quarta-feira, 18 de junho de 2014

Eduardo Almeida Reis-Deletei‏

Só um supino idiota pode escrever 277 palavras mais que lúcidas e justificadas, para deletar o texto dias depois

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 18/06/2014





Prudência ou idade? Acho que as duas. O fato é que escrevo esta coluna  por volta das nove da manhã, primeiro charuto acabando, depois de deletar um texto de 277 palavras que estava pronto e revisto para ser enviado. Nele, desci o cacete numa empresa de tevê a cabo citando o nome da arapuca e o desserviço que presta aos seus assinantes. Antes de assinantes, são vítimas. Recorro ao verbo deletar, rubrica informática, só para chatear meu amigo Roldão Simas Filho, o maior ombudsman do Brasil, químico aposentado pela Petrobras no tempo em que a petrolífera tinha acento agudo e diretores honestos. Vale notar que o verbo vem do inglês (to) delete “apagar, remover, suprimir”, derivado do radical latino deletum, supino do verbo delére “destruir, apagar, suprimir”.

Supino, além dos significados que tem nas rubricas gramática e linguística, e do substantivo masculino usado nas academias de ginástica, é o tipo do adjetivo supimpa, puro latim “deitado de costas, voltado para cima”, com uma porção de significados no português moderno, como demasiado, excessivo. Portanto, só um supino idiota pode escrever 277 palavras mais que lúcidas e justificadas, para deletar o texto dias depois. Mas é a tal coisa: a empresa é multinacional, tem um monte de advogados e já entrei numa faixa etária que dispensa processos judiciais. Em off, digo o nome da josta e recomendo aos amigos que fujam dela. Enquanto ao mais, o dia de hoje é uma delícia: véspera de mais um feriadão.

Pisteiro


No programa Pelo Mundo, da Globonews, um vídeo sobre caçadas em Botswana, capital Gabarone, moeda pula, idiomas oficiais inglês e tswana, república parlamentarista independente desde 1966. Desliguei o som porque recebia visita loquaz, que não se interessa pelas caçadas botsuanas, no que faz muitíssimo bem. Até o Jaeci, que conhece mais de 130 países, é capaz de não conhecer Botswana, mais ou menos do tamanho de Minas e com escassos 2 milhões de habitantes.

Conversando com a visita loquaz, observei, com o canto do olho, que um pisteiro mostrava aos caçadores as pegadas de um elefante africano. De espantar seria mostrar pegadas de elefantes indianos, considerando que Botswana fica na África, sem saída para o mar, vizinha do Zimbábue, da Namíbia e da África do Sul. Boa parte do seu território é ocupada pelo Deserto de Kalahari, onde Valesca Popozuda seria muito cobiçada. Glúteos imensos fazem por lá o maior sucesso. Motivo: são reservas de gorduras para que as mães possam sobreviver e aleitar nos períodos de escassez de alimentos. Bechuanos mirins, coitados, beberiam silicone se alimentados pelas senhoras que têm as nádegas siliconadas.

O pisteiro africano recordou-me as caçadas que fiz no Pantanal com o bugre Celestino, puro sangue cadivéu, índio que tinha o curso científico e voltou para o mato. Diagnosticado com cardiomegalia, doença que aumenta o coração, por um cardiologista paulista que esteve caçando por lá, o cadivéu passou dos 90. Era nosso pisteiro nas caçadas em mil novecentos e antigamente, quando o philosopho ainda cursava o científico. Adiantando-se ao grupo de caçadores, normalmente três ou quatro, descia do cavalo, examinava o chão e apontava numa direção murmurando qualquer coisa que a gente não entendia. Ao passar por aquele ponto, fartei-me de examinar o chão sem ver absolutamente nada. Depois de várias horas de caçada, desforrei-me do excelente cadivéu. Adiantei meu cavalo, desmontei, fingi ver uma pegada no chão, apontei numa direção, tornei a montar e tomei rumo. Minutos depois, olhei para trás e lá estava o Celestino afastando o capim daquele ponto para tentar localizar as pegadas que o jovem carioca teria visto.

O mundo é uma bola

18 de junho de 1538: pelo Tratado de Nice, Carlos I da Espanha e Francisco I da França estabelecem uma trégua de 10 anos nas guerras que vinham sustentando entre os seus reinados. Pensando bem, o tratado deve ter sido uma delícia do tipo “vamos parar de brigar durante 10 anos”. Em 1812, os Estados Unidos declaram guerra ao Canadá, Irlanda e Inglaterra, quando os norte-americanos anexam o território da Louisiana e ocupam a Flórida. Sem a Flórida, o que seria dos mineiros ricos? Não existe um que não tenha por lá apartamentos de alto luxo e iates ancorados nas marinas. Tentei ver na Wikipédia como foi a “guerra”, mas não encontrei. Já que o assunto é guerra – e a história da humanidade é uma sucessão delas –, no dia 18 de junho, mas em 1815, a derrota em Waterloo leva Napoleão a abdicar do trono da França pela segunda vez. Em 1908, aporta em Santos o Kasato-Maru, trazendo para o Brasil a primeira leva de imigrantes japoneses. Salvo pela culinária, que detesto e muita gente adora, os nipônicos, seus filhos, netos e bisnetos têm prestado ótimos serviços a este país grande e bobo. Em 1911, fundação da maior denominação evangélica do Brasil, a Assembleia de Deus. É o que diz a Wikipédia, mas prefiro outra, fundada em Juiz de Fora há 25 anos, que não permite crentes depiladas e recomenda o sexo ateravés de um buraquinho nos lençóis. Hoje é o Dia do Químico e da Imigração Japonesa.

Ruminanças


“Nunca houve guerra boa nem paz ruim.” (Franklin, 1706-1790).

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