quarta-feira, 11 de junho de 2014

Eduardo Almeida Reis-Complicações‏

Complicações 

Tendo sido consensual, houve concordância de pensamentos e sentimentos entre ela, estagiária na Casa Branca, e o presidente dos Estados Unidos 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 11/06/2014




Antes de dormir, num rápido balanço existencial, concluí que não vali nada. Besteira minha, porque não fui tão ruim e acabei perdendo minutos de sono pensando no verbo valer, que hoje, diante do computador e do dicionário eletrônico de que me valho, confirmo que é meio complicado.

Tem uma porção de acepções, todas muito parecidas, e pode ser pronominal, bitransitivo, transitivo indireto, intransitivo e transitivo direto. Sob certo aspecto é melhor do que o verbo trazer, de conjugação irregular, que milhões de brasileiros dizem trago em lugar do particípio trazido: “Se eu soubesse, teria trago”.

Vejamos: amanhã, trago duas caixas de charutos para casa e o leitor já sabe que não trago charutos. Linguinha complicada, sô. Trago duas caixas, verbo trazer; não trago charutos, verbo tragar, no sentido de “inalar a fumaça de”, verbo de origem obscura que entrou em nosso idioma no século XIII, quando a Europa ainda não conhecia o tabaco, mas os europeus já tomavam os seus tragos. Aí, trago é substantivo masculino: “o que se bebe de uma vez, de um gole”. E tem mais um trago, pequena saliência cartilaginosa à entrada da orelha externa, que se cobre de pelos nas idades mais avançadas; trágus.

Tão vendo? Até os lexicógrafos implicam com os idosos ao falar dos pelos em nossas orelhas. Vou parando por aqui, antes de me desavir com o finado Houaiss; gosto de me avir com todos, menos com os petistas.

Aleluia!

Ao denunciar a ladroeira e outros crimes, jornalismo é serviço; ao denunciar o péssimo estado de muitas estradas, jornalismo é serviço; ao prever, ainda que sem sucesso, o tempo que vai fazer amanhã ou depois, jornalismo é serviço, como também é serviço quando recomenda, com pureza de alma e sem qualquer interesse pessoal, um produto da melhor supimpitude.

Zake Tacla, no seu ótimo O Livro da Arte de Construir, que não consigo localizar nas estantes, distingue uma pia de um lavatório. A primeira ficaria na cozinha, enquanto o lavatório no banheiro ou no lavabo. Digo “ficaria” porque o negócio vai de memória para informar ao caro, preclaro e pacientíssimo leitor que implico solenemente com os lavatórios entupidos.

Bolei um ralo difícil de entupir para residência que nunca construí: ralo normal, seguido de tubo de duas polegadas. Fiquei na intenção de construir e não posso jurar que o sistema funcione. Enquanto fica no projeto, venho lutando contra os entupimentos do lavatório do meu banheiro, comprei desentupidor de privada, mandei cortar o cabo e o negócio não funciona direito. Pensei chamar um bombeiro-encanador para passar aquele arame especial, que desobstrui o sistema durante algum tempo. Acontece que não conheço bombeiros por aqui e é chatíssimo saber que há um estranho trabalhando no banheiro que a gente usa.

Eis senão quando, bumba!, uma amiga me falou de um produto chamado Diabo Verde, que mandei comprar, é baratíssimo, a comadre jogou na pia, perdão, no lavatório, e o negócio funcionou à perfeição. Tanto assim que me apresso em informar o leitor, porque jornalismo é serviço, falou?

Ave Monica

Ave, Caesar, morituri te salutant, algo assim como “Salve César, os que vão morrer te saúdam”, frase latina que os gladiadores endereçavam ao imperador antes de começar um combate na arena, cuja primeira citação literária pode ser lida, noutros termos, em Vida de Cláudio XX, de Suetônio (69-141). Frase que também serve, em 2014, como saudação do philosopho para Monica Lewinsky, que vem de elucidar um dos maiores mistérios da história da humanidade. Maior ainda que o Último Teorema de Fermat, objeto de pesquisas durante 300 anos, até ser demonstrado em 1994 pelo matemático britânico Andrew Wiles.

Depois de obter seu mestrado em psicologia social pela respeitada London School of Economics, Monica Samille Lewinsky, em artigo para a revista Vanity Fair, finalmente admitiu que seu relacionamento com o então presidente Bill Clinton, no salão oval da Casa Branca, foi consensual.

Tendo sido consensual, houve concordância de pensamentos e sentimentos entre ela, estagiária na Casa Branca, e o presidente dos Estados Unidos. Até então, isto é, até a publicação do artigo na Vanity Fair, a humanidade pensava que a estagiária, sem autorização de Clinton, abriu o zíper da calça do presidente, afastou a cueca, retirou aquilo que precisava retirar e fez o que deveria ser feito. Só agora soubemos que Bill ajudou na operação e deve ter ficado muito satisfeito.

O mundo é uma bola


11 de junho de 1509: Henrique VIII da Inglaterra se casa com Catarina de Aragão, sua cunhadinha, filha dos Reis Católicos da Espanha. Fluente em espanhol, latim, grego, francês e depois em inglês, Catarina enviuvou de Artur, príncipe de Gales e irmão de Henrique, casando-se com o cunhado.

Catarina tinha virtudes tais como a viuvez, o cunhadio e o fato de ser prima relativamente próxima dos reis da Inglaterra. Mãe de Mary I, da Inglaterra, escapou de ser morta pelo primo, ex-cunhado e marido. Católica, morreu de morte morrida aos 50 anos em 1536. História fascinante que não cabe aqui. Hoje é o Dia da Marinha, véspera do primeiro jogo da Copa das Copas.

Ruminanças

“Jamais o exílio corrigiu os reis” (Béranger, 1780-1857).

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