sábado, 24 de maio de 2014

Sem cutucar a ferida - Ângela Faria

Estado de Minas: 24/05/2014 



O gaúcho José Mariano Beltrame está à frente do complexo trabalho de implantação das UPPs (Roberto Moreyra/AG)
O gaúcho José Mariano Beltrame está à frente do complexo trabalho de implantação das UPPs

José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, mandou para as livrarias Todo dia é segunda-feira (Primeira Pessoa), autobiografia escrita em parceria com Sérgio Garcia e Eliane Azevedo. Policial federal dedicado ao ofício, o gaúcho narra sua experiência à frente de um dos setores mais espinhosos da gestão pública. A criação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o combate ao tráfico e os bastidores da reocupação de favelas cariocas formam o eixo de Todo dia..., mas o secretário, na verdade, pouco revela. Afinal de contas, ainda está à frente da pasta, e seu livro chegou às prateleiras a poucas semanas da midiática Copa do Mundo.

Segurança pública é tema complexo, sobretudo neste momento em que o país está sob os holofotes do “planeta bola”. Não deixa de ser interessante acompanhar Beltrame em sua labuta diária, mas fica a impressão de que ele – pela liturgia do cargo – evita pôr o dedo na ferida. Vem à lembrança outro volume de memórias, Meu casaco de general (Companhia das Letras), que deu a Luiz Eduardo Soares o Prêmio Jabuti em 2002. Subsecretário de Segurança exonerado pelo governador Anthony Garotinho em 2000, o antropólogo expôs, com todas as letras, as mazelas da polícia e, principalmente, da política fluminense. Driblando o sensacionalismo, ajudou a pôr a segurança pública em destaque na agenda política do país. Apontou erros e ousou sugerir soluções.

Beltrame talvez acertasse melhor a mira se optasse por lançar um livro sobre sua experiência depois de deixar o cargo. Ficou devendo capítulos mais aprofundados sobre temas como o caso Amarildo e a complicada convivência dos agentes destacados para as UPPs com moradores das favelas e traficantes. As milícias, formadas por agentes da lei, também exigem abordagem mais aprofundada. Beltrame deixa a impressão de que não contou tudo o que precisamos saber. Quem sabe, no próximo livro...


TODO DIA É SEGUNDA-FEIRA
• De José Mariano Beltrame
• Editora Primeira Pessoa
• 208 páginas, R$ 34,90

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