terça-feira, 17 de junho de 2014

ENTREVISTA ZICO » Galinho corneteiro‏

ENTREVISTA ZICO » Galinho corneteiro Ex-jogador aponta falhas táticas na Seleção Brasileira e não poupa outras equipes do Mundial
Marcos Paulo Lima/Enviado especial

Estado de Minas: 17/06/2014


 (Quinho)

Rio de Janeiro
– Arthur Antunes Coimbra pendurou as chuteiras, mas não a prancheta. Zico não faz parte do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa, mas não perde um lance da Copa do Mundo. Convidado pela Fifa para falar do aniversário de 64 anos do Maracanã, comemorado ontem, o Galinho brincou ao ser abordado pelos Diários Associados e outros jornalistas que acompanhavam o evento. “Rápido que eu tenho que ir para casa assistir a Portugal x Alemanha”, riu, torcendo por um show do melhor do mundo. “Neymar, Messi, Robben, van Persie, Benzema, esses caras todos fizeram gol, só falta o Cristiano Ronaldo”, disse. CR7 ficou devendo na derrota por 4 x 0. Zico não. Na entrevista a seguir, o craque da Seleção nas Copas de 1978, 1982 e 1986, e coordenador técnico em 1998, não fica no muro. Critica a falta de cobertura a Daniel Alves na Seleção, a autossuficiência da Espanha, a retranca da Argentina e agradece a Messi pelo presente antecipado ao Maracanã. Surpreendentemente ele revela até qual é a final dos sonhos, em 13 de julho.

O que achou da estreia da Seleção contra a Croácia?
O Brasil estreou bem, fez um bom primeiro tempo. Mas os jogadores estavam muito nervosos e emocionados depois do Hino Nacional, daquela atmosfera no Itaquerão. Talvez isso tenha feito a Croácia crescer. Mas, depois, os jogadores encontraram tranquilidade para empatar. No segundo tempo, a Croácia estava melhor até o pênalti.

O que precisa ser corrigido diante do México?
O time está equilibrado, mas não gostei de ver o Hulk na esquerda. Prefiro o Neymar por ali, com o Oscar no meio e o Hulk na direita. Oscar fez uma partida linda e o Neymar também. Ainda temos alguma dificuldade de cobertura sobre o Daniel Alves, talvez porque o Thiago Silva não esteja acostumado com isso no Paris Saint-Germain. O Brasil deixou a Croácia cruzar bolas demais.

Até que ponto o Brasil pode sentir um eventual desfalque do Hulk?

Gosto muito dele, mas o Brasil tem a sorte de não depender desse ou daquele jogador.

Você estava no Maracanã domingo. O que achou da Argentina?

Talvez a Argentina do primeiro tempo contra a Bósnia tenha sido diferente da que vi nos dois últimos amistosos. Quando (Alejandro Sabella) mudou, no segundo tempo, se soltou mais e voltou a ser a Argentina a que estamos acostumados. No primeiro tempo, acho que eles respeitaram demais a Bósnia. Mas, com Gago e Higuaín, o time agrediu mais, o Messi entrou no jogo e a Argentina foi mais Argentina. Claro que o time foi beneficiado pelo gol contra, mas gosto de ver a Argentina ousada, criativa e com qualidade. Pode chegar à final assim.

E o gol do Messi?
O Maracanã merecia um gol do Messi daquele jeito.

Qual é a final dos seus sonhos no Maracanã?
A Argentina teve Di Stéfano, Maradona e agora Messi. O Brasil teve Pelé, Garrincha, Ronaldo. Para coroar tudo o que esses dois países fizeram, queria ver Brasil x Argentina.

Amanhã o Maracanã receberá Espanha x Chile. Acredita na reação dos atuais campeões?
Acho que a Espanha não está morta. Tem que deixar a autossuficiência de lado. O gol que o David Silva não fez por querer fazer um gol bonito não pode acontecer em uma Copa. Contra um time como o da Holanda, era para ir ao intervalo vencendo por 2 x 0. Faria toda a diferença.
Por que a Copa está com uma média de gols tão elevada?
Os treinadores adotaram uma filosofia de fazer o gol logo para não correr atrás. Vejo ações ofensivas desde o início. Exceto a Argentina. Ela jogou mais preocupada com a defesa do que com o ataque. Quando soltou mais, as jogadas apareceram. Está todo mundo procurando jogar ofensivamente e isso está fazendo a diferença.

A França é a primeira seleção beneficiada pela tecnologia na linha do gol. Aprovado?

Você não pode ser eliminado por causa de um gol com a mão ou devido a uma bola que não entrou. Eu, que já fui técnico de seleção, não posso trabalhar três anos para ser eliminado com um gol ilegal. A confusão de domingo foi porque a imagem apareceu duas vezes. Na primeira, a bola entrando. Na segunda, a bola sem entrar. Deu a impressão de que a bola não entrou, mas a tecnologia na linha do gol é altamente importante.

Você teme manifestações na final?
Todo mundo tem a liberdade de se manifestar. Sou sempre a favor do futebol. Temos o ano inteiro para resolver nossos problemas.

Está satisfeito com o novo Maracanã?
Para mim, o Maracanã é sempre o mesmo. Não tem Maracanã novo ou velho. Quem acompanha o futebol sabe que essa coisa de estádio para 100 mil, 90 mil pessoas é dos anos 1980. Os times não têm mais os craques capazes de atrair tanta gente assim. Essa é a realidade. Não sou saudosista.

Qual é a maior lembrança do estádio, que completou, ontem, 64 anos?
Tenho 61, nasci quase junto com ele (risos). Minha primeira memória do Maracanã é de 1963, quando vi um Fla x Flu com 177 mil pessoas. O Flamengo foi campeão. Não fazia ideia, então, de que viria a ser o maior artilheiro da história do estádio (333 gols em 435 jogos). Estou feliz em poder ver, hoje, os grandes nomes da Copa, como Neymar, Messi, Robben, van Persie brilhando. Os espetáculos estão ótimos.


O CRAQUE EM CAMPO
333
Número de gols de Zico no Maracanã, em 435 exibições

Em Copas
Como jogador
3 participações (1978, 1982 e 1986)
14 jogos
5 gols
Melhor colocação: 3º (1978)
Como treinador
1 participação (2006)
3 jogos
1 empate
2 derrotas
Colocação: 28º
Como coordenador-técnico
Vice-campeão em 1998 ao lado de Zagallo

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