquanto a população hispano-romana era católica trinitária. O bispo católico Leandro, de Sevilha, conseguiu converter o primogênito de Leovigildo, chamado Hermenegildo, à fé católica e o apoiou numa rebelião que lhe valeu o exílio e a morte, coitado.

Morto Leovigildo em 586, Recaredo aceitou o catolicismo em 587 e procedeu à conversão do reino à fé de Roma, o que foi confirmado pelo Terceiro Concílio de Toledo em 589. Hoje é o Dia do Artista Plástico, o Dia do Profissional de Marketing e o Dia Nacional do Turismo.


Ruminanças
“A falta de turismo é a ruína mais antiga dos países jovens” (Sofocleto, 1926-2004).

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